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Crônicas & Contos

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21 OUT. 2020

Carmélia, a cronista do povo

Erlon José Paschoal *


Aproveitando este momento em Vitória, em que se protesta contra o sucateamento e o descaso público em relação ao Centro Cultural Carmélia Maria de Souza – quase há dez anos entregue às traças e ao abandono -, seria também bastante pertinente ler ou reler a única obra escrita por Carmélia (1936-1974), a “cronista do povo” como era chamada, o livro “Vento Sul”. Sua publicação feita pela UFES e pela gráfica Espírito Santo em 2002, traz também o prefácio do jornalista, escritor e cineasta Amylton de Almeida, um de seus grandes amigos, contextualizando o clima de pós-guerra e os anos 50 e 60 no Brasil e no mundo, inserindo assim a cronista nos grandes movimentos da cultura ocidental com seus valores, sua produção artística, suas revoluções fracassadas e os terrores impostos pelos regimes militares na América Latina.


Carmélia viveu pouco – morreu antes de completar 38 anos -, mas pelos relatos de seus contemporâneos, viveu e sofreu tudo muito intensamente, em um cotidiano regado a muitas conversas em mesas de bares, a muito consumo de bebidas alcoólicas e a muitos debates literários. Para Amylton, ela “não resistiu aos anos 70, à violência, grosseria e aspereza desta década de trevas e do culto à idiotia.”

Negra, pobre, autodidata e vinda do interior, Carmélia se tornou a grande cronista de uma época em que o jornal era a maior referência da vida social em uma cidade provinciana, preconceituosa e repleta de pessoas superficiais, mesquinhas e intolerantes, a TFC, a Tradicional Família Capixaba, como dizia. Ao mesmo tempo, era uma cidade que ela amava, enaltecia e onde se sentia feliz, deslumbrada com as cores do céu, os amigos, as madrugadas e os ventos revigorantes. Suas crônicas são perpassadas de solidão, de saudades, de Weltschmerz (dor do mundo) e também de alegrias em uma atmosfera repressiva estabelecida pela ditadura militar. Mas também de muita crítica, muita ironia, o que lhe rendeu muitos inimigos. Em uma de suas crônicas mais conhecidas ela definiu, astuta e ironicamente, o povo capixaba como “deletério”, uma palavra que poucos conhecem, mas cujo significado é bastante amplo, indo de nocivo a nefasto, de maléfico a destrutivo, de pestilento a maledicente.


Apesar de atrevida, ousada e corajosa, foi aceita até certo ponto pela sociedade da época, sobretudo, em função de sua força verbal – quando falava e quando escrevia -, por seus conhecimentos literários e por seus textos, que convenciam por sua qualidade até mesmo a seus inimigos, como dizia. Mesmo sem dinheiro, sentia-se rica: “Possuo uma riqueza muito melhor e maior que os ricos não possuem: uma riqueza que os rudes não enxergam e não entendem. Ela vem de dentro, e se me perguntarem como é que ela é, responderei assim: é uma coisa toda interior, grandiosa, sem fim, esta é a riqueza que me faz – embora pobre – imensamente rica, porque me faz feliz.”


Certa vez, relatou ela, pegou uma carona no fusca de Élcio Álvares que a elogiou deveras e rematou dizendo “Vitória não está à altura de sua genialidade” e sugeriu que ela se mudasse para o Rio de Janeiro, onde com toda certeza seria devidamente reconhecida. Ela achou curioso. De fato, de um lado percebia-se uma certa autodepreciação, um complexo de inferioridade de quem desvaloriza sua própria cultura, e de outro uma maneira suave, elegante e sincera de dizer: “Suma daqui”. Não sei o que ela diria hoje se visse uma multidão vestida com a camisa da CBF dizendo que a Terra é plana, que o nazismo é de esquerda, que queimar florestas e acabar com os índios é bom, que a tortura faz bem, que a ditadura militar nunca existiu e que a mamata acabou. Que crônicas ela escreveria a partir destas aberrações?


No entanto, naquele mundo opressivo com muita censura e muita vigilância, Carmélia acreditava no amor, na solidariedade, no afeto e naquela flor que furou o asfalto e o ódio, como escreveu Drummond. Carmélia via-se como “um pássaro mutilado….com minhas asas partidas”, mas sabia também que era um “pedaço desta ponte que haverá de conduzir a humanidade para um mundo melhor.” Que a cidade valorize sempre a e o Carmélia.



* Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.






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COMENTÁRIOS

  • Postado por: Gilcéa Rosa de Souza
    24 OUT. 2020 às 16:40

    Caríssimo Erlon! Gostaria de lhe agradecer pelo texto tão profundo. Sinto-me honrada por nossa Patrona Carmélia. Entre tantas qualidades carregava consigo o desejo de um mundo melhor, mais humano e principalmente de amor. \"Possuo uma riqueza muito melhor... uma riqueza que os rudes não enxergam e não entendem. Ela vem de dentro, e se me perguntarem como é que ela é, responderei assim: é uma coisa toda interior, grandiosa, sem fim, esta é a riqueza que me faz – embora pobre – imensamente rica, porque me faz feliz.” Parabéns por nos presentear com esse belíssimo texto.
  • Postado por: Lindo
    23 OUT. 2020 às 10:51

    Parabéns e Gratidão pelo riquíssimo texto, Erlon!
  • Postado por: Sonia
    23 OUT. 2020 às 09:20

    Muito interessante! Amei saber sobre Ela. Para que não esqueçamos, o governo federal atual, parece querer enfiar goela abaixo, o que ele deseja. Lutemos pela liberdade!!
  • Postado por: Denise Moraes
    23 OUT. 2020 às 02:20

    Deleitei-me com a leitura dessa crônica. Senti ler Carmélia e, lamentavelmente, a minha geração não teve oportunidade de conhecê-la pessoalmente. Meu cunhado Gildo Loyola a conheceu e fora seu amigo, meu marido a conheceu pessoalmente, naquela época no Britz. Eu gostaria de tê-la conhecido. Talvez, ao passar em frente ao Britz, ao sair da domingueira do Alvarez Cabral, juntamente com minhas irmãs e tias, possivelmente a vimos, ao observar com certa curiosidade aquela ferverção da época naquele local proibido para nós. Particularmente, não aprovo esse descaso com o Patrimônio, o qual, mudara o cenário local, bem como culturalmente. Relato que em 2012, ao trazer as exposições itinerantes do GRUPO ÁGUA, com integrantes de artistas de vários estados do Brasil, fui pessoalmente ao Carmélia várias vezes solicitar uma hospedagem das exposições coletivas na Secretaria de Cultura Municipal e Estadual, todos ignoraram. Um Teatro imenso, um orgulho expor e divulgar, além de ser uma das integrantes do grupo, eu fiz a curadoria dessas itinerantes em vários locais de Vitória e alguns municípios do Espírito Santo. Para meu descontentamento, o teatro estava com várias goteiras, infiltrações, alagado, devido a vazamentos e chuvas. Uma triste cena, mesmo com todos esses empecilhos e descaso da Cultura, eu insisti, pois haviam seguranças no local. Porém, tudo em vão, e segui os agendamentos a cumprir. A Assembléia Legislativa nos acolheu de imediato na Galeria Francisco Shwartz, agradeço ao Dr. Sérgio Sarkis e a Esperança. Carmelia partiu cedo, e deixou um grande legado. Sua irreverência e cultura, faz falta. Portanto, não deixemos que destruam mais um patrimônio histórico. Ainda há tempo de mudar a cara do cartão de visita da Cidade de Vitória. Há pontes nessa vitória, iluminando e ligando a Cultura naquele gigantesco monumento, o Teatro Carmelia, memória cultural. Denise Moraes Professora, artista plástica e escritora.
  • Postado por: Célia Vieira de Oliveira
    22 OUT. 2020 às 19:40

    Fiz parte de meu curso de História na atinha FAFI,conheci e convevi com Carmélia A admirava muito

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