Guilherme Narciso de Lacerda*
Mais uma vez o Presidente Lula visita o Espírito Santo. A exemplo de várias outras, o Presidente volta para inaugurar uma obra importantíssima para a vida dos capixabas e, neste caso, com o contorno do belo “Mestre Álvaro”, encurtando distância e gerando um benefício para todos os brasileiros que usam a BR 101.
É preciso valorizar esta conquista. A obra vinha se arrastando há muitos anos. Lá nos idos de 2008 no PAC 1 o projeto passou a ser avaliado a partir de demandas colocadas pelo governo do estado e por representantes da Bancada Federal. Em 2013, já no PAC 2, a obra do contorno foi incluída na lista de prioridades. O governo estadual, através do DER, desenvolveu o projeto e intensificaram-se as interlocuções com o governo federal. Naquele mesmo ano, a Presidenta Dilma, por meio do Decreto federal nº 7.893/2013, oficializou a obrigatoriedade para a transferência dos recursos financeiros para tirar do papel a obra tão desejada pelo Estado.
Nos anos seguintes as obras perderam ritmo, inclusive com interrupções. Foram anos marcados pela fortíssima crise econômica iniciada no segundo semestre de 2014 e pela destituição irregular do 2º mandato da Presidenta em 2016. Assim, a previsão de término da construção dos vinte quilômetros de trecho foi sendo sucessivamente adiada. Caso não tivesse ocorrido o golpe parlamentar, com certeza, esta obra tão importante já teria sido inaugurada há vários anos.
O fato é que depois de quinze anos o sonhado contorno torna-se realidade e é entregue aos capixabas. É bom recordar que tal obra rodoviária não é a primeira que estava travada no Estado e que o Presidente Lula inaugura. O mesmo aconteceu com a segunda ponte sobre o Rio Doce em Colatina. Aquele era um projeto que vinha se arrastando havia várias décadas. Foi apenas em 2007, no início do seu 2º mandato, que a ponte enfim foi inaugurada, tirando “uma cabeça de burro”, como se dizia naquela época.
Outra obra emblemática no estado e que teve atrasos enormes foi a construção do novo aeroporto. Neste caso, as críticas feitas ao governo federal foram muito fortes, deixando de considerar o fato de que, em grande parte, o problema estava no TCU que havia determinado a suspensão das obras. Assim, o projeto do aeroporto só veio a ser inaugurado por Temer, que assumiu após a retirada imprópria da Presidenta Dilma. Se não tivesse ocorrido o golpe teria sido ela a mandatária da inauguração. É bom deixar claro aos leitores que a referência feita aqui a “golpe” está embasada no que de fato foi e depois ficou comprovado pelo reconhecimento judicial de que não havia nenhum crime cometido pela então Presidenta. E o argumento de que a situação econômica era insustentável é um disparate pois tal crise foi fortemente influenciada pela rebelião política dos que não aceitaram o resultado eleitoral de 2014.
Mas, sem dúvida, a medida mais importante para o nosso estado definida pelo Presidente Lula foi em 2003, quando ele resolveu de forma rápida com o então governador Paulo Hartung o imbróglio da delicadíssima situação financeira, determinando uma antecipação de recursos que foi fundamental para regularizar as finanças estaduais. Hoje, passados vinte anos de tal decisão muitos esquecem ou não valorizam a grandeza de tal medida. Se não fosse ela o estado não teria tido o êxito que teve nos anos seguintes. É obvio que gestões responsáveis que se seguiram com os dois governadores, desde 2003, foram também fundamentais para o estado ter a referência de equilíbrio fiscal que tem hoje.
A verdade é que a atenção dos governos Lula e Dilma ao Espírito Santo nunca faltou. A administração federal em tais mandatos foi pautada por um elevado nível de clareza institucional e respeito federativo. Ela jamais foi influenciada por resultados eleitorais ou por posturas pessoais até agressivas de líderes políticos e empresariais do estado. Agora, em seu terceiro mandato, o presidente Lula repete a dose e aposta na concórdia. Ele sabe que os investimentos que precisam ser feitos levarão a melhorias concretas para os brasileiros, sejam eles de onde for e independente da camisa partidária.
O maior exemplo disso é o novo PAC lançado em agosto último. O programa definiu mais de R$45 bilhões de obras a serem implantadas no Espírito Santo nos próximos quatro anos. Aqui, tal como em vários outros estados, há desafios enormes que precisam ser enfrentados, tanto nas áreas de infraestrutura econômica quanto nas intervenções sociais. A lista de projetos é ampla e a execução efetiva de tais projetos dependerá da boa interlocução com o governo estadual.
Aqueles mais descrentes que torcem o nariz para os anúncios do novo PAC precisam ampliar suas visões. Recomenda-se que olhem tudo que foi feito no estado nos PAC I e PAC II. São fatos. Fiquemos apenas com alguns exemplos: a expansão de unidades de centros técnicos de ensino profissionalizante e superior, inclusive com os investimentos jamais vistos em laboratórios e modernização de centros de pesquisa; as milhares de unidades do Minha Casa Minha Vida atendendo à região metropolitana e cidades do interior, os investimentos relevantes no setor de transmissão de energia e de óleo e gás, com a geração de milhares de postos de trabalho, inclusive com o empenho para a implantação do estaleiro Jurong. E os avanços não foram só naqueles tempos. Neste seu primeiro ano de mandato o Presidente Lula assinou o decreto de criação da ZPE de Aracruz. O empresariado duvidava que isso acontecesse, mas ocorreu. É isso; são fatos e não opiniões ou visões movidas por posições partidárias. E para terminar, fica uma pergunta: O que outros governos federais recentes fizeram pelo nosso querido Espírito Santo?
Portanto, a sociedade capixaba em geral e suas lideranças políticas e empresariais deveriam demonstrar grandeza no reconhecimento dos benefícios que os governos do PT e partidos aliados fizeram pelo nosso estado.
*Guilherme Narciso Lacerda. Doutor em Economia pela Unicamp, mestre em Economia pelo IPE-USP, professor (apos) do Departamento de Economia da UFES. Foi Presidente da FUNCEF (2003-20010) e Diretor do BNDES (2012-2015). Autor do livro “Devagar é que não se vai longe – PPPs e Desenvolvimento Econômico”, publicado pela Editora LetraCapital.