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Crônicas & Contos

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05 FEV. 2021

História e Narrativas sobre o Espírito Santo

Por Guilherme Henrique Pereira*


Tom Jobim, até hoje o brasileiro mais conhecido internacionalmente no mundo da música, criou duas frases célebres para explicar o Brasil. Vamos a elas: 1) “Os EUA são bons, mas são uma merda; o Brasil é uma merda, mas é bom”; 2) “o Brasil não é para principiantes”.

Como mineiro residente e há 50 anos apaixonado pelo ES, acho que as duas frases servem também para explicar o ES. Uma merda por conta dos grupelhos da política local e da ausência de políticas abrangentes de combate às desigualdades, de desenvolvimento educacional, científica, de inovação e cultural. Mas é bom, por conta de seus habitantes e das belezas naturais

O ES não é para principiantes e tampouco para pesquisadores não residentes. Aqui nada é o que parece ser. Citarei alguns exemplos: olhando a pauta de comércio exterior parece que é um estado voltado para o comércio exterior; na verdade, o peso está no minério de ferro que apenas passa por aqui vindo de Minas Gerais; nas importações, valor expressivo refere-se a mercadorias cujo comércio incentivado pelo Fundap tem como destino outros estados – um movimento portuário que pouco tem a ver com a dinâmica local do emprego - ; apresentava elevada participação da indústria manufatureira no PIB o que parecia indicar um estado com características de uma economia e sociedade industrializadas; na verdade, o que víamos era um PIB pequeno na comparação com apenas duas empresas gigantescas, a da siderurgia e da celulose.

Os pesquisadores não residentes também não conseguem distinguir trajetórias reais das muitas narrativas construídas para explicar o atraso econômico e social do território capixaba até o século passado, ou sobre a crise política dos anos noventa, ou ainda sobre os pequenos avanços nas últimas duas décadas. O historiador certamente tem lá seus métodos para separar as narrativas construídas e a descrição dos fatos que moldam as sociedades no decorrer das décadas. Mas para os escritores contemporâneos não é nada fácil livrar-se das explicações sobre o atraso ou sobre a crise dos anos noventa, construídas para não exporem as responsabilidades de grupos políticos que exerceram o poder, bem como das elites que lhes deram sustentação e que indicaram as tarefas a serem realizadas e os investimentos públicos que não deveriam acontecer, posto que poderiam ameaçar os incentivos fiscais e outras benesses usufruídas.

Em muitos casos é difícil perceber se há interesses específicos na cena de elaboração de um artigo ou um livro. Em outros casos o interesse fica escancarado. Nos últimos anos vários autores, não residentes, publicaram livros sobre o ES. De onde veio a motivação para escrever sobre esta pequena economia? Sobre este Estado com pequeno peso na política nacional, sem ser caso de sucesso em nenhum campo da vida social e econômica? De fato, tivemos uma década de conluio entre alguns maus deputados e maus empresários que aprofundaram a crise financeira do governo estadual, mas em paralelo a economia e a sociedade seguiam suas rotinas. Alguns anos de excepcionalidade negativa, mas comum na realidade brasileira e pelos poucos anos que prevaleceram, tais pontos fora da curva têm pouco a explicar sobre nossa formação social e econômica e nem oferecem lições de grande significado para o nosso planejamento. Outra observação é de que são raros os autores de fora do ES presentes em nossa historiografia, portanto, sempre foi de pouco interesse como objeto de estudo para não capixabas. Assim, livros de autores de fora do estado devem ser lidos com cautela e aguçado espírito crítico, pois há grande possibilidade de serem narrativa encomendadas e patrocinadas para exaltar algumas lideranças e denegrir outras.

Recentemente, assistimos uma webinar com várias pessoas, algumas delas reconhecidas nacionalmente. O objetivo era lançar e debater o tema do novo livro sobre o ES, intitulado “ES Decadência e Reconstrução”, abordando a década dos noventa e os primeiros anos do novo século. Ficou bem evidente que os autores estabeleceram como propósito relacionar a onda de assassinatos que teria tido origem em uma guerra entre bicheiros (algo comum em vários locais do Brasil; mais recentemente, referidas a pontos de venda de Drogas) nos anos oitenta com a eleição (anos noventa) de um grupo de maus deputados que, bem depois, dominaram a assembleia e subjugaram governadores. Qualifica os governadores da década de noventa como fracos, mas responsabilizando principalmente o último (do período 1999-2002) pelo ápice da corrupção e o atingimento do fundo do poço. Daí, os autores sugerem que a reconstrução do estado ocorre com a reação da sociedade, com destaque para algumas lideranças, articulada com um governador capaz, que atua como um herói que salvou o ES das garras do crime organizado. E no final feliz, fica dito que é um exemplo de mobilização contra a corrupção que pode ser aplicado nacionalmente. Uma narrativa, salvo por alguns poucos deslizes de datas, nomes ou citações, muito bem construída, sem dúvida. Mas a interpretação dos autores, infelizmente não chega exatamente às causas que permitiram o predomínio daquele grupo de deputados e como se deu uma fortíssima articulação de grupos políticos com segmentos empresariais poderosos que ditaram as cartas por um tempo no estado até que se chega a um ponto de esgotamento dos interesses comuns. O trabalho não convence e deixa nas entrelinhas uma tentativa simplista de apresentar para a história local um novo nome para a galeria das grandes figuras de nossa história composta por nomes como Jerônimo Monteiro, Muniz Freire, Maria Ortiz, Caboclo Bernardo e, mais recentemente, Cristiano Dias Lopes.

A década dos noventa do século passado foi realmente conturbada em todo o Brasil e particularmente no ES. Mas há registros de muitas decisões tomadas e investimentos iniciados que estruturam de forma definitiva o nosso desenvolvimento posterior e que nos fizeram iniciar o novo século com o pé direito. Mas, isso será objeto de outro artigo.


*Doutor em Ciências Econômicas, autor de “Economia Governos e suas Políticas”, Ex Secretário de Estado nas Pastas de Ciência e Tecnologia; e Economia e Planejamento; Editor da revista debatesemrede.com.br; Colunista em AgoraES.


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COMENTÁRIOS

  • Postado por: Roberto Junquilho
    11 FEV. 2021 às 19:37

    Um texto na medida certa para provocar reflexões e debates a fim de colocar no foco narrativas do Estado, muitas vezes enviesadas de forma a construir cenários falsos e herois de meia tigela. O contexto dos acontecimentos é alterado para agradar indivíduos ou grupos, muito distante da realidade. Fico na espera do próximo artigo. Parabéns.
  • Postado por: Caleb Salomão Pereira
    10 FEV. 2021 às 17:30

    Guilherme, Muito interessante a sua crítica à produção bibliográfica sobre o Espírito Santo. Eu, como forasteiro, com frequência vejo abordagens - mais rasas, no jornalismo, ou pretensamente mais acuradas, em livros ou em artigos científicos - que parecem padecer de um certo alheamento da realidade capixaba. Mas esse parece ser um mal dos articulistas e pesquisadores contemporâneos, pois o mesmo se dá em relação a outros estados e objetos de análise. Talvez fizesse bem a quem se debruça sobre essas questões mais pragmáticas conhecer as técnicas da etnometodologia, que permitem ingressar nas visões do cotidiano das sociedades analisadas e, por isso, produzir análises mais próximas dos fatos. Esse descolamento do objeto da pesquisa é que permite interpretações sob encomenda, sem considerar o contexto determinante dos acontecimentos. Para mencionar seu artigo, a reação dos capixabas contra a barbárie institucional no começo do século se deu por iniciativa de uma série de atores, embora se possa reconhecer certo protagonismo a alguns deles. Mas daí a se querer patentear o mérito é um salto que a história não pode permitir, sob pena de se fraudá-la. Um abraço! E parabéns pelos \"Debates em Rede\".
  • Postado por: Odmar Péricles Nascimento
    09 FEV. 2021 às 14:04

    Já estou ansioso pelo novo texto (e oxalá também venha com outras frases espetaculares. Viva Tom Jobim). Sempre antenado o professor Guilherme Pereira. A sanha maldita daquela quadra política do parlamento capixaba, servindo de senha à nova sanha que projeta a recriação do mundo em poucos dias. Parecendo (hi)estória de bandidos & mocinho e falando mais de espuma que chopp. Bom repassar páginas da história recente e com mais luz sobre os fatos e suas decorrências. Bravos Guilherme Pereira
  • Postado por: Eliézer de Albuquerque Tavares
    09 FEV. 2021 às 09:14

    Muito boa análise como sempre, mas penso que as frases do Tom Jobim são perfeitas para o nosso estado, a \"elite\" capixaba é um fiasco.
  • Postado por: Guilherme Narciso de Lacerda
    08 FEV. 2021 às 18:06

    Artigo corajoso e necessário. O tema merece ser debatido com equilíbrio e com base nos fatos. De fato, nos anos 90 teve políticas estaduais importantes para o desenvolvimento capixaba e que hoje em dia parece não terem existido. Fiquemos com o programa \"Potencialização do fornecimento local\" no Governo Vitor Buaiz, que deu um grande impulso ao setor metal-mecânico. Ele foi obra de uma parceria virtuosa da sociedade, por meio de suas lideranças empresariais, e o governo estadual. Mas, o braço da gestão pública tem sido pura e simplesmente esquecido em análises e livros sobre o tema. Parabéns em retomar a discussão. Que outros venham para ajudar a escrever nossa história recente com respeito ao que de fato ocorreu.
  • Postado por: Guilherme
    08 FEV. 2021 às 12:48

    Durval, você tem toda razão...mas, lá eu escrevi no passado, referia-me aproximadamente ao final dos anos oitenta quando o PIB industrial era 40% a 45% do PIB estadual.....nesta época, o valor agregado dos grandes projetos - incluindo tudo que vc. falou - representava cerca de metade do PIB industrial e, se não me falha a memória, quase 20% do PIB total. O que eu quis dizer, é que nesta época o analista descuidado, levando em conta o indicador de peso da indústria no total - grau de industrialização -, nos colocaria no mesmo grupo de São Paulo. O mesmo, aconteceria com Amazonas, lá por conta do Distrito Industrial da Zona Franca. Mas, nós sabemos que AM e ES não apresentavam naquela época as características de um estado e sociedade industrializadas. Apenas apresentavam enclaves industriais importantes e muitos grandes relativamente ao PIB total. Depois do CDMEC, seu trabalho, principalmente, etc....tudo mudou aqui no ES e os enclaves passaram a interagir com fornecedores locais e a terem significado para a dinâmica do emprego/renda local, ao mesmo tempo que contribuíam mais para o tamanho do PIB total. Seu comentário enriquece e ajuda a esclarecer o que eu pretendia explicar. É preciso conhecer o ES por dentro, se não fala besteira; como é o caso do tal de elevado grau de abertura da economia capixaba. Obrigado por participar do debate. Este é o propósito do Debates em Rede.
  • Postado por: durval
    08 FEV. 2021 às 12:28

    Guilherme, bom dia! Parabéns, artigo oportuno e importante. Se vc permite, tenho uma observação quanto a mineração. A Samarco transforma o minério em Pelotas e a Vale transforma parte do que exporta pelo ES ( 20%), as 2 juntas representam o mesmo PIB da siderurgia ( cerca de 10%). Outro item importante, foi nossa evolução na prestação de serviços industriais, o ÉS é referência nacional. Meus comentários não tiram o brilho e a importância do seu artigo. São para referência e reflexões. Abraços. Obrigado
  • Postado por: José Carlos Buffon
    07 FEV. 2021 às 22:33

    Guilherme, muito completa sua análise. Parabéns
  • Postado por: Sergio de Castro
    07 FEV. 2021 às 18:15

    Como sempre o inteligente e preparado articulista provoca a reflexão, coloca luz em pontos críticos, sempre à busca da verdadeira versão dos fatos.

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