Por Prof. Dr. Gustavo Moura*
Após uma contundente queda, que se inicia no final de 2016 e se prolonga até o início de 2018, a inflação brasileira, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, mostrou uma tendência a fechar o ano próxima ao centro da meta inflacionária. O acumulado do IPCA até o mês de setembro de 2018 foi de 3,34%, muito maior que o verificado no mesmo período de 2017, que foi de 1,77%, e superior inclusive ao acumulado de todo o ano, de 2,95% (abaixo do piso da meta, por conseguinte).
Como se sabe, a referida queda da inflação deveu-se, em grande medida, à crise econômica brasileira, que levou a um retrocesso de mais de 10% do PIB per capita entre o início de 2014 e o final de 2016, e ao bom desempenho do agronegócio, que registrou safras recordes nos últimos anos. Ao contrário, a aceleração inflacionária deste ano foi causada principalmente pela greve dos caminhoneiros, pela forte desvalorização do real, ocorrida até certa altura do pleito eleitoral, e pela elevação dos custos de energia elétrica e de combustíveis, com destaque para a gasolina e o diesel.
Cabe destacar que esses fenômenos tiveram particular impacto sobre os produtores, conforme atesta o Índice de Preços ao Produtor Amplo, medido pelo IBRE-FGV, que registrou uma alta de 11,36% entre janeiro e setembro de 2018. Diga-se de passagem, os custos mais elevados para os produtores tendem a ser repassados aos produtos finais, podendo eventualmente repercutir nos índices de preços ao consumidor.
Por outro lado, nas últimas semanas houve uma expressiva valorização do real, em decorrência do resultado das eleições presidenciais, o que tende a baratear os referidos custos de produção. Isso porque a indústria brasileira é bastante dependente da importação de equipamentos e insumos relevantes, o que é ainda favorecido pelas medidas tomadas pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) neste ano, eliminando tarifas para importação de bens de capital e de informática.
Como se sabe, a trajetória inflacionária para o próximo período depende do desempenho geral da economia brasileira (e mundial); logo, com a mudança de governo, em curso, e as turbulências internacionais, das quais a guerra comercial deflagrada pela gestão Trump é expressão, torna-se temerário realizar uma previsão para o próximo ano.
*Coordenador do subgrupo Inflação – Grupo de Conjuntura UFES
Não há comentários postados até o momento. Seja o primeiro!