Da Redação
O título acima é o da matéria de Herton Escobar na Revista Piauí de 08 de Fevereiro, 2019 (https://piaui.folha.uol.com.br/debaixo-da-ilha-das-cobras-um-tesouro-biologico/). O competente jornalista em divulgação científica, até pouco tempo enriquecia o jornal Estado de São Paulo, hoje está na assessoria de difusão científica da USP, mas manteve seu faro antenado alhures para novidades importantes. É o que trouxe na matéria da Revista Piauí.
Na matéria do Herton ele comenta uma curiosidade e uma descoberta. A curiosidade é por conta do cenário da descoberta que é a ilha de Queimada Grande, ou ilha das cobras, litoral sul de São Paulo. Ela é chamada assim porque lá vive uma grande população de cobras, densidade de 55 indivíduos por hectare, de uma única espécie com um veneno muito forte. As proposições científicas são de que há alguns milhares de anos aquele espaço fazia parte do continente e com a mudança do nível do mar tornou-se ilha. As cobras que ali ficaram evoluíram e formaram a espécie hoje denominada jararaca-ilhoa, que se alimentam de ave marinha (claro tiveram que encontrar alternativas por que não havia roedores na ilha), cuja morte acontece com seu potente veneno, antes de conseguir voar.
Quanto à descoberta, vamos registrar aqui nas palavras do próprio Herton: "Pesquisadores marinhos descobriram recentemente que a parte submersa da “ilha das Cobras” também abriga um tesouro biológico único: um recife de corais de 75 mil metros quadrados, também formado por uma única espécie, chamada Madracis decactis, com milhares de anos de idade e povoado por uma grande diversidade de organismos marinhos.
Segundo os cientistas, é o recife de corais mais austral do oceano Atlântico – cerca de 1 mil quilômetros ao sul do Banco dos Abrolhos, no sul da Bahia e norte do Espírito Santo, cujos recifes detinham esse título até agora. Além de ser o único recife formado exclusivamente por M. decactis de que se tem notícia no mundo. Tudo isso a apenas 12 metros de profundidade, no lado mais visitado da ilha – não só por cientistas, mas também por turistas, pescadores e praticantes de caça submarina –, no quintal oceânico do estado mais cientificamente ativo do país.
“É um negócio que sempre esteve lá, na cara de todo mundo, mas ninguém tinha visto”, diz o pesquisador Guilherme Pereira Filho, do Laboratório de Ecologia e Conservação Marítima (LabecMar), do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, em Santos. Foi ele quem notou o recife pela primeira vez, em março de 2015, durante um mergulho com o colega Fabio Motta. O objetivo era iniciar um trabalho de monitoramento da fauna marinha da região – que deu certo e continua sendo feito até hoje –, mas Pereira Filho acabou notando que havia algo diferente ali. A descoberta foi mantida “em sigilo” até recentemente, para que os cientistas tivessem tempo de mapear e descrever o recife adequadamente, antes de atrair atenção para ele. “Tínhamos muita preocupação com descrever algo que realmente se encaixasse no conceito de recife de coral, para publicar com solidez e não correr o risco de ser contraprodutivo para a ciência ou a conservação”, conta Pereira Filho.
A análise de uma amostra de 1,5 metro de profundidade do recife indica que ele tem pelo menos 5 mil anos de idade, e que sua taxa de crescimento (ou acreção) diminuiu muito nos últimos 2 mil anos, chegando próximo de zero nos dias atuais, por conta das condições ambientais menos favoráveis, entre elas a turbidez e baixa temperatura da água no inverno, já que os recifes de coral são ecossistemas típicos de águas quentes e transparentes. Um experimento está em andamento agora para medir exatamente qual é essa taxa, utilizando um sistema conhecido como CAU (Unidades de Acreção de Calcificação, em inglês), que são placas de plástico presas ao substrato marinho, para serem colonizadas pelos mesmos organismos calcificadores que constroem o recife. Analisando o que cresce nas placas ao longo do tempo, é possível estimar o quanto o recife está crescendo, ou não."
Certamente essa descoberta proporcionará muitas outras pesquisas buscando compreender o por quê dessa evolução em uma ambiente inesperado e, principalmente quais serão as lições para a preservação do no nosso sistema. Parabéns para os cientistas e para o jornalista.
Foto utilizada: de Herton Escobar, também na matéria citada.
Não há comentários postados até o momento. Seja o primeiro!