Por Ricardo Coelho dos Santos*
Na Europa e nos Estados Unidos se celebra, nesse dia, o Halloween, e aqui no Brasil, também. E por que não? Temos que lembrar que a nossa festa maior, o Carnaval, vem de tradição europeia, assim como o Finados, o Natal, o Ano Novo, o São João e tantas datas a mais. E também temos as nossas próprias tradições de cunho popular e religioso como as congadas, as puxadas de mastro, o Círio de Nazaré e as festas para Iemanjá.
O Halloween não é visto com bons olhos por algumas comunidades cristãs assim como pelos que lutam para preservar a cultura brasileira. Entretanto, devo lembrar que nos lugares acima citados, o “Dia das Bruxas” é uma festa religiosa, feita exatamente para afastar as criaturas do mal dos homens, sendo até organizado por igrejas. E, aos bravos lutadores pelo nosso folclore, posso afirmar que essa é uma cultura a mais que está chegando para ficar, assim como ficaram o rock and roll, os filmes de faroeste e aventuras espaciais que tanto frequentam as imaginações infantis, e, atualmente, os super-heróis envoltos em críticas, polêmicas e muito lucro.
Mas hoje, também, celebramos uma data nossa, de um personagem da imaginação folclórica popular que, pelo que pude constatar, já cruzou nossas fronteiras: o saci!
Essa criatura estranha, vista como um negrinho perneta de gorro na cabeça, cachimbo na boca, mão furada e com o poder de gerar pequenos rodamoinhos e praticar as mais perturbadoras travessuras já foi escrito por Monteiro Lobato num livro de grande sucesso de 1921 e virou personagem das excelentes histórias em quadrinhos do Ziraldo, lançado em 1958. Câmara Cascudo analisa que o saci é uma mistura de folclores europeu, africano e indígena, e em alguns lugares possui as duas pernas. Seu nome também muda de acordo com a região do Brasil.
O dia do saci foi instituído em 2003 e é celebrado em várias cidades, como Vitória, e em alguns lugares do Brasil há até reservas naturais destinadas à sua preservação; sua existência é considerada real e oficial.
Eu, particularmente, não acredito em sacis, mas bem que gostaria de crer nesses monstrinhos endiabrados. A vida sem o imaterial é árida, monótona, sem graça alguma! Os cientistas que mergulham nos mistérios do universo são os únicos que conseguem desacreditar nesses seres sem que suas vidas se tornem enfadonhas. Mas nós, meros mortais, dependemos ainda daquilo que nossa racionalidade não explica: fantasmas, como os da Torre de Londres, alquimistas, como Nicolau Flamel, que há quem afirme que ainda está vivo, bruxas como Ondina, avistada recentemente, e zumbis, que até explicaram cientificamente sua existência. Já li sobre tudo isso e realmente não dei crédito… Sabe-se lá que não é fruto da imaginação de alguém que confunde a realidade com a fantasia, quer queira, quer não?
Bom, o mistério mais em discussão hoje é sobre os OVNIs. De todos os relatos, somente um por cento me pareceu confiável. Talvez escreva sobre isso, outro dia!
Mas eu queria aqui relatar minha experiência com uma história de saci.
Como disse, não acredito e nunca acreditei em sacis. Já acreditei, quando criança, em Papai Noel e Coelho da Páscoa, mas em saci, não. Porém, conheci uma grande professora que tinha o hábito de, além de ensinar muito bem, ser uma incorrigível fofoqueira. E eis que insistiu comigo, diante de alunos, que o saci era real, que existia e me citou o nome de testemunhas de tal criatura. Fui atrás! Falei com o filho de uma das testemunhas e ele mandou falar baixo. Mostrou-se amedrontado e quando as pessoas têm medo de alguma coisa, se referem a ela sempre com imenso respeito e sussurrando. Falei com a mãe, uma senhora muito prática, mas medrosa que nem ela só. Já quis saber dela o porquê não se devia chegar nem perto do Morro da Manteigueira, e ela já desviava o assunto. Ao perguntar sobre o saci, o mesmo medo e respeito demonstrado pelo filho apareceu. O ar ficara pesado, o dia tinha escurecido de repente e um silêncio mortal caíra sobre o mundo: sim, o saci existia e ela conhecia quem já tinha pegado um.
Procurei tal pessoa: uma senhora valente que nem só ela, com idade bastante avançada, o que não a impedia de trabalhar duro lavando roupa até para fora. Perguntei-lhe sobre o saci, e ela confirmou: sim, capturara um. Quando ela era moça, resolvera caçar o serzinho exatamente como manda o protocolo observado por Monteiro Lobato e outros autores. Pegara uma peneira com um cruzamento de palha mais grossa para reforço no fundo, pois o saci não atravessa lugares com cruzes e se captura aquilo que se imagina estar dentro de um redemoinho de vento, principalmente com poeira, pois o saci adora sujar casas, roupas no varal e cabelos com terra. O saci está preso. Coloca-se uma boca de garrafa aberta embaixo da peneira. A garrafa, quanto mais escura, melhor, pois o saci sempre prefere lugares assim, e, rapidamente, deve se tapar com uma rolha onde está riscada outra cruz no topo. O saci fica ali, dentro. Depois de algum tempo, ele vai acabar aparecendo, e foi o que aconteceu. O monstrinho vivia bem, sem necessidade de ar ou alimentação, mas incomodado com a falta de liberdade. Ele ficava provocando as meninas da casa com maledicências, observações incômodas e palavras de baixo calão, até que um dia a garrafa caiu ao chão e ele escapou, deixando atrás de si um forte cheiro de enxofre, revelando sua origem demoníaca.
O que mais me intrigou não foi a história. Já escutei relatos de cobras gigantes, cobras voadoras, currais de mulheres, lobisomens e fantasmas. Já me disseram que minha casa era mal assombrada, mas minha família não vira assombração alguma… O que me deixou muito pensativo foi o grande número de testemunhas, entre professores e pessoas sérias que atestam a veracidade dessa caçada, dessa existência sobrenatural.
Levo muita a sério todos os testemunhos desse tipo, mas, como afirmei, não consigo crer no saci. Mas bem que gostaria!
Referência: http://www.terrabrasileira.com.br/folclore2/h01-saci.html
*Engenheiro e Escritor.