Da Redação
Muito gratificante a experiência de conhecer artistas capixabas que atualmente destacam-se no cenário nacional e, mesmo envoltos, aliás como todos nós, nos muitos e dramáticos problemas vivenciados hoje pelos brasileiros, continuam produzindo com muito talento sua arte. Este é exatamente o caso de Gustavo Macacko* que reuniu recentemente em um clipe vários artistas para apresentar seu último trabalho o “Antivirus”. Clipe para ser visto aqui mesmo no Debates em Rede.
“Antivirus” já está em todas as plataformas digitais. Composta no período de pandemia, a canção é inspirada no texto propositivo “Quem vai pagar a conta”, da economista Eduarda La Rocque. Nela Macacko apresenta uma fotografia musical do nosso sensível momento com a participação especial da filósofa, escritora e poeta, Viviane Mosé, sua conterrânea capixaba.
O clipe que acompanha a música é colaborativo e pautado na prevenção, contando com imagens de artistas, personalidades, amigos e parceiros lavando as mãos e colocando a máscara. Nomes como Jean Wyllys, Gabriel O Pensador, Zé Geraldo e Rodrigo Lima (Dead Fish) também participam do vídeo.
Junto ao lançamento acontece uma campanha de doações por PicPay para alguns importantes projetos sociais do Espírito Santo: @raízes.instituto @coletivo.beco @fejunes @ong.onze8 @saude.habitacional e @institutomanguerê
A seguir um texto de Aloysio Reis que bem representa o ambiente em que se inspira Macacko e ao mesmo tempo apresenta o mais novo trabalho deste notável capixaba.
“Vacina Anti Vírus de Gustavo Macacko
Por Aloysio Reis**
Saí de casa ainda de manhã, suando no calor sufocante do fevereiro de 2020. De repente, aparece alguém do meu lado e diz:
- Você pode parar para conversar um pouco comigo.
- Estou atrasado e tenho que trabalhar – respondi.
O personagem estranho sorriu e contestou:
- Não tenha tanta pressa, porque este ano você vai ter muito tempo para perder.
A conversa não me pareceu das mais agradáveis. Fiz cara de poucos amigos e segui meu caminho. O interlocutor pareceu não se abalar:
- Não me ignore porque nasci do sangue de um morcego e vou estar provocando grandes hemorragias nesse mundo absurdo que vocês criaram.
- Qual o teu nome? – perguntei mesmo não querendo esticar a prosa.
- Não tenho nome. Tenho uma aposta. Acho que vocês são egoístas, desunidos, materialistas e muito frágeis. Por tudo isso, acho que sou capaz de fazer com que esse ano seja meu. Só meu. Vocês terão que colocar máscaras para escapar do meu perfume
Nesse momento entendi que o papo daquele ser obscuro e cínico era sério. Ele estava ali na minha frente e sorria. Senti medo porque notei que estava diante do espelho, entidade contra a qual não temos defesa. Não existe maquiagem capaz de disfarçar a feiura que construímos para nós mesmos. Fomos nós que permitimos a presença dos traficantes do ódio no comando de grandes nações. Nós somos a pandemia.
Agora, quando escuto Gustavo Macacko cantar que a terceira guerra mundial é travada por nós contra nós mesmos, pinto minha cara com a camuflagem da tropa que quer sobreviver. Não falo como um repórter que observa o fato com distanciamento. O monstro levou minha mãe e meu padrasto em menos de quinze dias e o luto que estou vivendo também está inundando milhões de lares pelo mundo afora.
Não podemos permitir que nossas lágrimas sejam passivas. Chegou a hora de lutar. A canção AntiVírus de Macacko é um manifesto que tem o poder de convocar exércitos do bem. Ela traz o grito estridente dos despertadores que perturbam nosso sono profundo e sacodem a inércia de quem acha que ficaremos livres desse pesadelo apenas com as preces que perturbam a paz de deuses que talvez nem existam.
Hoje pela manhã, parei no semáforo e ao meu lado estava outra vez o mesmo personagem:
- Ainda estou aqui. Meu sangue de morcego me obriga a permanecer recolhendo almas. Você já deve ter percebido que estamos em guerra.
Respondi:
- No final dessa guerra nós vamos acabar com você e com seus aliados. Chega de Covid! Chega de fascismo! Chega de falsos profetas! Chega de remédios pseudo milagrosos receitados por farsantes. O amor vai vencer essa guerra.”
* Artista, compositor e cronista, Macacko surge como um dos grandes letristas da música brasileira. Além de dois discos solos, ‘Macaco, Chiquinho e o Cavalo’, em 2009, ‘Despontando para o Anonimato’, em 2014, e o DVD ‘Macacko ao Vivo', em 2017, lançou o single ‘Passaporte para a Fé’ em 2018, junto ao seu parceiro Gabriel O Pensador. Em setembro de 2019, chegou ao terceiro álbum de inéditas ´Humanifesta’ conquistando cada vez mais público por onde passa.
** Escritor, jornalista, compositor e atual Diretor Geral da editora musical
Sony/ATV no Brasil.