Fabrício Augusto de Oliveira*
A família Bolsonaro não se notabilizou apenas pelo total desprezo às vidas humanas, às minorias, aos indígenas e aos grupos LGBTQIA+. Dados divulgados pela imprensa no início do atual governo dão conta de que também seus membros investiram contra a fauna no Palácio do Planalto. Para economizar míseros recursos para os seus passeios de motociata, o ex-presidente reduziu a ração das emas do Palácio e passou a alimentá-las com restos de comida considerada inadequada para suprir suas necessidades básicas de sobrevivência. Por enquanto, três já se despediram deste mundo diagnosticadas com excesso de gordura e de peso.
Sua mulher, Michele Bolsonaro, evangélica de carteirinha, mandou esvaziar o lago que abrigava carpas, presenteadas pelo governo japonês ao Brasil, para coletar as moedas nele atiradas pelos visitantes e doar a instituições de caridade. Conseguiu apurar R$ 2.281,00, mas, em compensação, causou a morte de pelo menos 60 carpas de um total de 70.
Para escapar temporariamente de processos no Brasil, entre os quais figura o de genocídio, Bolsonaro voou para os Estados Unidos, país que abriga uma grande legião de apoiadores de Donald Trump, seu guru na política, e de apaixonados por ditaduras. Instalado na Flórida, um estado norte-americano ocupado por população sul-americana em grande parte adepta de suas ideias golpistas, tem se dedicado a fazer palestras e a conceder entrevistas para este público ávido por sangue de democratas e de comunistas, mas que não sabe nem bem o que significam estes sistemas. A volta para o Brasil, onde o esperam estes processos, tem sido anunciada, mas seguidamente adiada, talvez com a esperança de que, enquanto abrigado no solo do Tio Sam continuará protegido de eventuais punições. Ledo engano.
Bolsonaro deverá entrar para a história do Brasil como um dos piores presidentes que assumiu o cargo e que fez de tudo para destruir a economia, a saúde, a educação, o meio ambiente, a democracia, entre outros feitos negativos, como o verdadeiro Cavaleiro de Apocalipse. Ainda assim, 30% da população, entre os quais cerca de 1.000 radicais que participaram dos atos golpistas de 8 de janeiro, ainda derramam lágrimas de saudade de seu governo, o que só revela a ignorância no Brasil e no mundo que domina este grupo, que anseia pelo retorno ao estado de natureza, ao mundo do faroeste, onde predomina a lei do mais forte, em contraponto ao estado social, no qual se procura, por meio do Estado e de leis democraticamente aprovadas, garantir a vida e a liberdade dos cidadãos.
Apesar de tudo, sua arrogância impressiona. Continua vivendo em um mundo paralelo tecendo loas aos seu governo como o melhor de todos os tempos e acenando para seus fanáticos apoiadores de que seu projeto e sua missão prosseguirão, tendo-o como líder supremo da direita e que serão retiradas as pedras de seu caminho. Não explica como, mas, com isso, alimenta e mantém o fervor arrivista de seus apoiadores. Um ilusionista ridículo.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura do Departamento de Economia da UFES, articulista do Debates em Rede e autor, entre outros, do livro “Uma pequena história da tributação e do federalismo fiscal no Brasil (1891-2016).
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