" Eu sou seresteiro
Poeta e cantor
O meu tempo inteiro
Só zombo do amor
Eu tenho um pandeiro
Só quero um violão
Eu nado em dinheiro
Não tenho um tostão "
Chico Buarque
Por Ester Abreu Vieira de Oliveira*
A publicação do primeiro romance de José Vicente Praxedes me faz refletir acerca da junção da música à literatura na vida e nas artes. Tal combinação pode ser constatada tanto na fruição do leitor e do ouvinte quanto do escritor e do músico. A Academia Espírito-santense de Letras (AEL) tem, entre os seus notáveis, duas mulheres que se dedicaram com paixão à escritura e à música: Beatriz Abaurre (1937-2013) e Maria das Graças Santos Neves.
Lembro-me de assistir a concertos no Teatro Carlos Gomes, onde via, maravilhada, surgir com um violino e sentar-se junto com aos demais músicos uma elegante e suave figura. Era Beatriz Abaure. Ela encantava a todos com os acordes maviosos que seus dedos ágeis faziam emergir do violino, do piano e da viola, nas apresentações, como integrante ou como solista, da Orquestra Sinfônica de Vitória e da Orquestra de Câmera da UFES, da qual foi uma das mentoras e criadoras
Quanto à musicista Gracinha Neves deixa uma indelével marca na história da música capixaba e nacional. A ela agradeci muitas vezes os preciosos concertos internacionais a que assistia aqui em Vitória. Professora da FAMES, por sua atuação artística e cultural recebeu a Comenda Carlos Gomes pela Sociedade Brasileira de Artes; ativista cultural organizou concurso musical e fundou a escola de música Centro Musical Villa Lobos, na Praia do Canto.
Além das duas confreiras a AEL tem entre os escritores outros aficionados à música, escritores e jornalistas os que se dedica(ra)m a bandas de rock, como bateristas e ainda podemos vê-los atuantes em conjuntos musicais. Entre eles estão:
Getúlio Neves, juiz, e atual presidente do IHGES, historiado, poeta, romancista e músico; Jorge Elias Neto, médico, poeta e músico e José Roberto Santos Neves, jornalista, cronista musical e músico. Autor de AMPB de conversa e conversa e Vida da Cantora Maysa Matstazzo.
Mas de uma paixão pela música pretendo falar do Dr. José Vicente Praxedes, estreante na literatura, médico homeopata, apaixonado pela música erudita e popular brasileira, que é presença marcante nas apresentações das orquestras tanto no Teatro da Ufes, como no Teatro Gloria ou SESC.
Para registrar sua paixão pela música escreveu Uma música uma História, que dedica “a todos os compositores da música popular brasileira.”
Nessa obra, dividida em quatro capítulos (A Infância, Adolescência, O Sucesso e Final) Praxedes cria o personagem Francisco Buarque de Holanda, aproveitando fatos da vida do compositor, dramaturgo, ator e cantor brasileiro que, seguramente, é um dos maiores modelos da criação literária e musical, com esse nome.
A narrativa se desenvolve em torno de um jovem que, nascido no morro, de uma família humilde, mas bem estruturada, se enamora na adolescência por Isabelle, a quem conhecia desde a infância, mas a quem nunca pôde confessar o seu sentimento. O rapaz se dedica à música e, com esforço e perseverança consegue sucesso na vida. Paralela à vida músico segue a de Isabelle, moça bonita, sambista e porta bandeira, que se casa com um alemão, que será cônsul da Alemanha no Rio.
Entre verdade e fantasia e letras da música do cantor famoso brasileiro o autor tece sua história, ratificando a percepção de que as artes estão imbricadas.
*Professora Emérita da Ufes, Presidente da AEL, Pertencente à APEES, AFESL e IHGES
Foto da Ilustração: Reprodução da Internet; http://blog.cpbedu.me/profkcsnunes/2017/08/26/referencias-literarias-musicas/