Por Erlon José Paschoal *
Da necessidade de se distanciar um pouco das redes sociais – mas sem eliminá-la – e conversar, discutir, debater presencialmente com as pessoas sobre temas relevantes da realidade brasileira e, sobretudo, acerca das relações entre Arte e Política, é que surgiu a proposta de se criar um agrupamento de indivíduos afins para se levar adiante este impulso, esta disposição. Em um momento politico, em que o país está sendo comandado por milícias com tendências claramente fascistas, retrógradas e fundamentalistas, disseminam-se na sociedade idiotices e imbecilidades para que a população fique ocupada em pensar sobre estas sandices - tais como se a Terra é redonda ou não, se menino deve usar rosa ou azul, se o nazismo é de esquerda e outras asneiras mais -, por isso, é preciso concentrar-se no essencial, naquilo que de fato é importante para o desenvolvimento social, político e cultural do indivíduo e do país.
O pano de fundo destes debates, sem dúvida, é o desmanche dos valores que compõem a democracia brasileira, atacada nos últimos anos por uma horda de indivíduos violentos manipulados pelas mídias massificadoras e por “forças ocultas”, que querem impor uma nova ordem na América Latina. O que pressupõe obviamente a tentativa de compreender o significado da pós-verdade neste nosso mundo dominado pelas redes sociais e pelas novas formas de comunicação e de disseminação rápida de informações, tendo como eixo central no nosso caso sempre a Arte e a Política, entendida aqui como a vida na “polis”, a organização social e o progresso coletivo.
Várias pessoas colaboraram e colaboram para que estes encontros aconteçam periodicamente e mobilizem os possíveis interessados em participar destes debates que visam refletir sobre as intersecções entre estas duas áreas das relações sociais, da criatividade e do fazer humano, mas sempre focando em uma linguagem ou aspecto de uma manifestação artística. O primeiro encontro aconteceu na FAFI com foco em Cultura e Artes Cênicas; o seguinte no MUCANE com foco em Diversidade Cultural como Resistência; o terceiro na BPES, com o foco em Literatura Engajada; o quarto na Casa Porto das Artes Plásticas com foco em Artes Visuais e Crítica Social; o quinto no Departamento de Música da UFES, com foco em Música como Protesto e Reflexão; o sexto no MAES, com foco na Arte Digital, Novas Mídias e Crítica Social e o último do ano teve como palco a Casa da Stael, no centro de Vitória, com foco em Arte de Rua e Crítica Social.
De Maio a Novembro foram, enfim, sete encontros em espaços culturais diferentes da cidade, que reuniram mais de 200 pessoas interessadas em trocar ideias e aprofundar seus próprios pensamentos acerca do tema, em contato próximo com o Outro, e retomar o prazer de estar junto, para tentar entender melhor as diversas vertentes e possibilidades da arte e os rumos políticos e sociais que o país vem tomando nestes últimos anos, sob a influência de milicianos e medievalistas da pior espécie. Trata-se de um momento difícil no qual a barbárie, a imbecilização e a idiotização de grandes camadas da população se impõem através de políticas neoliberais com o objetivo de efetuar o desmanche da democracia e dos direitos sociais, e acumular as riquezas nas mãos de poucos, disseminando e naturalizando para isso práticas tipicamente fascistas.
O público presente nestes encontros tem sido diverso e heterogêneo, e mostrou-se sempre atento e participativo, com muita vontade de compartilhar conhecimentos, experiências e saberes. O tom é sempre de uma conversa descontraída, mas sem resvalar para o superficial; de uma abordagem profunda, mas sempre calcada na prática, sem abstrações extravagantes. Por todas estas razões ficou evidente que prosseguir com esta proposta é imprescindível atualmente, que realizar novos encontros realmente vale a pena.
É preciso debater, é preciso estar junto, formar grupos, exercitar o pensamento crítico, para entender melhor a arte e a conjuntura política brasileiras. Quem quiser colaborar virtualmente com textos, sugestões e ideias acesse a página https://www.facebook.com/radicaislivres19.
Em 2020 serão vários encontros. Participe!
* Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.