Por Fabrício Augusto de Oliveira*
Depois de ridiculamente “noivar” com Bolsonaro, Regina Duarte, conhecida, quando jovem, com namoradinha do Brasil, de olhar meigo, mas ingênuo, a ele se uniu na convocação da população para marchar contra a democracia, manifestando seu apoio ao presidente e a aprovação de atos contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), visando desmoralizá-los, duas instituições essenciais para o equilíbrio democrático.
Enquanto estava posando apenas de “noiva” convidada para ocupar um cargo no Ministério da Cultura, até se justificava, apesar de frágil, a defesa que alguns de seus colegas de profissão faziam de suas posições retrógradas e reacionárias, por que se sabe muito bem que o mundo infelizmente não é povoado apenas por pessoas dispostas a melhorá-lo, mas também – e essas não são poucas – por aquelas que preferem transformá-lo em um inferno para preservar seu status e garantir seus interesses pessoais, embora vendendo-os como se tratassem de interesses coletivos.
Ao convocar a população a sair às ruas no dia 15 de março para defender a instauração de uma ditadura, Regina Duarte parece ter perdido, de vez, o que lhe restava do bom senso, se este ainda existia, que alguns colegas ainda lhe atribuíam e revelado sua verdadeira face de amante dos regimes de exceção, o que deve levá-la a perder o apoio, ainda que parcial, mesmo de sua torcida inicial no campo artístico, já que vários atores, atrizes e artistas, em geral, comungam e apoiam cegamente as ideias bolsonaristas.
Nenhuma economia resiste aos seguidos solavancos provocados pelas falas inconsequentes das maiores figuras da República, caso do presidente, Jair Bolsonaro, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não medem esforços para tumultuar e instabilizar o cenário econômico e político.
Enquanto o primeiro não entendeu, até hoje, a responsabilidade e a liturgia do cargo que ocupa, achando que pode tudo, que governa apenas para a minoria de seus apoiadores e cobra da população a adesão à sua ignorância civilizatória, o segundo não fica atrás no campo da economia e, seguindo os passos do mestre e Chefe, vê inimigos por toda a parte atuando contra a sua política econômica (sic), lançando seguidos ataques com menosprezo a trabalhadores, funcionários públicos, empregadas domésticas, governadores e também aos valores democráticos. Não se encontram sozinhos nessa cruzada, num governo apinhado de militares da reserva, que ganharam cargos em final de carreira, de ministros malformados e despreparados, de políticos fisiológicos que vendem a alma em troca de ganhos fáceis e dos filhos do presidente que com ele governam em total deslumbramento com os regimes de exceção. A essa turma se junta, agora, a ex-namoradinha do Brasil, convocando e marchando à frente do pelotão dos atos contra a democracia, defendendo que os mesmos são necessários para salvar o país. Uma lástima.
No último dia 26, após a divulgação do vídeo em que o presidente convocou sua turma para os atos contra a democracia, a bolsa de valores no Brasil caiu 7%, uma queda que não ocorria desde 17 de março de 2017, quando foi divulgada a conversa do ex-presidente Temer com Joesley Batista, enquanto a cotação do dólar atingiu o nível inédito de R$ 4,44. Boa parte dos analistas de mercado interpretaram essa situação como resultado das expectativas criadas sobre as consequências do Coronavírus para o crescimento da economia mundial, o que, em parte, têm razão, mas não consideraram os efeitos da convocação feita por Bolsonaro e seus parceiros de aventura – Regina, Augusto Heleno, ministros, entre outros, deputados fisiológicos e filhos -, os quais lançaram ainda mais lenha numa fogueira já inflamada, para seus apoiadores saírem às ruas e protestarem contra o Congresso e o STF. Ao desrespeitar a Constituição e a democracia, Bolsonaro abriu, ele próprio, as portas para receber um pedido de impeachment, o que, como se verificou nos mandatos de Dilma Rousseff e Michel Temer, tende a acarretar uma paralisia da política econômica e travar as reformas mais importantes para o país sair do atoleiro em que se encontra, retirando o pouco oxigênio que ainda resta na economia.
Para os que entendem de economia, que não são muitos, as expectativas dos agentes econômicos desempenham papel fundamental na dinâmica do sistema e, se o sistema se encontra contaminado por incertezas sobre o futuro, dificilmente serão dadas respostas por parte do empresariado em termos de investimentos, essenciais para o crescimento econômico, devido ao aumento dos riscos. Não à toa, o nível de investimento bruto tem oscilado no Brasil, nos últimos anos, em torno de 15% do PIB, um nível ínfimo para um país que precisa voltar urgentemente a crescer não somente para esvaziar a fila do desemprego que se mantém acima de 11%, mas também para diminuir o abismo – industrial, tecnológico etc. – que o separa principalmente das economias mais desenvolvidas. As falas de Bolsonaro, que pouco liga para a economia, juntas com as de Paulo Guedes, que diz conhecer, mas vive atropelando o mercado, parecem revelar o descompromisso geral do governo com essa questão, crucial para a sociedade brasileira.
Se o mundo com que sonha Regina Duarte é o mundo que Bolsonaro vem trilhando e, com sua equipe tentando, felizmente sem sucesso, impor ao Brasil, não é bem o mundo que, diferentemente da defesa que faz de seu capitão, interessa a parcelas altamente expressivas da população, na diversidade de sua cultura, ideologia, religiosidade e da necessidade de manter acesa a esperança de dias melhores, com mais emprego, melhores salários e maior liberdade. É apenas o mundo das trevas. Ao defendê-lo e encampar propostas antidemocráticas, Regina Duarte continua firme em sua trajetória de longo declínio rumo ao ostracismo e, ainda com o “piegas” título de ex-namoradinha do Brasil, possivelmente deve encontrar reconforto nos braços da ministra Damares, inimiga dos direitos humanos.
*Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “Governos Lula, Dilma e Temer: do espetáculo do crescimento ao inferno da recessão e da estagnação (2003-2018”.
Foto: http://infolitiko.com/index.php/2020/01/22/regina-duarte-almoca-com-jair-bolsonaro/
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