Por Ricardo Coelho dos Santos*
No meu último texto para o “Debates em Rede”, escrevi sobre as “Oportunidades Perdidas”. Com isso, expus que se há algo que o nosso governo federal não possui é uma estratégia para o desenvolvimento do país, gerando bem estar da população. Nosso governante age com o viés absolutista, reclamando ser limitado pelo Legislativo e pelo Judiciário. O que ele não aprendeu direito é que os três poderes são a base da Democracia. Além disso, Maquiavel já ensinava que um governo só se desenvolve com apoio de duas das três forças de um Estado: o Parlamento e o Judiciário, que na época seriam os senhores feudais, as Forças Armadas e o Povo. Com apoio de duas, a terceira força é consequência.
O que temos é que o apoio dos parlamentares está minguado a ponto de quase nenhum deputado ou senador desejar ser identificado com o Executivo Nacional. Já o povo está descontente, com exceção de uma elite incomodada pelo fato de até os pobres possuírem direitos jurídicos — elite essa que prefere, paradoxalmente, ser mais capataz dos poderes externos do que ser dono da própria fazenda, pois, para isso, teria de estar junto com seus empregados. E as Forças Armadas, está visivelmente dividida, mas, no estilo deles, sem demonstrar suas posições com clareza. Se estivessem a favor do nosso Governante, a visibilidade seria bem maior.
O que resta ao nosso Presidente? Querer apoio de fora! Não tem mais Mr. Donald Trump, que soube fazer o seu país cair no descrédito ao negar a ciência que eles mesmos desenvolveram. As demais nações têm que o Brasil virou uma chacota mundial por causa do sr. Bolsonaro. Nenhum governante sequer ousa se aproximar dele. Em reuniões de cúpula, esses líderes o evitam como se ele fosse portador de uma doença contagiosa.
Já fomos melhor vistos. Lembremos que no Governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva, os governantes é que o procuravam. E ele, conhecedor de uma estratégia que, para muitos, estava errada, por não ir atrás da subserviência dos poderosos, mas sim, fortificar as relações com países de pouca expressão mundial, ganhou poder e respeito de todos. O Brasil pagou caro, mas ganhou muito mais do que desembolsou, além de uma confiança internacional que desde o Segundo Império não experimentávamos.
O Presidente Bolsonaro está indo para a Rússia para negociar, entre tantas coisas, fertilizantes. O Brasil jogou a marmita fora e agora está na fila da comida. Até há alguns anos, nossas fábricas de fertilizantes exportavam e a Petrobras estava com planos de estabelecer mais unidades, inclusive uma no Espírito Santo… Fecharam! Fecharam por conta de um desvio milionário, porém ainda mínimo perto do que uma companhia de petróleo como a Petrobras ainda poderia gerar.
Depois, o Presidente Bolsonaro vai para a Hungria, atrás de um governante que não está absolutamente de bem com seu povo.
É uma péssima hora de se ir à Europa, principalmente à Rússia. O Brasil é um país que não precisa se alinhar nem com ela, nem com a OTAN. A América Latina e a África têm enormes potenciais de crescimento e têm que se unir mais para se alcançar o progresso norte-americano ou europeu. Diante da enorme crise que está a estourar entre duas das grandes potências mundiais, a ida a um desses países é de um perigo sem precedentes.
Militarmente, nosso país é fraco! Não temos significação de combate alguma. Temos excelentes combatentes, mas nenhum fôlego para uso dos nossos bravos soldados que, desmotivados, estão se deixando levar por escândalos e demonstrações de violência. Nosso Capitão não sabe nem motivar seus homens.
O adágio popular diz que quando dois touros brigam, os passarinhos voam fora. Será que alguém poderia explicar isso com mais clareza ao nosso Presidente? A mídia informou que já tentaram, sem sucesso, pois ele só escuta seus pares, aqueles que não merecem ser ouvidos. A História narra que Júlio César, sempre que era louvado pelo povo, mandava um escravo, segurando a coroa de louros sobre a sua cabeça, dizer o quão medíocre ele seria para que não se deixasse seduzir pelo pior veneno que um líder pode consumir: a vaidade.
Eis que os governantes da Rússia e da Hungria, em ocasiões passadas, elogiaram o senhor Jair Bolsonaro. Ora, elogiar é fácil, assim como criticar. Nem uma atitude nem outra devem abalar líderes esclarecidos, e, ao que se demonstra, nosso Presidente não o é.
A situação entre Rússia e Ucrânia é muito conflituosa, e tanto um lado como outro se agridem com consequências catastróficas. Ora, se há países capazes de evitar o atrito que parece iminente, e esperamos estar errados nisso, são aqueles mais poderosos: Alemanha, França, Inglaterra e Estados Unidos. Não creio que as desavenças europeias estejam no cardápio da conversa entre os senhores Bolsonaro e Putin, mas esse assunto vai dar o cheiro do encontro.
E eis o problema criado. Ao se tratar de tal situação, se posicionando a favor ou contra a Rússia, o Brasil perde de um lado ou de outro. Se for somente para estabelecer relações comerciais, também perde exatamente por não ter se posicionado. E, como o sr. Bolsonaro não possui nem a metade do carisma do sr. Lula, ele não vai conseguir evitar um conflito internacional. Coisa que nem aqui no seu país ele consegue!
E visitar o sr. Orbán, o Primeiro Ministro da Hungria, fará com que a imagem do nosso Presidente diante das nações piore e enfraqueça mais ainda. O que parece difícil, mas nisso nosso Presidente tem capacidade.
Vamos rezar para que nenhum conflito bélico ocorra. Guerras são desastres para todos, mesmo para países não envolvidos. Para quem se envolve, mesmo sem intenções, é pior ainda!
*Engenheiro e Escritor, articulista em Debates em Rede.
Foto da ilustração: reprodução dainternet
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