Por Júlio Cezar Costa*
Grampo! esta palavra assusta aos capixabas.
Por aqui tornou-se comum ouvir, sem mais, nem menos, a tão pronunciada frase: “cuidado com o grampo”.
Remontando à primeira década deste século, não há como esquecer o escândalo sobre o caso de “grampo telefônico”, diga-se, longo e ilegal, contra parte da imprensa local.
Era, em plena democracia, a versão moderna e digital dos “anos de chumbo” do regime militar. Tensionados pelo medo, alguns até mudaram de lado.
O “pavor robesperiano” calou a muitos dos então “arautos” da liberdade e das garantias fundamentais.
Tudo e todos se tornaram suspeitos e a “voz da verdade” silenciava aos que deviam e aos que não deviam. Todos sofriam risco de morte moral!
Da tarde para à noite, qualquer um poderia ter a reputação construída ao longo dos anos, repentinamente arruinada. Uma lástima!
Seres ”orwellianos” haviam pousado nas “Goiabeiras” e desfrutariam na “Capitania”, de tratamento “vip”, com apartamentos à beira-mar, assessores em quantidade, veículos blindados, enormes escoltas, armas e sobretudo, *muito poder para intimidar.
O império do medo estava apenas começando.
As notícias eram aterradoras! Quem não era a favor, logo ganharia assento na “bancada do crime organizado”. Tudo era feito para escandalizar!
Biografias até então admiráveis, nomes de famílias tradicionais, comandantes ilustrados, e um rol sem fim de outros atores, foram, na grande maioria, atingidos pela sanha frenética do paredão midiático.
Em algumas instituições de Estado, ai de quem ousasse discordar, pois seria, incontinente, considerado integrante da “banda podre”, mesmo que essa estivesse perfilada ao lado dos *“novos xerifes”.
As ”concierges de Fouché” e os ”agentes de Müller” não tiveram em suas épocas, tamanha facilidade e ousadia em detratar sistematicamente a honra alheia.
Apenas uns poucos e a ”pequena” mídia resistiram e não tombaram, diante do que se vivia à época. Esses não trocaram princípios por interesses.
Na “Era do espetáculo” nas “glebas de Vasco Fernandes Coutinho”, Vargas Llosa não ganharia o Prêmio Nobel.
A realidade era stalinista, não passando de uma farsa pintada como a luta do bem contra o mal.
Os “democratas que lutaram nos anos ditatoriais” a tudo assistiam silentes e inertes.
Desse modo, sabemos que a história é circular. ”Não há mal que dure para sempre”, um dia as coisas mudam e, salomonicamemte, “o fim torna-se melhor do que o começo”.
Assim, lamentavelmente, parecem não terem sido lidas ou ouvidas as célebres palavras de David Ben-Gurion aos ”guardiões” de Israel: “não sobreviveremos pela força bruta, mas unicamente pela inteligência”.
Por fim, como consolo sobrava a máxima socratiana que vaticina: “Não penses mal dos que procedem mal; penses somente que estão equivocados”.
Vitória (ES), 24 de julho de 2022.
*Coronel PMES e Associado Sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Leia também em: http://www.segurancacomcidadania.com.br/cronicas-do-corone
Foto: reprodução da internet
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