Por Erlon José Paschoal*
O momento histórico atual exige posições firmes e claras, pois vivemos novamente em tempos sombrios no Brasil, depois de uma tentativa frustrada de construir uma democracia sólida e participativa, atropelada bruscamente por um golpe baixo e sujo. E com o golpe vieram à tona preconceitos e atitudes ultrajantes de nosso passado escravocrata, jogando o país em um estágio civilizatório anterior, escancarando a podridão oculta na vida brasileira e enaltecendo atitudes infames, desrespeitosas, agressivas e cínicas. As quadrilhas de bandidos golpistas assumidos impuseram mudanças que deterioram as relações trabalhistas, desmontam a economia e infectam de morte a Previdência, a espinha dorsal da justiça social. Com o golpe criminoso, associado ao incitamento ao ódio e à violência executado pela mídia manipuladora e mau caráter, a vida pública brasileira virou um vale-tudo, uma “suruba” geral, como afirmou o Caju, e contaminou e contamina as relações sociais. Um retrocesso ético, político e econômico com consequências inimagináveis para as futuras gerações.
O caos, a desordem e o desmanche dos direitos sociais podem levar a conflitos ainda mais sangrentos. Ao mesmo tempo, capatazes e algozes togados medíocres, vigaristas, fraudulentos e mesquinhos ganharam notoriedade, por perseguirem de maneira criminosa e insana um estadista respeitado em todo o mundo e toda a oposição. Pariram assim uma nova ditadura jurídico-midiática comandada por quadrilhas da pior espécie. Enquanto isso o desmanche dos direitos sociais, da democracia, do Estado de Direito e dos investimentos públicos continua a todo vapor!
Para Jessé Souza em sua obra A Elite do Atraso “o golpe trouxe à classe média protofascista o mundo onde pode expressar legitimamente seu ódio e seu ressentimento. O ódio às classes populares é agora aberto e dito com orgulho, como expressão de ousadia ou sinceridade. (....) O mal e o bem estão claramente definidos e o bem se confunde com a sua própria personalidade. Mais ainda. Como nunca aprendeu a se criticar, o protofascista tem uma sensibilidade à flor da pele e qualquer crítica aciona uma reação potencialmente violenta. (....) Essa banalidade do mal não existia antes entre nós. Ela foi criação midiática, ainda que ninguém na Rede Globo ou nas outras mídias, agora, queira assumir a responsabilidade pelo que fez.”
Neste regime de exceção pós-golpe, verdadeiros algozes e capitães do mato sem qualquer respeito às leis mais elementares querem silenciar a voz do maior líder político vivo da América Latina e cidadão do mundo. Um crime contra a História e contra o povo brasileiro que se tornou motivo de indignação mundial. Creio que ninguém imaginou que este golpe fosse tão longe, o que só pode ser explicado pela atuação de agentes estrangeiros treinando mão de obra local para agirem em prol de seus interesses políticos e econômicos, uma vez que as ações, os truques e as técnicas são muito bem tramadas e executadas, por mais cínicas, torpes e abusivas que sejam. Surpreende também não se erguerem milhares de vozes de pessoas influentes na sociedade, independentemente de suas ideologias, contra estas atrocidades antidemocráticas e antinacionalistas. De onde vieram estas pessoas torpes, desonestas e sem quaisquer valores éticos e morais, verdadeiros canalhas que tomaram o país de assalto em todas as esferas de poder? Estavam todos aqui e ninguém havia percebido a extensão e possibilidade destes males? Afinal que fim levaram nossos sonhos de um país soberano, igualitário, justo e democrático?
De qualquer modo, a vida e a luta continuam em prol de uma sociedade mais justa, mais civilizada e mais pacífica. Vamos em frente sempre!
*Gestor cultural, Diretor de Teatro, escritor e tradutor de alemão.