Sergio Rogerio de Castro*
“O Relatório de Mercado Focus resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação. Ele é divulgado toda segunda-feira. O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das previsões para índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros indicadores. As previsões são do mercado, não do BC”. Pela pesquisa que fiz, há quase 20 anos, esta introdução é exatamente a mesma... As previsões são do mercado, A advertência merecia um complemento para evitar dúvida. Adiante, explicaremos quem é esse “mercado”.
Para que serve este relatório? Para orientar ações das empresas e dos investidores privados, mostrar cenários que possam servir de base para a tomada de decisões na seara econômica, por parte do governo brasileiro, do nosso Banco Central e das nossas empresas públicas. Um documento altamente relevante!
A realidade dos números da nossa economia, em muitos momentos, desmoralizou previsões de governos, de nossos bons economistas e das mais respeitáveis empresas de consultoria econômica. O Relatório Focus deu muito mais credibilidade às dispersas previsões que tínhamos. Em primeiro lugar, porque ele já nasceu para oferecer informações atualizadas semanalmente (de certa maneira, um aviso de que o prazo de validade das previsões pode ser de uma semana). Outra característica de seu nascimento, em maio de 1999, confirmada em 19 de julho de 2002, data da sua primeira edição, é de que as informações publicadas seriam medianas de previsões de dezenas de fontes do mercado. O “mercado” para o Banco Central do Brasil, no início, eram cerca de cinquenta instituições financeiras e consultorias. Hoje estão registradas quase o triplo, algo em torno de 140 dentre bancos, gestores de recursos, distribuidoras, corretoras, consultorias econômicas e até empresas não-financeiras.
Variações das previsões deste ano estão muito grandes entre 31/12/2020 e 10/09/2021 nas principais variáveis de juros, inflação e crescimento do PIB. O Relatório Focus está inegavelmente mais nervoso.
31/12/2020 10/09/2021
Meta taxa SELIC 3,00% a.a. 8,00% a.a.
IPCA (Índice Preços Cons Ampliado) 3,32% a.a. 8,00% a.a.
Taxa de câmbio (R$/U$) 5,00 5,20
Meta Crescimento PIB 3,40% 5,04%
Pioramos muito em inflação e juros, estamos dentro da margem de erro no câmbio e o crescimento do PIB, por enquanto, melhorou consideravelmente. A frequência semanal do Relatório de Mercado Focus vai nos avisando, vai mesmo nos acostumando com as boas e más notícias, mas, com mais de uma centena de selecionadas fontes, não deveríamos ter menores variações? A grande e súbita elevação da previsão do PIB, os fatos que provocaram a subida da inflação, que está puxando a taxa de juros, não eram previsíveis? A excitação do mercado internacional por alimentos, com a consequente elevação dos preços deles também no mercado interno, não podia ter sido prevista? A crise hídrica, que poderá afetar muito ainda as previsões, não pode ter os seus efeitos quantificados nos principais indicadores, com algum razoável acerto?
Com o Relatório de Mercado Focus, é verdade, não há previsões desmoralizadas do governo federal e nem de renomados economistas e empresas de consultoria. Pensando em voz alta e escrevendo, não ficamos piores com a incapacidade de mais de uma centena de instituições não conseguirem previsões com razoável margem de erro? O Relatório de Mercado Focus vai perder credibilidade? Tomara que não, mas para isto será preciso menores variações nas suas previsões entre primeiro de janeiro e trinta de dezembro de um mesmo ano.
Em 2022 teremos eleições, fonte natural de maior volatilidade nas previsões das variáveis da economia, um bom teste para a credibilidade do Relatório de Mercado Focus. Estou fazendo um alerta, mas torço muito para que ele nos ofereça informações mais precisas e sua credibilidade não sofra uma variação muito negativa.
* Engenheiro, Empresário, Presidente dos Conselho Consultivos do Instituto Arandu e da Escola de Associativismo, articulista de Debates em Rede.
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