• Anuncie
  • |
  • Responsáveis
  • |
  • Fale Conosco
  • |
Logomarca Debates em Rede Logomarca Debates em Rede
  • CAPA
  • ECONOMIA
    • Artigos
    • Infraestrutura e Logística
    • Inovação
  • POLÍTICA
    • Artigos
    • Notícias
  • CIÊNCIA
    • Artigos
    • Biológicas
    • Entrevistas
    • Sociais
  • POLÍTICAS SOCIAIS
    • Artigos
    • Educação
  • AMBIENTAL
    • Artigos
  • RESENHAS
    • Artigos
  • CULTURA
    • Artes
    • Crônicas & Contos
    • Vinhos
  • VÍDEOS
  • ANUNCIE
  • EXPEDIENTE
  • FALE CONOSCO

Crônicas & Contos

  1. CAPA
  2. ›
  3. Cultura
  4. ›
  5. Crônicas & Contos

05 ABR. 2021

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A VIDA E A MORTE SOBRE TECER E CORTAR OS FIOS


Ester Abreu Vieira de Oliveira*


O mundo vive cotidianamente situações de violência, em que se constata a desvalorização do ser humano, transformando-se a vida em sofrimento muitas vezes insuportável. Mesmo diante de realidades desventuradas. No entanto, nos rebelamos frente à possibilidade de deixar de viver. Tememos na morte não a dor, mas a destruição, pois ela é o oposto da geração. Essa rebelião pela morte vem pela vontade de viver. 

Shopenhauer em O mundo como vontade e representação reflete que o sofrimento é o obstáculo a uma satisfação. Ao contrário, contentamento é o sucesso, é o êxito da manifestação de um desejo consciente ou inconsciente, devido a que o homem tem discernimento de sua própria morte. Contudo, ainda que a deixe adormecer, de tempo em tempo se desperta nele essa percepção por alguma circunstância. 

Quando as Moiras chegam cortando os fios da vida de não importa quem (amigos e inimigos, pais, companheiros de vida, parentes, conhecidos e desconhecidos, velhos e jovens) e entregam esses seres ao mal-humorado Caronte para a viagem ao Hedes, o ritual da saudade varia entre os que ficam, de acordo com a sociedade e a época.

Senti na minha juventude a opressão causada pela morte de pessoas jovens, a quem Cloto ainda trançava o fio da vida. A primeira perda foi a de Jacizinha, uma amiguinha de infância.

Brincávamos na rua de roda e de pique e de repente o silêncio e um caixão branco levado, entre soluços

Quando soube da morte de Jacizinha eu estava em cima da janela do quarto de minha mãe aguando uma orquídea chuva de ouro. Por isso, sempre que vejo uma chuva de ouro, adornando um espaço com a sua rica coloração amarela, lembro-me daquela carinha mimosa e dos seus cabelos cacheados. Quase da mesma idade éramos, acredito. Talvez tivéssemos cinco ou seis anos, não sei... Mas sua figura bonita é uma sombra em minha memória. Rápido o crupe a levou. E ela estava só gripada, e esteve brincando conosco na rua... Foi estranho para mim o desaparecimento de uma pessoa com a qual eu estivera brincando e conversando.

Depois foi a morte do Zezinho.  Morava num sobrado mais ou menos próximo de nossa casa. Mas da minha casa ouviam-se os gritos de dor dele. Eram desesperadores. Que doença tinha ou teve não sei. Diziam-me que os médicos queriam levá-lo para Cachoeiro para amputar-lhe a perna, mas nem ele nem seus pais queriam essa operação. Ele devia ter 14 anos. Era um menino sadio, bonito, inteligente e bom aluno. Seus pais se desesperaram e depois desses gritos de dor angustiantes, veio o silêncio.

  Marcante também para mim foi a morte de uma criancinha. Ouvi gritos de uma mãe na casa vizinha e fui curiosamente ver. Lá me deparei com uma criancinha que havia entornado o leite que estava fervendo sobre si. A mãe trazia a criança inerte no colo. Eu era pequena e não sei que história havia lido ou ouvido, pois apanhei um espelho e verifiquei que a criança não deixava nele nenhum bafo. E passei a procurar alguém que pudesse socorrer aquela mãe. Foi a primeira vez que constatei uma morte e fiquei chocada.

Não havia muitas mortes na cidade, nem mortes de parentes, que seriam as que trariam mais pesar. 

Lembro que quando passava um enterro em nossa rua, no Entre Morros, todas as janelas se fechavam e as portas, inclusive as do comércio. Claro que essa atitude significava respeito pelo morto e pelos familiares, mas havia também a forte intenção de que a morte não entrasse na casa de cada um. Mas a Ceifadora de Vidas, no decorrer do tempo, foi levando conhecidos, amigos, tios, pais e esposo, abolindo sonhos fugazes, e hoje no seu macabro baile adorna-se com o covid19, assola o redondel do mundo e abate a nossa ilha do mel. E interditos surgem para evitá-la e proteger o outro que em sua vontade de viver mostra  que a vida é um presente pelo qual nos cabe cuidar.


* Professora do PPGL/ Ufes (voluntária), Membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do ES, da Associação de Professores de Espanhol do ES, e da Academia de Letras do ES, atual presidente.


POSTAR UM NOVO COMENTÁRIO

COMENTÁRIOS

  • Postado por: ITALO CAMPOS
    13 ABR. 2021 às 09:56

    Dizem os psicanalistas que é impossível simbolizar a morte. Como enigma, a morte se presta ao poeta, como também à filosofia, à ciência e à teologia. Nossa companheira desde o início da vida pulsa, junto com ela querendo sua realização. Para muitos a sua negação a faz mais imperiosa. Os artistas, como a poeta acima, diferente dos negacionistas, reconhece sua real presença e trava com seu silêncio imperioso a esperança de uma resposta. Como nos mostrou Sherazade, as histórias, as palavras, a fala, adiaram a foice disposta ao nosso pescoço. Cineastas, poetas e outros artistas “conversam” com a morte e mostram a nós outros a ressonância de sua eterna presença e ao fazê-lo estes demonstram o vigor da vida. Parabéns, poeta Ester Abreu pela beleza estética do seu texto e profundidade humanística.
  • Postado por: Jô Drumond
    13 ABR. 2021 às 06:12

    Estersita, gostei muito de suas reflexões, de suas citações mitológicas e das reminiscências. Você demonstra muita erudição, começando com um texto denso, que deságua na leveza dos “remembramentos” de infância (apesar do peso mortífero da temática). Assim como as moiras tecem os fios da vida, você teceu muito bem o texto, extraíndo dele o fio da morte para a tessitura das narrativas pescadas com o anzol da memória. Parabéns!!!
  • Postado por: Neusa Gloria Santos
    10 ABR. 2021 às 11:30

    Falar da vida e morte é algo tão intrínseco é tão mesclado de sentimentos que nos remete a também lembranças do passado. Parabéns Ester Abreu, ícone da Literatura Capixaba, por nós fazer lembrar de que essa temporada aqui e como um sopro.
  • Postado por: Regina Helena Magalhães
    10 ABR. 2021 às 10:27

    Linda e emocionante sua crônica Amei! Como vc escreve bem! Parabéns Ester!!!
  • Postado por: marilena soneghet
    09 ABR. 2021 às 06:34

    Não temo a morte (quando em seu devido tempo, ou seja - cumpriu-se a vida). Vejo-a como natural e até \"bem-vinda\" em alguns casos cruciais. Mas temo a dor! E a dor dos que ficam embalando uma saudade imorredoura. Senti em mim os ecos do que nos conta a Ester. Minha \"primeira morte\" - Joãozinho: 9 anos de idade - hemofílico. Amiguinho querido. Até hoje dói!. Parabéns Ester. Lindo!
  • Postado por: Valsema.
    07 ABR. 2021 às 19:31

    Belo e reflexivo texto-A vida é uma obra de Arte inacabada..E a morte .misteriosa quer interromper a Obra divinal- parabens querida Ester.bjs
  • Postado por: Wilson Coêlho
    06 ABR. 2021 às 20:11

    Parabéns Ester. Belo e profundo texto.
  • Postado por: Sonia Rosseto
    06 ABR. 2021 às 17:30

    Texto triste, verdadeiro e propício para o momento que estamos vivendo. Acredito que as criancinhas de hoje, devem está guardando na memória todo acontecimento deste ano, para descreve-lo adiante. Momentos ímpares de tristezas e dor! Parabéns amiga Ester pelo texto. Comovente!
  • Postado por: Lauriete Mattos Lyra de Oliveira
    06 ABR. 2021 às 16:25

    Achei maravilhoso este texto sobre a morte! Não tenho problemas com a morte. Venho litando com ela deste bem criança quando aos 3 anos meu irmão Aloísio que tinha uns cachinhos dourados morreu de crupy. Doença que Levou- o rápido e depois teve vários. Aprendi cedo que a morte é inevitável. Parabéns minha cunhada querida! Você como sempre escreve com uma leveza que encantanos ao lermos! Um grande abraço!
  • Postado por: Álvaro José dos Santos Silva,
    06 ABR. 2021 às 14:20

    Muito bom, Ester. Como sempre.

LEIA TAMBÉM


Cultura| 06 AGO. 2025 DIA DOS PAIS – 10 DE AGOSTO DE 2025
Cultura| 14 JUL. 2025 Escolher o caminho é preciso
Cultura| 14 JUL. 2025 Jovem Centenária
Cultura| 02 JUN. 2025 OS ANIMAIS ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO
Cultura| 31 MAI. 2025 UMA VIAGEM PELO LIVRO
Utilizamos cookies para que você tenha a melhor experiência do nosso site. Ao contínuar navegando em nosso site, você concorda com o uso de cookies.  Saiba mais.
Eu concordo
  • CAPA
  • ECONOMIA
  • POLÍTICA
  • CIÊNCIA
  • INOVAÇÃO
  • AMBIENTAL
  • RESENHAS
  • CULTURA
  • VÍDEOS
  • ANUNCIE
  • RESPONSÁVEIS
  • FALE CONOSCO
Logomarca Debates em Rede

É um espaço para quem gosta de escrever, de ler e de ter opiniões bem fundamentadas sobre economia, política, ciências, inovação e outros temas que afetam o cotidiano das pessoas, sempre por meio de artigos, notas, comentários e informativos facilitadores do debate e da reflexão. Ao leitor há sempre espaço reservado para interagir com os articulistas, basta registrar o comentário ao final do texto.

RECEBA NOSSOS INFORMATIVOS

FIQUE CONECTADO

© 2025 DEBATES EM REDE | Política de Privacidade

ClickAtivo Desenvolvimento de Seftware