Aylê-Salassié F. Quintão*
Os partidos políticos não tem a solução para o futuro, nem estão mais sozinhos na travessia da pinguela da história. Enredados nas promessas e fantasias recorrentes, não se parecem preocupar com os 50 milhões de brasileiros na faixa dos 15 a 30 anos - um amontoado de gente jovem, boa parcela desempregada - que, nas redes sociais, reúnem, no Brasil, mais de 100 milhões de internautas. Setenta por cento daqueles que circulam nesse universo são pessoas com um certo grau de informação, e até de politização.
Surgem, nas telas, solitárias e inibidas pelo contexto político, mas tem potencial para inspirar mobilizações de grandes efeitos e consequências. Nesse espaço não existem líderes carismáticos, nem partidos tentando abocanhar essa massa de aparência amorfa, que aflora angustiada com ideias, com críticas e indignação. Ela se movimenta rápido de cima para baixo, um lado para o outro e, alguns, até no submundo.
Tratam-se de milhões de sujeitos conectados via Twitter, Facebook, Google, Linkedin, App.net, Identi.ca, What´s up, com potencial bastante para, em 24 horas, fazer uma mensagem chegar aos indivíduos, em qualquer parte do País. Ao abrigo das redes sociais, opiniões individuais podem, repentina e autonomamente, inspirar mobilizações de grandes efeitos e causar muitos estragos, como se viu em passado recente.
O quadro coloca para os partidos políticos convencionais o dilema, ainda pouco explícito, sobre o caminho a seguir. Tanto eles quanto os seus candidatos insistem em transitar por um emaranhado de casuísmos, distanciando-se dos anseios da população. Este perfil faz emergir enormes preocupações com os destinos de um País periférico, como o Brasil, sem um projeto histórico de Nação, cuja população convive ainda com uma multiplicidade de concepções de mundo, nenhuma surgida da realidade vivida pelos cidadãos originados por aqui mesmo.
As sucessivas constituições não conseguem fincar as raízes do povo brasileiro, nem dar uma cara nova à organização da sociedade. Os partidos, na forma como se organizam e se apresentam, não parecem ter a solução para gerir diferenças e democratizar o acesso ao bens comuns. Há 100 anos, aproximadamente, a política é conduzida somente por esses simulacros partidários, quase propriedades particulares, à procura das “coisas públicas” para se apropriar .
Ao sublimarem o Estado como solução para todos os males, - independente das ideologias correntes - introduzem o fisiologismo oligárquico e anárquico, amarrando seus interesses em convenções jurídicas convenientes, dificultando a compreensão, dentro das próprias agremiações, sobre o que é melhor para os brasileiros .
Reduzir o número de partidos é uma panaceia ilusória. Minha geração aprendeu que todas as organizações e partidos políticos deveriam estar em permanente reflexão, fazendo sistemáticas autocríticas. Mas, somente um ou dois deles tem credibilidade para isso. Outros, seguem ortodoxias inibidoras, como se o mundo estivesse parado. Fazem com que a militância se movimente dentro de uma zona de conforto. E, assim, tudo que é sólido vai se desmanchando no ar. Poucos conseguem ir além.
Há uma mudança de cenário, não propriamente rejeitada, mas incompreendida. As gerações conectadas caminham na direção de novos paradigmas . Trazem consigo mecanismos de acesso inusitados, cuja eficácia sugere a adoção de governos digitais, forças armadas digitais, ciências digitais, comércio digital, igreja digital, livros digitais, jornais e tvs digitais e inteligência artificial.
Esses monstros digitais, invisíveis pelos partidos e candidatos, estão engolindo os empregos e vão terminar por extinguir também a abundante figura de ministros e parlamentares. Este pessoal atravessa, de fato, uma pinguela da História. Os conectados têm autonomia para corroer as bases institucionais de uma comunidade, de uma linha de produção, ou de um País, como um vírus compartilhando problemas e soluções dentro do um espaço que eu chamo de parlamento digital.
*Jornalista, professor, doutor em História Cultural