Por Fabrício Augusto de Oliveira*
Os últimos números sobre o emprego no Brasil divulgados pelo IBGE mostram que a situação não anda nada favorável nem para os trabalhadores, nem para o projeto político do presidente Temer. Depois de recuar para 12,2% no trimestre fechado em janeiro, com 12,689 milhões de desocupados, a taxa de desemprego avançou para 12,6% em fevereiro, e atingiu, em março, 13,1%, nível que corresponde a 13,7 milhões de trabalhadores da população economicamente ativa. Ou seja, em apenas dois meses, mais de um milhão de trabalhadores perderam o emprego neste ano.
É bem verdade que tradicionalmente a taxa de desemprego tende a subir no primeiro trimestre do ano, devido à demissão de trabalhadores temporários contratados para as festas de final de ano, mas, além da piora na qualidade do emprego que se tem verificado desde 2015, o nível e a velocidade em que essas perdas vêm ocorrendo é preocupante e desfaz o otimismo do governo sobre o acerto da política econômica para retomada do crescimento econômico e para a geração de empregos.
De acordo com o IBGE, desde 2015, quando as demissões passaram a superar as contratações, a economia brasileira perdeu 2,87 milhões de empregos formais, que foram parcialmente compensados com o aumento do emprego informal. Como consequência, em 2017, o emprego informal, correspondente a 34,2% da população economicamente ativa, superou, pela primeira vez, o emprego formal, este com uma participação de 33,3% no total.
O emprego informal, que tem crescido especialmente a partir de 2015 e da reforma trabalhista de Temer, representa, na verdade, um emprego precário, com baixa remuneração e sem a garantia de direitos trabalhistas, que pouca receita gera para o governo, em termos de arrecadação, além de inibir o acesso ao crédito dos trabalhadores situados nessa categoria. Tanto isso é verdade, que o rendimento do trabalhador não tem sido capaz, nos últimos três anos, sequer de acompanhar os índices inflacionários.
Combinados, o aumento do desemprego com a estagnação e até mesmo recuo, em termos reais, dos rendimentos dos trabalhadores, tornam difícil vislumbrar como algum alento possa ser transmitido para a atividade econômica do consumo das famílias, responsável por cerca de 60% do PIB, e para os investimentos, essenciais para a retomada e sustentação do crescimento.
Não sem razão, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) tem registrado um desempenho pífio da economia neste início de ano, com queda de 0,64% em janeiro e expansão modesta de 0,09% em fevereiro e levado a revisões para baixo das expectativas do crescimento do PIB neste ano, que ainda se encontram em um nível extremamente otimista de 2,7%.
Como a política econômica não tem nenhum coelho na cartola para ser retirado, com o objetivo de reanimar a economia, até mesmo por se tratar de final de governo, e, tendo desperdiçado munição com medidas anticrescimento, caso do congelamento dos gastos primários, redução dos investimentos públicos e reforma trabalhista, só resta ao presidente Temer continuar tentando enganar a população com a ajuda de seus marqueteiros de que colocou o país nos “trilhos”, como não cansa de reafirmar. Para os trabalhadores, a dura realidade de que a recuperação não engatou, a economia continua patinando e de que o desemprego pode continuar aumentando.
Se Temer, assim como o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, contava com o melhor desempenho da economia para dar um salto em seu rastejante índice de popularidade e viabilizar seu nome como candidato às eleições presidenciais do final do ano, recomenda-se começar a deixar de lado essa esperança e a se preparar para enfrentar tempos mais adversos que poderá encontrar pela frente.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social, articulista do Rede em Debates e O Beltrano, e autor, dentre outros, do livro “Política econômica, estagnação e crise mundial, Brasil 1980-2010”;
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