Por Júlio Cezar Costa*
Salientando que o espectro do saber das ciências policiais é amplo e que tem grandes nomes, não me julgo ousado ou cometendo injustiças quando afirmo a sapiência de ícones brasileiros nessa área.
Esses mestres notáveis, foram e ainda são exemplos a serem capilarizados pelas muitas Polícias em nosso continental território.
Teorizaram e praticaram, por isso podem e devem ser aprendidos e replicados no que nos deixaram de legado: a inteligência epistemológica no campo macro da ordem pública.
Nazareth “inigualável” Cerqueira. Esse comandante esguio, de fala certeira e atitudes desbravadoras para o içamento do sistema comunitário-interativo de polícia, era também psicólogo e sábio filósofo.
Cerqueira foi ousado em simplicidade. Ele desafiou o racismo, o desprezo de alguns, a discriminação, a militarização e a “advogadização” da segurança pública, se tornando um grande mestre, cuja religião era o exemplo e a crença na Polícia profissional, interativa e cidadã.
Ele foi o primeiro no Brasil a propor o democrático modelo prevencionista no lugar do autocrático modelo de defesa social, ainda tão usado como se fosse uma coisa nova, mesmo que já esteja desatualizado.
Outro gigante foi o “baixinho” Jorge da Silva. Empinado, autônomo no saber e espirituoso doutor, encantava e contagiava as plateias por onde passava, com a sua seletiva, provocativa e informada fala.
Foi assim que o conhecemos pessoalmente, em brilhante aparte, enquanto subcomandante e chefe do Estado Maior da PMERJ, em evento do Comando de Operações Terrestres (Coter) do Exército Brasileiro, em Brasília.
Jorge, um poliglota, falando em português claro, convenceu a muitos de que se o Rio de Janeiro fosse considerado, à época, como uma “zona liberada” para o crime, a culpa não seria das Forças estaduais, pois o Estado não produzia armas, drogas, não fiscalizava portos, nem BR’s, tampouco aeroportos.
Da mesma escola de Cerqueira, Jorge lecionou que o “combate à criminalidade” era, em pleno século XX, uma bizarra ideia.
Era adepto de Manuel López-Rey e, por consequência, da teoria dos elementos condicionantes da criminalidade, fugindo dos ditames da criminologia positivista.
Assim, com a sua indefectível obra “Controle da criminalidade na nova ordem constitucional”, acabou estimulando um novo pensar nas Ciências Policiais.
O coronel José Vicente da Silva Filho também é um dos grandes da Polícia brasileira. Mestre em Administração e pesquisador do Instituto Fernand Braudel, vem mostrando, há anos, o avanço institucional da Polícia paulista.
José Vicente teve a coragem cívica em sugerir o fim dos “incentivos perversos” nos efetivos policiais, que oneram os orçamentos e nada acrescentam ao mister da atividade operacional de polícia.
Como secretário nacional de Segurança Pública fez o pioneiro esforço de disseminação, em escala, do ensino sobre interatividade e comunitarização policial,
apoiando a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) na promoção de Cursos de Extensão que capacitaram milhares de policiais civis, militares e lideranças da sociedade civil organizada.
Esse decano da PMESP, ainda hoje, próximo aos 80 anos, é o mais bem sucedido analista multicanal de segurança pública em atividade, sendo um rosto
conhecido nacionalmente, por suas competentes aparições e manifestações.
Por fim, trago à baila o nome de Nazareno Marcineiro, o catarinense que revolucionou a arte de comandar, com uma de suas competentes obras, intitulada “A melhoria do desempenho policial”.
Cientista policial, professor doutor e ex-comandante da PMSC, Nazareno irradia sua experiência e conhecimento contemporâneo, na introdução de novos paradigmas de gestão e operacionalidade na Polícia brasileira.
Bastante lido Brasil afora, Marcineiro talha mentes e fazeres policiais, lastreado pelo conteúdo de suas pesquisas, principalmente sobre o quadrilátero dos elementos formadores da ordem pública.
Como doutrinador, Nazareno se nivela aos melhores que conhecemos, sendo o nosso, O. W. Wilson em tempos mais tecnológicos.
Todos esses notáveis mestres nominados compõem o que há de excelente no evolucionário processo de transformação da ordem pública.
Por fim, com uma meditativa citação de Carmen Migueles, encerramos nosso passeio pela historiografia policial brasileira: “a prática nada mais é do que uma teoria bem-informada e eficiente”.
Nossos mestres merecem ser reverenciados!
Vitória - ES, 21 de agosto de 2022.
*Coronel da PMES e Associado Sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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