Por Ricardo Coelho dos Santos*
Quanto tempo dura a fama de um filme?
Os mais antigos suspiram quando lembram de monumentais obras como “…E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”. Já o pessoal da minha idade se recorda de outros belos e eternos trabalhos como “A Noviça Rebelde” e “Amor, Sublime Amor”, dois musicais cujas canções surgem na boca do povo de vez em quando, com novas apresentações de artistas modernos.
E temos filmes novos que vieram para não serem nunca esquecidos, com gigantescos sucessos de público, como os da saga “Guerra nas Estrelas”, os filmes de Indiana Jones, e ainda “Avatar”, “Titanic” e os da saga “Os Vingadores” que, ao que parece, vieram para se fixar no imaginário popular para sempre.
Porém, há obras que fizeram sucesso de público, foram aclamados pela crítica da época e esquecidos. Geralmente foram de baixo orçamento, vindos de fora de Hollywood ou feitos com produções independentes. Isso dá a pensar que não basta somente um filme ser bom: ele precisa ter um robusto apoio publicitário para garantir e eternizar sua fama. Ouso dizer que o sucesso “A Pequena Miss Sunshine”, um filme perfeito em todos os sentidos, com um elenco estelar e maravilhoso, está indo por esse caminho. Uma pena! Se a Volkswagen voltasse a fazer Kombis com as cores do carro usado no filme, não só teria sucesso de venda como perpetuaria a fama dessa obra maravilhosa. Lembremos que uma maleta fina passou a ser chamado de “pasta 007” depois do sucesso do famoso personagem nas telas.
Então, vamos lembrar de algumas dessas fitas que, tendo sido bastante elogiadas, hoje estão simplesmente esquecidas.
Comecemos com “O Oitavo Dia” (“Le Huitième Jour”), uma obra de produção francesa, belga e britânica, que deu o prêmio do Festival de Cannes em 1996 de melhores atores para Daniel Auteuil e Pascal Duquenne, contando ainda com a participação de Miou-Miou. Daniel Auteuil é um magistral ator argelino que, aqui, deu mais uma apresentação notável, fazendo dupla com Pascal Duquenne, ator belga com Síndrome de Down. O filme conta ainda com a presença da veterana Miou-Miou, atriz de Geminal tendo também filmado com Louis Malle. A história mostra o choque cultural para um arrogante que descobre o universo dos portadores da Síndrome, sendo um filme de extrema sensibilidade e beleza. Grande parte dos atores são como Pascal Duquenne na realidade, e todos demonstraram inequívocos talentos.
Passemos para “O Mestre da Música”, obra franco-belga indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1989, com José van Dam, um premiado barítono que acabou recebendo o título de conde pelo rei Alberto II, da Bélgica. Trata-se de desafios musicais em que um mestre resolve transformar um homem sem conhecimento em canto num tenor e enfrentar o melhor apresentador de cantores do lugar. Nesse filme, há a apresentação de uma ária considerada por alguns entendidos como a mais difícil de ser cantada de todas. Esse filme é imperdível para quem busca inspirações para motivar pessoas.
Não podemos esquecer de filmes brasileiros. E, então, cito o emocionante “Tico-tico no Fubá” de 1952, dirigido por Adolfo Celi, um genial ator e diretor italiano que, no Brasil, foi diretor artístico do Teatro Brasileiro de Comédia e se casou com a maravilhosa atriz Tônia Carrero. Ele pode ser lembrado pelo icônico papel de Emilio Largo, o vilão com um tapa-olho em “007 e a Chantagem Atômica”. Aliás, o visual impressionante do vilão foi ideia do próprio ator. Outros grandes nomes artísticos também trabalharam nesse filme, como a própria Tônia Carrero, no papel de Branca, Anselmo Duarte como Zequinha de Abreu, personagem real, autor da música-título e da belíssima valsa que leva o nome da sua amada, mais Ziembinski, grande artista polonês radicado no Brasil, tendo inclusive trabalhado como ator e diretor de núcleos de produção da TV Globo. Ainda, contou com a participação de Piolin, que fez o papel de um palhaço com o mesmo nome. A sua data de nascimento é celebrada como o Dia do Circo, no nosso país. E ainda temos Laerte Morrone, ator muito requisitado para as novelas da TV Globo, cujo primeiro trabalho na televisão foi o do passarão Garibaldo, em Vila Sésamo.
Uma pena que esses filmes e muitos outros de fama injustamente efêmera eram antes encontrados nas videolocadoras, mesmo nos cantos mais escondidos. Esse tipo de estabelecimento não existe mais. Ainda, era possível encontrar essas obras nas lojas que vendiam DVDs…Vendiam, deixemos claro. Isso, porque a indústria de streaming acabou com a de DVDs e Blue-rays, e essa classe de filmes dificilmente se encontra disponível para assistir. De vez em quando, até que aparecem uma ou outra obra, mas por pouco tempo. Há sempre a chance de se encontrar esses filmes pelo YouTube e outras mídias assemelhadas, se o sinal de Internet nos permitir isso, mas sem a mesma qualidade de fábrica, e, o que é pior para mim, sem uma apresentação adicional, como o making off, que mostra os deliciosos detalhes da produção.
* Engenheiro e Escritor, articulista em Debates em Rede.