Por Ester Abreu Vieira de Oliveira
O Professor Francisco Aurélio Ribeiro, escritor consagrado, que brinda ao público capixaba, há tempo, quinzenalmente, em A Gazeta, com saborosas crônicas, Presidente de Honra da Academia Espírito-santense de Letras, pesquisador, crítico literário, anualmente lança livros infantis e infanto-juvenil, de contos, de crônicas, e de ensaios, mas, escassamente, apresenta a sua veia poética.
Em 1997, lançou o livro de poesia Vida vivida, publicação do IHGES. No poema “Não sou”, (p. 9) declara: “não sou poeta./ poeta é o Nejar/ a Denny/ o Berredo/ a Magda/ o Valdo – profeta/ o Miguel – mar(a)villa./ cometo versos/ como qualquer um/ que engole as palavras/ e as regurgita/ numa massa vital/ que impele vive. [...]” Mas, não pretendo falar hoje desse livro que o poeta mostra seu conhecimento do mundo viajado e de sua vida de leitor e de indivíduo que deseja um renascer: “[...] Brotar na primavera/ Os dia passam inúteis/ e a inutilidade da vida/ se transforma em dolorosa/ carga a transportar./ Do outro lado parece haver sol,/ vida, luz, água/ e, azul [...]. (p, 51)
Desejo falar da veia poética desse cronista/poeta no poema “De olvidos y exclusiones”, “pérola de poema”, como costuma classificar Humberto Del Maestro, um bom poema, foi mentalizado na Califórnia, quando Francisco foi a um congresso e eu não pude ir e lá se lembra de mim e de meus conhecimentos culturais.
Sob o sol da Califonria/ `Stamos us`/ Demasiados lúcidos/ Para edificar um reino/ do outro mundo,/ Este é o mundo,/ não o de Vichy, a visionária de Yosemite,/ ou o da `chinita que se perdió`, no bosque,/ aqui, acolá, ou em Modesto,/ onde o segurança tem o poder/ de impedir quem queira de entrar,/ mesmo que seja só para olhar; / ou o poder de ter duas mulheres/ só para si, sem nada repartir.
Ler e viajar são o hoby predileto de Francisco. Leitor incansável, com um bom livro devorado semanalmente, e com um número de países visitados ultrapassando, há muito, os cem, em seus textos deixa refletir seu conhecimento do mundo que visitou e dos livros que leu e por isso conclui: “E a vida não é, tão somente,/ a arte de esquecer./ é a memória que nos faz viver.”
Nesse extenso poema, com 54 versos e datado de 17/07/1998, Turloch, Ca, publicado em 2004, o poeta filosofa, recorda, informa, identifica-se com os excluídos, aponta o abuso do poder, mostra-se, em fim, o leitor esmerado, o professor de literatura e exímio escritor da re-escritura: “A palavra é redescoberta/ bem vinda,/ relida/ouvida/sonhada/ Repetindo ad infinitum/ Imagens e projeções/ de outros tempos e lugares”. Na metáfora do espelho, o poeta mostra a sua amargura: “A vida é um espelho/ Cuja imagem somos nós// excluídos de todas as partes.”
Há pessoas como o Francisco que atuam deixando num recanto do coração um espaço para defender o outro e pensar nele, pois “A vida não é tão somente a arte de esquecer; É a memória que nos faz viver”, diz o poeta. Obrigado, Chico, por seu inesgotável carinho.
* Profª Emérita da Ufes, Presidente da AESL, Membro da AFESL e da APEEES
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