Por Erlon José Paschoal *
O que é envelhecer? O que é a velhice? A partir de que idade somos velhos? E quem determina quando estamos velhos? Nós ou os outros? Qual seria o padrão de comportamento dos velhos em nossa sociedade ocidental, nesse Brasil tão desigual? Se é que existe algum de fato.
Quando eu era criança uma pessoa de 50 anos já era considerada velha, idosa. Não é mais essa a nossa realidade. Hoje é comum ver alguém de 60, 70 anos ou mais, tendo uma vida ativa, seja individual, seja social. Sem falar em muitos de nossos ídolos que chegaram aos 80 anos e aparentam não ter idade como, por exemplo, Caetano Veloso, Mick Jagger, Gilberto Gil, Chico Buarque, Maria Bethânia, Edu Lobo ou Fernanda Montenegro, entre outros.
É claro que como a desigualdade ainda é hedionda em nosso país e no mundo, essas relações com a vida na chamada terceira idade precisam ser relativizadas. Afinal no neoliberalismo quem não consome é simplesmente descartado, seja criança, adolescente, adulto ou idoso. E nesse sistema desumano e cruel quem não tem recursos financeiros suficientes é abandonado a própria sorte. Nesse sentido temos um longo caminho pela frente em nosso país, mesmo tendo um dos Estatutos do Idoso mais avançados do mundo.
De qualquer modo, as diferenças de idade hoje já não são mais algo excludente que possa impedir relações entre gerações diversas ou impossibilitar a participação social. O idoso como algo a ser evitado ou rejeitado tem lentamente se transformado ao longo da História. Não seria mais o caso, espero, de se concretizar a trama do romance “Diário da Guerra do Porco” do escritor argentino Adolfo Bioy Casares, no qual jovens perseguem, espancam e matam os velhos, chamados de porcos, em um exercício de violência cega, como se fossem bozonazis ensandecidos atacando os vermelhos. Uma violência não apenas física, mas sobretudo simbólica em uma sociedade que pretende assim exterminar a velhice e enaltecer apenas o novo.
Afinal, os jovens também se tornarão velhos, no melhor das hipóteses, se não morrerem antes, e terão de aprender a lidar inevitavelmente com as transformações do corpo físico e com a finitude, uma vez que tudo o que é vivo cumpre um ciclo: nasce, cresce e morre. E assim é! O que não impede que aprimoremos nossas habilidades, sobretudo, intelectuais, e tenhamos uma vida criativa em vários aspectos.
Por dentro continuamos sendo os mesmos. Sempre me lembro de mim internamente como sou hoje, apenas com mais histórias, mais experiências, mais vivências e com uma noção melhor do tempo e do percurso da humanidade nesse universo mutante. Sei também – o que deve ser normal, acredito – que não foi possível realizar tudo o que sonhei…. até agora pelo menos.
E assim vamos aprendendo a desfrutar a serenidade, a paz, a tranquilidade, a nutrir os sonhos possíveis e impossíveis, e a cultivar as utopias que nos projetam para o futuro e para a eternidade.
Viver bem é importante, nem que seja por mera curiosidade. Arnaldo Antunes diz em uma de suas canções: