Por Daniel Pereira Sampaio *
De acordo com os dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) o saldo comercial da economia brasileira, no acumulado de janeiro a novembro de 2018, foi de US$ 51,7 bilhões, valor 16,7% inferior ao mesmo período do ano de 2017. Esse resultado foi obtido por meio de um crescimento das importações mais do que o dobro do que das exportações.
Deve-se destacar a desvalorização da taxa de câmbio efetiva real da moeda brasileira em 9,16%, comparando-se os meses de outubro de 2017 com 2018. Essa elevação da taxa de câmbio pode estar relacionada com a continuação da política de elevação das taxas de juros da economia norte-americana, que drena para si investimentos internacionais.
Qualquer livro introdutório de economia lembra que uma desvalorização cambial tende a estimular as exportações e desestimular as importações, pois os nossos produtos ficam relativamente mais baratos no resto do mundo, e os produtos por nós importados ficam mais caros no Brasil. Como resultado desse movimento, o saldo comercial, que é a diferença entre exportações e importações, tende a se elevar.
Porém, como visto acima, mesmo com uma desvalorização cambial, houve crescimento elevado das importações e piora do saldo comercial. O que pode explicar uma elevação das importações mesmo com a desvalorização cambial? A análise de conjuntura nos auxilia a levantar e buscar explicar aspectos como esse que podem ser entendidos como curiosos para a economia brasileira no período recente.
Dentre os produtos exportados cabem destaque os de mais baixo valor agregado, os chamados produtos básicos, que no período analisado elevaram-se em 16,3%. Dessa forma, os produtos básicos elevaram sua participação na estrutura das exportações totais de 46,4% para 49,6%. Esse resultado demonstra o avanço da reprimarização da pauta exportadora brasileira. Os produtos manufaturados tiveram bom desempenho, com crescimento de 8,9%, mesmo com o agravamento da crise econômica de grandes parceiros comerciais nesse ramo, como a Argentina.
Por outro lado, as importações tiveram crescimento em todos os grandes grupos econômicos. Chamou a atenção o crescimento de 13,0% dos bens intermediários, que são utilizados como insumos produtivos. Além disso, também pode ser destacado o grupo dos combustíveis e lubrificantes, com elevação de 24,6%, que pode ser explicada pela manutenção da política de preços da Petrobrás.
Em que pesem estes movimentos de crescimento nas importações, cabe destaque ao setor de bens de capital que teve crescimento de 84,3%. Este crescimento pode estar relacionado com a redução temporária das tarifas para a importação, de 16% e 14% para zero de bens não produzidos no Brasil, nos setores de: i) bens de capital, principalmente máquinas e equipamentos (Resolução nº 61), e ii) bens de informática e telecomunicações (Resolução nº 60). Segundo o MDIC, estas medidas foram tomadas com o intuito de promover o investimento no país, barateando a importação de bens de capital.
Os dados demonstram que a queda do imposto de importação pode ter compensado a desvalorização cambial, tendo como resultado final o barateamento das importações nos setores que foram beneficiados. A importação de bens de capital é um termômetro que sinaliza a dinâmica do investimento. Porém, deve-se considerar que a importação de máquinas e equipamentos não garante, necessariamente, a retomada do investimento e da trajetória de crescimento, bem como a transferência internacional de tecnologia. Ou seja, reforça a ideia de que houve aumento da dependência que a economia brasileira tem, relativamente ao mercado internacional, para possíveis retomadas de seu crescimento.
* Professor, Doutor em Ciências Econômicas e Coordenador do Subgrupo Setor Externo do Grupo de Conjuntura – UFES.
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