Por Erlon José Paschoal *
Neste momento da pandemia onde se discute tão intensamente a volta ou não às aulas, à escola propriamente dita, vale refletir coletivamente sobre esta questão, sobretudo, em um país atualmente dominado por milicianos e seus comparsas incompetentes e irresponsáveis, ocupando cargos públicos relevantes. De repente, a pandemia fez com que toda a população percebesse o quanto Saúde e Educação são importantes, o quanto o SUS e a Escola são fundamentais para a vida social e o bem-estar coletivo. É preciso então aprofundar este debate com a participação de todos: pais, professores, agentes públicos, educadores e cidadãos atentos às mudanças em curso.
Desde o início de seu governo, o presidente e seus asseclas têm atacado a escola, as universidades, a Previdência, as artes, a pesquisa, a Ciência e o SUS, com todas as armas e mentiras possíveis, além de propagar o vírus e desprezar as vacinas e a medidas de segurança mínimas. Até uma tal de “escola sem partido” inventaram para intimidar os professores e impedir o desenvolvimento do senso crítico, da consciência social e a busca de novos conhecimentos. Tentaram até mesmo inutilizar séculos de pesquisas e avanços científicos afirmando e disseminando, por exemplo, que a terra é plana e que o aquecimento global é uma propaganda marxista. Por incompetência e, talvez até mesmo por uma decisão genocida das milícias que se apossaram do governo, o Brasil tem sido considerado o pior país do mundo no combate e na condução da pandemia, ocupando a segunda posição também no número de mortos.
Agora instauraram um falso dilema, uma falsa polêmica: a escola deve reabrir e retomar as suas atividades normais como antes ou continuar fechada, para desespero dos pais que se viram repentinamente responsáveis também pela aprendizagem dos filhos e constataram o quanto é difícil ser professor. A partir daí inúmeras dúvidas vieram à tona, relativas ao significado da escola e do ato de ensinar, pois nem toda pessoa é capaz de compartilhar conhecimentos, nem se pode adquirir saberes específicos em qualquer lugar. Ou, como muitos se perguntaram, a aquisição do conhecimento estaria restrita à sala de aula? E a convivência e a trocas com o Outro, a socialização e o convívio com a diversidade não estariam em risco sem o espaço escolar?
Afinal, a escola enquanto instituição de ensino – não como depósito de crianças para que os pais possam trabalhar – é realmente imprescindível? Ela é necessária para o desenvolvimento pleno de uma sociedade civilizada e dependente de avanços tecnológicos velozes e que mantêm o mundo conectado? Para o geógrafo e pensador Milton Santos “Em cada sociedade, a educação deve ser concebida para atender, ao mesmo tempo, ao interesse social e ao interesse dos indivíduos. É da combinação desses interesses que emergem os seus princípios fundamentais e são estes que devem nortear a elaboração dos conteúdos do ensino, as práticas pedagógicas e a relação da escola com a comunidade e com o mundo.”
Neste caso é preciso então valorizá-la, o que significa investir não apenas nos prédios, mas também nos professores, nos funcionários e nos alunos. Por exemplo: quase 50% das escolas de ensino fundamental no país não têm água e esgoto tratado, muito menos políticas de inclusão digital e equipamentos e condições técnicas adequadas para atividades educacionais online. A jornalista Eliane Brum, em um artigo recente, aborda esta questão:
“É preciso se perguntar de forma mais profunda, comprometida e honesta o que tem sido feito: abrir as escolas para quê? Para que elas continuem sucateadas, negligenciadas, aviltadas? Obrigar os professores e os funcionários a trabalhar numa pandemia, fazendo apenas o mínimo (ou no máximo o mínimo) para protegê-los, da mesma forma que os obrigam a ensinar sem condições para ensinar? Esse é um momento terrível, mas é também um momento de possibilidades. Tanto no que se refere ao destino que a sociedade dará à descoberta de que o SUS é algo precioso, que precisa ser urgentemente fortalecido, quanto ao destino que se dará à descoberta de que a escola é essencial, para muito além do que antes era percebido no cotidiano.”
Constatamos então que há muito por fazer para que as escolas possam exercer em sua plenitude a função social e cultural para a qual foram criadas. Que a pandemia sirva também para repensarmos o país que queremos, as políticas públicas inclusivas que queremos, e a escola que queremos. Para isso, todos devem se envolver ativamente neste debate e nesta luta. É a construção do futuro e o destino das novas gerações que está em jogo. Vale mencionar aqui o conhecido provérbio africano: “é preciso toda uma aldeia para educar uma criança!”
* Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.