Fabrício Augusto de Oliveira*
Com a expectativa de que a economia chinesa retornará a uma trajetória de um crescimento mais robusto com o fim da política de Covid-zero, o FMI fez uma revisão das projeções do crescimento mundial e melhorou um pouco os resultados esperados para 2023. Nessas novas projeções, aumentou o avanço do PIB no mundo de 2,7% para 2,9%, com o melhor desempenho da China (de 4,4% para 5,2%) e da Índia (6,1%), compensando o baixo crescimento dos países desenvolvidos, como Estados Unidos (1,4%), Canadá (1,5%), Reino Unido (-0,3%), Zona do Euro (0,7%). Para o Brasil, cuja projeção anterior era de 1% saltou para 1,2%, acompanhando a revisão do PIB mundial, mas ainda otimista em relação à expectativa do mercado no país que, no último Boletim Focus, ainda apostava em não mais que 0,79%.
As razões apontadas pelo FMI para essa revisão são, além da melhoria da expectativa de crescimento da China, o fato de que a inflação mundial começou a ceder, possibilitando uma desaceleração do aumento das taxas de juros, principalmente nos países mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Zona do Euro. O maior crescimento da China deve, nessa análise, dar maior impulso aos países exportadores de commodities, catapultando seus preços, enquanto a desaceleração ou interrupção da alta dos juros pode reverter o movimento dos fluxos de capitais em direção principalmente aos Estados Unidos e reorientá-los para as economias emergentes, aumentando sua capacidade de investimentos. Pode ser. Mas são várias as incertezas que existem sobre essas questões.
Em outubro de 2022, a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) projetava um crescimento de apenas 2,2% para o mundo, anunciando a marcha célere de uma recessão global, caso não fossem adotadas medidas urgentes para barrá-la, prevendo danos piores do que a crise financeira de 2008. Os motivos principais seriam os choques de oferta, a queda dos índices de confiança dos consumidores, a guerra na Ucrânia, que desencadearam fortes pressões inflacionárias, seguidas da elevação das taxas de juros inibidoras do consumo e do investimento.
No mesmo mês, a OCDE reduziu, pelos mesmos motivos, também para, 2,2% essa previsão. Para o Brasil, a expectativa era de crescimento de 1,2%. O FMI, por sua vez, mais otimista, projetava, à mesma época, uma expansão de 2,7%, mas alertando que o pior para a economia mundial ainda estaria por vir e que Estados Unidos, União Europeia e China continuariam estagnados e ainda que Alemanha e Itália enfrentariam uma recessão no ano. Mais contundente, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, consideraria, no dia 13 de janeiro de 2023, que a economia mundial deve chegar no fundo do poço no ano e que 1/3 dos países entrarão em recessão.
Por isso, apesar de um maior otimismo sobre o melhor desempenho da economia mundial que poderá impedir seu mergulho num processo de recessão/estagnação mais profundo, predominam muitas incertezas sobre os fatores que têm motivado essa revisão. Se é verdade que o fim da política Covid-zero na China poderá libertar as amarras do crescimento postas pelos seguidos confinamentos da população, também é possível que em função do nível de contaminação e de mortes no país essa possibilidade opere em sentido contrário, sobrecarregando sua rede de saúde. Não se descarta, por isso, que, no primeiro semestre, a economia chinesa possa até conhecer uma retração e só voltar a crescer no segundo, compensando essa queda. Mas tudo isso não passa de meras apostas.
Por outro lado, se é verdade que começa a ocorrer um afrouxamento da política monetária, principalmente nos Estados Unidos, com a desaceleração do ritmo de reajuste das taxas de juros, isso não significa que se chegou ao seu limite e que, daqui para a frente, as mesmas comecem a baixar. Os Estados Unidos, por exemplo, reduziram o aumento das mesmas de 0,5 ponto percentual para 0,25, no último reajuste, no dia 01 de fevereiro, estabelecendo-a no intervalo de 4,5% a 4,75%, mas anunciando que ocorrerão novas elevações. Já o Banco Central Europeu (BCE) também a aumentou em 0,5 ponto percentual, em 02 de fevereiro, elevando-a para 2,5%, com o anúncio de que novos aumentos ocorrerão enquanto persistir a alta inflação. A tudo isso se soma a guerra Rússia-Ucrânia que vem se arrastando há doze meses e que parece longe de terminar.
Resumindo: apesar da melhora do humor, ainda que tímida, sobre o desempenho da economia global em 2023, permanece alto o nível de incertezas sobre os seus resultados, sabendo-se, apenas, que o ano não sorrirá, em termos econômicos, para o mundo.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura do Departamento de Economia da UFES, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “Governos Lula, Dilma e Temer: do espetáculo do crescimento ao inferno da recessão e da estagnação (2003-2018)”
Foto da ilustração: reprodução internet
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