A maioria dos índices que mede a variação de preços no Brasil tem indicado que a inflação ou vem desacelerando-se, ou se mantendo em um nível bastante baixo. Não obstante, o que exatamente isso significa para a Economia Brasileira? Antes de responder a essa questão é importante evidenciar qual tem sido o comportamento da inflação medida pelo IPCA (índice de preços ao consumidor amplo). Como esse é um índice bem abrangente, constitui um dos parâmetros mais relevantes para estabelecer a política de metas de inflação e guiar outras políticas públicas no país.
No decorrer de 2017 houve uma expressiva redução inflacionária segundo esse indicador, dando prosseguimento a uma tendência iniciada no último trimestre de 2016. A inflação acumulada em 2016, segundo o IPCA, foi de 6,29% - portanto, acima do teto da meta da inflação determinada pelo Banco Central, que tem como centro os 4,5%, com tolerância de 1,5% para cima e para baixo -, ao passo que em 2017 a inflação reduziu-se a 2,95% - abaixo do piso da meta inflacionária.
Esse resultado expressa uma desaceleração da inflação e por vezes uma deflação em praticamente todos os segmentos da economia brasileira, com destaque para o grupo de Alimentos e bebidas, que apresentou deflação de 1,5%, em 2017, e que exerce grande peso nos distintos índices, com impactos ainda mais expressivos para a população mais pobre.
Destoa dessa trajetória a evolução dos preços administrados, em particular os da energia elétrica, dos combustíveis, do gás de cozinha, e, com impacto muito menor, mas com variações mais expressivas, dos planos de saúde, que, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2018, acumularam uma elevação de 7,4%, em comparação aos 4,5% acumulados nos 12 meses anteriores.
Ainda em relação ao IPCA, a inflação registrada em janeiro de 2018 foi menor do que a verificada em janeiro de 2017, porém em fevereiro e março de 2018 houve uma pequena aceleração inflacionária, para novamente declinar em abril. De janeiro a abril do ano corrente o acumulado do IPCA foi de 0,92%, pouco menor que o do mesmo período no ano passado (1,1%). Aqui se destacam os grupos: Educação (4,47%), Saúde e cuidados pessoais (2,19%) e Transporte (1,59%) com as maiores altas e Comunicação com uma deflação de (-0,24%).
Evidenciados esses números, passa-se a avaliar o seu significado para a economia do país. Com o discurso de que essa baixa inflacionária é favorável à recuperação econômica, os governantes utilizam desses valores como um indicativo de uma economia saudável e em bom funcionamento. Porém, níveis muito reduzidos de inflação tendem a expressar um baixo dinamismo econômico, e a reforçar esse quadro desfavorável. Não é à toa que o regime de metas de inflação envolve um centro, um teto, mas também um piso. Nesse sentido, compreende-se aqui que a profunda queda da inflação pode não ser um bom sintoma para a economia.
Ao analisar quais fatores influenciaram de forma mais incisiva os índices inflacionários, destaca-se o bom resultado obtido nas safras agrícolas, cujo peso é decisivo dentre os grupos e itens que compõem tais índices - especificamente na categoria alimentos - forçando-os para baixo.
Como contraponto, a alta do petróleo vem levando a reajustes para cima dos combustíveis, elevando os custos por toda cadeia produtiva, atingindo, assim, tanto os preços livres quanto os controlados. Por outro lado, a recente greve de caminhoneiros gerou impactos tópicos de elevação de preços de determinados produtos, podendo repercutir desfavoravelmente sobre os índices de preços de maio.
Sem entrar na discussão sobre a natureza do fenômeno da elevação do preço dos combustíveis, ao catalisar movimentos como a paralisação dos caminheiros revela a fragilidade político-institucional do país, que pode caminhar para situações disruptivas.
Por outro lado, o aumento dos preços do petróleo no mercado internacional traz impactos positivos sobre o desempenho do setor petroleiro, e sobre as receitas de estados e municípios que se beneficiam da produção no país.
Cabe destacar ainda que a alta da taxa de juros dos EUA é outro fator incisivo sobre a economia brasileira nesse momento, pois força a recomposição das aplicações dos ativos financeiros, de modo a atingir moedas débeis, como o caso do Real. Ao longo dos 4 meses deste ano nota-se uma desvalorização cambial que tende a elevar os custos de produção e os gastos com consumo, o que deve pressionar a inflação para cima.
Por fim, destacam-se as incertezas e as polarizações próprias às eleições presidenciais, no segundo semestre deste ano, que criam uma indefinição ainda maior sobre qualquer panorama futuro, impactando especialmente sobre a taxa de câmbio.
Todos esses elementos em conjunto delineiam um cenário de incertezas econômicas e políticas não apenas internas, como também externas.
Adicionalmente, os indicadores de nível de atividade e de emprego evidenciam uma economia atrofiada que opera em ritmo lento, com poucos investimentos e ainda com a manutenção de expressiva capacidade ociosa. Após dois anos de retração significativa do PIB, decaindo 7% nesse período, a economia brasileira cresceu a taxa pífia de 1% em 2017. O desemprego ainda se encontra em níveis significativos, equivalendo, no primeiro trimestre de 2018, a 13,1% da população economicamente ativa do país, ou 13,7 milhões de pessoas (IBGE).
Em síntese, os resultados favoráveis até o momento do ponto de vista do recuo da inflação são muito mais um reflexo da perda de dinamismo da economia e não um sinal de sua recuperação. A ampliação das incertezas no plano interno e externo, em contraposição, evidenciam a possibilidade de reversão dessa queda em função notadamente dos impactos da política de preços de combustíveis da Petrobrás e do comportamento da taxa de câmbio.
IPCA – 2016/2017/2018
Não há comentários postados até o momento. Seja o primeiro!