Por Guilherme Henrique Pereira*
Há anos que os colegas economistas me incomodam quando fazem afirmações categóricas ou apresentam previsões sobre variações do PIB ou do emprego durante o ano. Afirmações do tipo: “a queda da taxa de juros em zero vírgula qualquer coisa por cento é fundamental para conter o surto inflacionário”; “diante do novo nível de preços de petróleo as previsões de crescimento devem ser revistas de 2,1% para 2%.” Do ponto de vista quantitativo, as afirmações já chamam atenção pela precisão. Diante de grandezas medidas em trilhões, que diferença faz zero vírgula qualquer coisa por cento. Na verdade, isso me parece apenas uma pretensiosa sugestão de que os economistas dispõem de um modelo matemático poderoso que lhes permite ver o futuro.
Há outras afirmativas que são de natureza qualitativa: “a reforma da previdência tem que ser aprovada para destravar os investimentos.” Na medida que o processo avançava no Congresso, o índice de valorização das ações em Bolsa dava saltos, embora seja difícil encontrar uma linha tão direta e imediata de impacto. O mesmo era dito em relação a reforma trabalhista. Pois bem, essas reformas foram aprovadas e o que aconteceu com os investimentos ou crescimento do PIB?
Se todo mundo, em dado momento acreditar na previsão e se comportar conforme sugerido, é óbvio que o previsto poderia até acontecer. O que se chama profecia autorrealizável. Mas, sempre há elementos novos e perturbadores em algum lugar do mundo, mesmo que nada tenha a ver com o assunto, mas serve de desculpa pela não materialização do previsto.
Cada vez fica mais claro que tais previsões, supostamente saídas de supercomputadores e uma inteligência artificial infalível, não se realizam. Embora sejam convenientes para quem fez o discurso o tempo todo e conseguiu aprovar o que pretendia.
Na ilustração deste artigo temos um gráfico mostrando 10 anos de previsão de crescimento do PIB brasileiro realizada em janeiro de cada ano, comparada com o resultado de fato alcançado. Conforme observado, nos 10 anos do registros não houve um acerto sequer. Isso prova, mais uma vez que o velho Keynes, pelo menos neste caso, está com toda a razão quando ensina que a economia capitalista é incerta, não do tipo probabilístico, mas por absoluto desconhecimento do futuro. Bilhões de decisões simultâneas e independentes – por capitalistas e consumidores - que não permitem prever o futuro.
No entanto, a ciência econômica é muito útil ao nos proporcionar uma compreensão do mundo em que vivemos. Já nos demonstrou, por exemplo, a tendência do sistema para produzir desigualdades na distribuição da riqueza produzida; E, se nada for feito de políticas efetivas de melhoria na distribuição dos recursos, tal tendência, no longo prazo, levará o sistema para instabilidades. Mas, não permite prever quando, nem as taxas eventuais de crescimento ou de recessão durante o percurso.
O mais interessante é que a maioria fica inebriada pelo sonho de controlar o caminho, em suas conjunturas de curto prazo, de onde derivam políticas equivocadas e cada vez mais distantes de alcançarem o que prometem.
Neste momento histórico o Brasil é um bom exemplo. Um governo que sequer sabe construir desculpas plausíveis para a frustração geral de também, como os anteriores, errar feio na promessa de fazer o PIB crescer 2,5% - com as reformas da previdência e trabalhista – e a economia, na verdade, alcançar apenas 1,1% em 2019. Mesmo assim, continua insistindo que precisamos de mais reformas, agora se fala em tributária e administrativa.
Definitivamente errará de novo. Tais reformas não deveriam ser as prioridades do Governo. Até podem conter alguns dispositivos necessários para maior leveza de nossas relações de negócios, mas, não produzirão crescimento. Também a focalização no controle dos gastos e investimentos públicos, com mais força ainda, empurrará o Brasil para a recessão.
E não adianta culpar o vírus do noticiário atual. A saída é mudar o foco, em vez de cortar gastos, ampliar os investimentos públicos em serviços e infraestrutura, com certa prioridade para a infraestrutura de produção do conhecimento e aquelas facilitadoras dos investimentos privados inovadores.
* Economista e Professor.
Foto/Gráfico: do Blog de Helio Gurovitz - G1 Mundo