Por Fabrício Augusto de Oliveira*
Paulo Guedes, ministro da Economia, gostou do poder. Em entrevista à Jovem Pan News, afirmou seu entusiasmo com o governo Bolsonaro e com a aliança por ele feita entre conservadores e liberais e manifestou seu desejo de seguir no governo em um eventual segundo mandato, considerando ser este o caminho da prosperidade e que apenas as forças da esquerda têm colocado pedras neste caminho. O ministro deve estar padecendo de alguma doença grave que o impede de enxergar a realidade, o que é comum no pensamento neoliberal, ao mesmo tempo que estimula sua gana pelo poder.
Quando assumiu o cargo no início de 2019, Guedes sinalizou insistentemente que deixaria o governo caso não conseguisse levar à frente as reformas neoliberais de seus sonhos, especialmente a administrativa, a tributária e as privatizações das empresas estatais. Era conversa para enganar inglês. Durante os últimos três anos no poder nenhuma dessas reformas foi aprovada, a não ser a da previdência, que só saiu por obra do Congresso, e a que atribuiu autonomia ao Banco Central. Guedes não só permaneceu no governo como passou a aceitar – e a abonar – o populismo fiscal do presidente e a desistir dos ajustes que sonhava realizar. Ou seja, para permanecer no poder sujeitou-se ao papel de mero porta-voz do presidente na economia. Tanto que seus principais quadros neoliberais já abandonaram o governo por considerarem sepultados seus sonhos de introduzirem o país no período da pós-modernidade, um cenário em que o individualismo exacerbado se sobrepõe aos interesses da sociedade.
Na economia, Paulo Guedes não apresentou nenhum plano para destravar os obstáculos do crescimento econômico que, há mais de dez anos, tem se mostrado anêmico, incapaz de reduzir o contingente da população de mais de 10 milhões de desempregados e nem de abrir perspectivas ainda que moderadas para o país. Ainda assim, numa negação dos fatos, tem insistido que o Brasil “está condenado a crescer”, só faltando mesmo que a esquerda deixe de atrapalhar para permitir que se avance no “caminho da prosperidade”. Não diz, contudo, como a esquerda pode atrapalhar seu projeto se nem está no poder. Um ilusionista.
A verdade é que Paulo Guedes, adepto ardoroso das teorias neoliberais de exclusão social e da completa subordinação do Estado às regras do mercado, se beneficiou, por não ter conseguido retirar da cartola deste pensamento remédios para enfrentar a crise econômica agravada pela pandemia e nem para relançar a economia, do receituário keynesiano, que tanto condena, para mitigar seus efeitos e permitir, ao Brasil, crescer 4,5% em 2021, retornando ao mesmo patamar do PIB vigente no final de 2019. Uma recuperação, no entanto, que, na ausência de um arranjo mais concertado e consistente de política econômica, começou a se desfazer já no segundo trimestre do ano passado e gradativamente a empurrar novamente o país para um cenário no mínimo de uma nova estagnação em 2022.
Nem por isso, Guedes sequer cogita abandonar o barco, atribuindo o fracasso de sua política econômica à esquerda, mas convicto de que a centro-direita a está derrotando e de que, se essa situação se confirmar nas próximas eleições, ele está disposto a permanecer no governo e, em um segundo mandato, conduzir o país para a prosperidade, meta da qual tem sido desviado por seus inimigos. Não diz, contudo, como, nem o que pretende fazer para transformar seu desejo em realidade. O que é típico do ministro: convencer pela fala o que nega na ação.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Conjuntura do Departamento de Economia da UFES, articulista do Debates em Rede e autor, entre outros, do livro “Governos Lula, Dilma e Temer: do espetáculo do crescimento ao inferno da recessão e da estagnação”.
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