Fabrício Augusto de Oliveira*
Ao contrário do pessimismo predominante nos primeiros meses do ano sobre o desempenho da economia brasileira em 2022, os ventos passaram a soprar de forma mais favorável e, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central de 05 de setembro, o mercado financeiro já está projetando uma expansão de 2,26% no ano ante a expectativa de 2,1% da semana anterior. Essa melhoria ocorreu após a divulgação, pelo IBGE, de o PIB ter crescido 1,2% no segundo trimestre do ano (2,6% no acumulado de um ano) acima das projeções mais otimistas que situavam seu crescimento em torno de 0,9%.
Responsável por 73% do PIB, o setor serviços registrou alta de 1,3%, enquanto a indústria, que responde por 22% do produto, expandiu-se 2,2%, cabendo 0,5% à agropecuária. Tais resultados confirmam a maior força que veio das atividades internas para melhorar o desempenho da economia em decorrência da perda de ritmo da pandemia, propiciando o avanço da normalização da vida econômica e, como consequência, a manifestação de uma demanda que se encontrava reprimida desde o seu início e que começou a ganhar maior força a partir do primeiro trimestre deste ano. Do lado da demanda, o crescimento de 2,6% do consumo das famílias e de 4,8% da formação bruta de capital fixo contrasta com a queda de 2,5% das exportações, confirmando a contribuição mais decisiva da atividade interna para os resultados alcançados.
Além desses fatores, também a geração de empregos – formais e informais – tem contribuído para expandir e sustentar a demanda doméstica. Só este ano, o desemprego foi reduzido de 12 milhões de trabalhadores (11,1% da força de trabalho) para 10 milhões (9,3%), o que significa que mais de dois milhões de pessoas voltaram ao mercado de trabalho. Comparado ao segundo trimestre de 2021, os números são bem mais expressivos: com a taxa de desemprego naquele período de 14,2%, 14,8 milhões estavam sem ocupação, ou seja, um número com quase 5 milhões a mais em relação à situação atual. Embora o nível médio de salário dos trabalhadores esteja bem abaixo do que representava um ano atrás (registrou uma queda em torno de 8% em seu poder de compra no último ano) é indiscutível que essa considerável melhoria da massa de trabalhadores ocupados tem desempenhado papel relevante na sustentação da demanda.
Medidas adotadas pelo governo, como a elevação do Auxílio Brasil para R$ 400 ao mês, a antecipação do pagamento do 13º salário para aposentados e pensionistas, bem como a liberação de saques do FGTS, aparecem também como fatores que contribuíram para o maior vigor da demanda e para o melhor desempenho do PIB no trimestre. O mesmo efeito deverá ter a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600 ao mês, por motivos eleitorais, e sua extensão para caminhoneiros e taxistas, entre outros, cujos efeitos, no entanto, serão temporários, já que previstos apenas até o final do ano.
Juntos, estes fatores, ou seja, o avanço da normalização da atividade econômica com a perda de força da pandemia; o aumento do emprego; e as medidas de estímulos do governo, conseguiram mais do que compensar os efeitos negativos provocados pelas maiores incertezas reinantes na economia mundial, especialmente em decorrência da guerra Rússia-Ucrânia, pela elevada taxa de juros em vigor no Brasil – 13,75% - e pela aceleração da inflação, que só está conseguindo ser reduzida com a diminuição de impostos cobrados sobre preços-chave da economia, caso dos combustíveis e da energia.
São muito poucos os que apostam que este cenário um pouco mais benigno se mantenha para 2023, até mesmo por que são fortes os indícios de que uma recessão global está a caminho. Além dos efeitos temporários dos novos auxílios do governo, dificilmente a economia resistirá à política monetária que deve ser mantida apertada por mais tempo para segurar a inflação e aos trancos que deverão vir da economia internacional com a continuidade da guerra, a elevada inflação e o aumento dos juros para combate-la, especialmente nas economias desenvolvidas.
Não sem razão, embora o mercado financeiro venha demonstrando crescente otimismo com os resultados de 2022, o mesmo não acontece com 2023. Por enquanto, de acordo com o último Boletim Focus, embora o governo continue projetando uma taxa de crescimento de 2,5% para o próximo ano, a previsão do mercado não vai além de 0,47%. É muito pouco para um país que parece condenado a não mais crescer.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo do Estudos de Conjuntura do Departamento de Economia da UFES, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro, “Uma pequena história da tributação e do federalismo fiscal no Brasil”.
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