Por Ricardo Coelho dos Santos*
Caros leitores do “Debates em Rede”
De vez em quando, me vejo falando sobre gastronomia. Já escrevi sobre pizzas, lembranças sobre o que se comia em tempos d’antanho e outras referências culinárias. Isso, fora as metáforas sobre restaurantes e padarias que já me referi tanto aqui como para outros públicos.
Não sou um especialista em cozinha. Na verdade, sou péssimo. Eu preparei, numa feita, um churrasco tão ruim que um gaúcho me confidenciou que na terra dele se mata por muito menos que minha façanha. Meus filhos já me proibiram cozinhar para a família. Só minha esposa, a título de descanso, que aprecia minhas aventuras diante de um fogão. Desconfio que ela não tenha um sabor tão bem apurado!
A razão sobre a repetitividade desse assunto é simples: comida e memória andam sempre juntas. Todas as minhas boas lembranças de viagem são reforçadas ao que apreciei à mesa, seja no prato, seja também no copo — por que não? Uma sábia tia da minha esposa fala que, se quiser dar um passeio com crianças, sempre culmine a aventura com um lanche como um sorvete, um chá e bolo — uma vez que casas com essa especialidade estão se multiplicando nos dias de hoje, que bom!
Portanto, vamos ao verdadeiro assunto. Quero dissertar sobre alguns pratos que consumi nesse Brasil afora, com nomes interessantes, diferentes e até bem humorados. Sem mais delongas, vamos lá!
Começo com o “Filé à Sancho Pança”. Como sabemos, Sancho Pança era o amigo simplório e gorducho de Dom Quixote, um personagem com a sabedoria direta dos homens do campo mais um gosto gastronômico tal que o fez desentender-se com alguns pioneiros em Nutrição da época. Esse prato encontrei na cidade de Guaíra, PR, quando as Sete Quedas ainda não tinham sumido do mapa… Trata-se de um filé com uma cobertura de presunto e muçarela. Ele é enrolado em volta do presunto e do queijo, empanado e frito. Parece um enorme bife à rolé empanado.
Em Aparecida, SP, conheci o “Filé à Camões”. Estava com meu pai e ele recomendou arriscar e ainda recitou um pequeno poema cômico:
Veio o solicitado. Era um belo filé enfeitado com um outro belo ovo frito. Argumentei que aquilo seria um “Filé à Cavalo”. O garçom respondeu com simplicidade e educação que “Filé à Cavalo” leva dois ovos!
“Dusty Miller” era o que gostava de consumir em Salvador, BA, particularmente numa pequena lanchonete na parte superior do Elevador Lacerda. Não sei se tal lanchonete ainda existe e, se existe, eu posso afirmar que ela é velha, com pelo menos sessenta anos! Trata-se de um sorvete com cobertura de farinha láctea. Simples e eficaz!
“Cachorro Louco” era um dos meus sanduíches favoritos na antiga lanchonete Sarlo, no centro de Vitória, ES. Essa lanchonete não existe mais. Tratava-se de pão de hambúrguer recheado com linguicinhas, daquelas que são oferecidas no mercado coladas uma à outras. Cortava-se a fileira de linguiças ao largo, formando-se dois bifes que iam para a chapa quente. Pronto! Não me recordo se o bacon entrava na composição desse lanche tão solicitado.
“Espaguete a Chué-Chué”. Já tinha ouvido falar desse prato em tempos idos, e eis que o encontro na Cantina Buonasera no estado do Rio de Janeiro. Simplesmente um espaguete ao alho e óleo! O mais interessante era que acompanhava o “Filé à Parmegiana”. A maioria dos restaurantes oferece esse bife acompanhado de purê de batatas, mas já o vi com brócolis cozido e refogado ao alho ou com “Arroz à Piemontesa”, ambas excelentes guarnições para esse prato. Costumo pedí-lo toda a vez que me aventuro em um restaurante desconhecido, a fim de uma avaliação inicial.
“Cartola Arroxada” é uma sobremesa clássica de Natal, RN. Perguntei à garçonete o que era e ela me respondeu cheio de simplicidade: “A gente pega uma cartola e arrocha ela…”. Sem remédio, eu e alguns colegas resolvemos nos arriscar. Trata-se de banana da terra (a cartola!) assada sob uma generosa (e põe generosa nisso!) camada de muçarela derretida. É servida quente, a ponto de queimar a boca, mas o sacrifício vala a pena!
Tudo aqui relatado são criações locais, frutos de maravilhosas imaginações de cozinheiros, chefs e proprietários de restaurantes e lanchonetes que querem dar às suas criações marcas com nomes diferentes que serão inesquecíveis se forem aprovadas pelos critérios de apresentação e, mais importante ainda, de sabor. E são vários estabelecimentos pelo Brasil afora que contribuem com nossas melhores lembranças. Tal característica não é só brasileira. Pensem que muitos pratos estrangeiros adquiriram nomenclatura diferente e fizeram sucesso mundial. Basta lembrar do “hot dog”, batizado por causa do formato de um cão Dachshund, ou o nosso também conhecido “Sundae”, que leva esse nome por causa da proibição de se vender “Ice Cream Soda” nos domingos numa cidade dos Estados Unidos.
Portanto, aventurem-se, leitores. Viajem, conheçam novos lugares e celebrem com a culinária que só lá existe seja na forma, seja no nome. Afinal,