Por Erlon José Paschoal *
Como fazer o teatro participar deste momento histórico importante e único, onde duas terríveis pandemias nos afligem? De um lado, o coronavírus isolando a todos e impedindo os eventos coletivos; de outro, o bozonavírus que agride, ataca e desqualifica a cultura, as artes, os direitos sociais, os direitos humanos e os valores democráticos. Nesta intensidade, a pandemia atinge a atividade teatral de maneira profunda, como um tiro de escopeta, e obviamente também a todos os eventos públicos, ao mesmo tempo em que integrantes do governo de milicianos expressam abertamente seu ódio pela cultura, pelas artes, pela educação e pelos artistas.
Estamos ilhados, mas ainda podemos nos comunicar virtualmente e elaborar ideias, propostas e ações, para quando se afrouxarem as medidas de quarentena, e pudermos novamente construir projetos coletivos presenciais e lutarmos por um tratamento mais justo e mais democrático para todas as atividades artísticas e culturais.
Para isso é preciso se unir – como nunca antes em nossa História -, pois sozinhos não chegaremos a lugar nenhum. E juntos projetarmos um futuro para o teatro em uma sociedade transformada em todos os níveis por estas pandemias e por esta degeneração dos valores humanos, no Brasil dominado ainda por milícias da pior espécie.
A produção teatral é muito sensível a qualquer crise econômica, porque tem dificuldade para se autofinanciar e sobreviver sem o apoio e o investimento estatal, através de políticas de fomento e de incentivo as mais diversas. Neste momento, os equipamentos culturais também se veem abandonados à própria sorte, sem qualquer aceno do poder público para que possam pensar em uma retomada das atividades, em um futuro ainda incerto, em que pese a aprovação da Lei de Emergência Cultural Aldir Blank (PL1075/2020), que ainda precisa ser sancionada e implementada, de acordo com critérios estabelecidos por Estados e municípios. O projeto prevê uma ajuda de R$ 3 bilhões aos municípios, Estados e Distrito Federal, que deverão aplicar o repasse “em rendas emergenciais aos trabalhadores do setor cultural, para manutenção de equipamentos e chamadas públicas, realização de cursos, produções audiovisuais, prêmios e manifestações culturais”. Os valores deverão ser repassados pelo governo federal em até 15 dias após a aprovação da lei. Vamos acompanhar com bastante cuidado a sua execução e os seus resultados, a curto e a médio prazo, já que o isolamento social ainda pode prosseguir por vários meses.
Sabemos que as “lives” e outros formatos virtuais foram um caminho encontrado, no caso do teatro, para se tentar inventar uma maneira de se manter vivo, mas que não têm como se sustentar por muito tempo. Mas uma coisa é certa: o teatro só vai continuar existindo se as pessoas puderem se juntar e estarem próximas umas das outras novamente. Esta é a grande força e beleza do teatro. O teatro terá de ser crítico, visceral, envolvente, humano e tocar o coração e a mente das pessoas. Até lá temos de debater e elaborar caminhos possíveis neste momento difícil da História do país e do mundo!
Vamos ampliar e amplificar este debate, pois se existe alguma saída, ela só pode ser coletiva. Como apoio criamos a página “A Arte Teatral” https://www.facebook.com/groups/1073600889384029/ Participe!!
* Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.
Foto: “Quixotinadas”, espetáculo montado pelo Grupo Vira Lata de Teatro, em Vitória- ES
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