Circuitos Espírito-Santenses
Por Ricardo Coelho dos Santos*
Meus caríssimos leitores, quero abrir esse texto com algo que não aprecio fazer: falar de mim mesmo. Não só porque nunca gostei do marketing pessoal, e isso me causa algumas dificuldades em disputar cargos eletivos, como também não é adequado usar o espaço que deveria ser para relatar assuntos de interesse, principalmente para os nossos formadores de opinião, fazendo autopromoção.
Porém, para o que quero descrever aqui, tal ação se faz necessária e, portanto, vamos lá!
Sou um Escoteiro. Sou o que se chama de Dirigente Escoteiro que, diferente dos Chefes, que trabalham diretamente com os jovens, conduzindo-os a acampamentos ousados com muita segurança e levando-lhes desafios que fazem desses sob a sua tutela se tornarem adultos empreendedores que geraram da Microsoft a presidência de países, o Dirigente simplesmente trabalha na administração dos Grupos Escoteiros e das suas representações como Distritos e Regiões Escoteiras e a União dos Escoteiros do Brasil. Minha ocupação atual consiste em pesquisar sobre a rica história do Escotismo no Espírito Santo, iniciada pelo pastor Loren Marion Reno, passando por outros nomes grandes como Attílio Vivácqua e tantos outros.
Mas, mesmo me ocupando com a parte mais burocrática do Escotismo, aliviando os Chefes para o seu trabalho gigantescamente nobre, isso não quer dizer que o sangue escoteiro deixa de correr nas minhas veias. Se estou com uma idade que não me permite mais fazer certas estripulias como escalar montanhas e cruzar rios, ainda consigo buscar estradas diferentes para percorrer com meu Jeep e descobrir os grandes circuitos que aqui quero mostrar, incentivando os leitores a cumprirem o mesmo desafio, seja de motocicleta, seja com um bom carro, que não precisa ser 4 x 4, mas minimamente um semi-utilitário. Procure estar acompanhado e, estando de carro, leve um conjunto de boas músicas e algum lanche, pois nem sempre encontramos lugares interessantes para parar e abastecer o estômago. Um bom GPS, de celular mesmo, é importante, não que alguém vá se perder com isso, mas como segurança, pois esse equipamento denuncia curvas fechadas pela frente, permitindo que o motorista reduza sua velocidade a tempo. Existem curvas que mesmo a 20 km/h, se mostram perigosas, forçando um motorista precavido a ir na metade da velocidade.
Dois conselhos: deixem de fora álcool e a pressa. E saibam aproveitar as boas paradas que encontrarem pelo caminho para descansar e mesmo comprar algumas coisas que somente lá se encontra. Principalmente queijos e doces feitos na roça.
Portanto, aí vão alguns circuitos que eu já percorri e que me ofereceram boas aventuras.
Circuito Guarapari: o menos interessante de todos, mas é curto e o aconselhado como o primeiro a ser experimentado. Trata-se em ir para Guarapari pela Rodovia do Sol. Apesar da cidade merecer uma visita, principalmente no inverno, quando a afluência de turistas é baixa, não se torna necessário entrar lá: basta acessar a BR-101 e retornar a Vitória. Recomendo que o GPS esteja atualizado, pois a rodovia federal tem sofrido muitas modificações com as obras. E levem dinheiro em espécie, pois ambas estradas possuem pedágios.
Circuito Presidente Kennedy: esse é bem mais longo. Imaginem o Circuito Guarapari estendido. Peguem a Rodovia do Sol, passando por Meaípe, onde recomendo um pequeno desvio para almoçar ou, minimamente comprar os famosos bolinhos de aipim que podem até ser fritos em casa, e prossigam, passando por Anchieta. O motorista deve ter cuidado porque parte da estrada foi comida pelo mar. Passa-se, também, pela Samarco e pelo Porto de Ubu, que valem a pena serem contemplados. Depois, por Piúma, onde verão o belo Monte Agha. Continuem até Marataízes e daí, Presidente Kennedy, cruzando as encantadoras Itaipava e Barra do Itapemirim. No caminho até à metade do trajeto, podem ser vislumbradas belas paisagens da costa espírito-santense. A sede do município de Presidente Kennedy fica longe do mar, e a cidade é pequena, sem muitos atrativos senão algumas obras municipais novas e modernas. Prosseguindo, se chega à BR-101, onde o aventureiro pode se dirigir a Vitória.
Circuito Vargem Alta: esse é um circuito interessante de se fazer tanto em um sentido como no contrário. Vamos aqui começar pela BR-101. O ousado motorista pode ir até Cachoeiro de Itapemirim, onde vale a parada, pois a Capital Secreta do Mundo esconde um segredo muito pouco revelado: lá se come muito bem, a preços atrativos. Prossegue-se até Vargem Alta, numa subida bem puxada serra acima, compensada pelas belas paisagens, até com um mirante que faz valer a pena uma parada, e continuando até o trevo da BR-262, que é bem explorada pelo turismo, com excelentes cafés pelo caminho, e se desejando, pode se passar por Domingos Martins, onde vale a pena se parar para um café na Rua de Lazer. Uma alternativa é mudar de Vargem Alta para Castelo. Essa viagem também vale a pena.
Circuito Laranja da Terra: esse é um desafio e tanto. Indo pela BR-101 norte, o motorista entra em Santa Tereza ao chegar em Fundão. Eu, particularmente, dou uma esticada a mais até Ibiraçu para comer os pastéis de lá. Esses pastéis deveriam sem tombados como patrimônio cultural! A viagem para Santa Tereza é sempre agradável e a cidade é daquelas que valem a pena uma parada. Prosseguindo, vai-se para Itarana, numa subida para lá de puxada, com curvas muito apertadas e muitos avisos de perigo direcionados aos que se julgam estar numa competição. Mas tudo é compensado por uma paisagem de tirar o fôlego. Prossegue-se até Laranja da Terra, uma cidade pequena que merece uma visita. Me informaram que lá os hotéis são interessantes, mas não os experimentei. Continue o caminho até Afonso Cláudio, se passando por 13km de estrada de barro além de belas vistas dos Pontões. De Afonso Cláudio, se chega facilmente à BR-262, donde o motorista poderá ir tranquilamente a Vitória, podendo se desfrutar também dos bons cafés dessa rodovia federal.
Circuito Alfredo Chaves: a entrada de Alfredo Chaves fica na BR-101, depois do trevo de Guarapari. De lá, dá para se alcançar a BR-262, passando por uma estrada apertada, que muito mal dá para se ultrapassar um veículo lerdo, mas com belas paisagens e fazendas a serem observadas.
Circuito Peixe Verde: a entrada desse fica em Formate, na BR-262, à esquerda para quem sai de Vitória, antes da subida da serra. Pega-se uma estrada de barro longa, que oferece belas visões das fazendas no local. Precisa-se aqui de um bom GPS, pois se encontra muitos entroncamentos sem sinalização. Na dúvida, pegue o caminho mais usado e, no caso de dois iguais, vá no da direita. A saída é na entrada do Circuito da Estação, mas o motorista pode optar por passar dentro da simpática Santa Isabel até o seu portal na BR-262.
Circuito das Três Santas: esse talvez seja o mais famoso do Espírito Santo. Começando em Santa Tereza, prossigam para Santa Maria do Jetibá e, depois, Santa Leopoldina. As estradas têm paisagens muito bonitas. A saída é na Rodovia do Contorno de Vitória, onde recomendo sair por Serra.
Circuito Nova Almeida: depois de comprar um bom sortimento dos quindins de Nova Almeida, escondido, logicamente, do seu Endocrinologista, prossigam até uma bifurcação, depois da ponte, quebrando à esquerda, indo parar em Fundão, na BR-101. Ao chegar lá, o motorista deve ter cuidado, porque alguns GPS sugerem você entrar na contramão.
Circuito Pedro Palácios: antes de Aracruz, depois da entrada por Ibiraçu, parando lá, logicamente para consumir um ou dois pastéis, tem, na altura de um viaduto ferroviário que passa sobre as nossas cabeças, a entrada para Pedro Palácios. Um lugar pequeno e muito simpático. Prosseguindo, vai se sair atrás do Buda da BR-101 num passeio muito interessante.
Muitos circuitos ainda existem e que pretendo descobrir e explorar. O sangue escoteiro meu e de minha esposa o exige. E viajamos ao som de Mercedes Sosa, Chico Buarque ou temas de filmes musicais mesmo, enquanto mal aguardamos a hora de reabastecer nossa casa com biscoitos artesanais, linguiças caseiras e honestas e até brinquedos da nossa época para o deslumbramento dos nossos netos. Já rodaram um pião para alguém com menos de 20 anos?
Engenheiro, escritor e articulista em Debates em Rede.