Fabrício Augusto de Oliveira*
Segundo o IBGE, o PIB cresceu 2,9% em 2023, resultado já esperado e bem superior às previsões pessimistas do início do ano passado, cujas apostas não iam além de 1%. Para este crescimento, concorreram principalmente os setores da agropecuária, com uma expansão de 15,1% no ano, os serviços, com 2,4%, e a indústria, com 1,6%.
Pela ótica da despesa, o consumo das famílias, puxado pela queda do desemprego, pela massa salarial real, pela queda da inflação e pelos programas do governo de transferência direta de renda, avançou 3,1% em relação ao ano anterior, enquanto o consumo do governo, dados os maiores gastos realizados, cresceu 1,7%, As exportações de bens e serviços, que têm contribuído para o melhor desempenho do PIB nos últimos anos, cresceram 9,1%, ao passo que as importações recuaram 1,2%, ajudando a garantir um melhor desempenho do setor externo para esse resultado. Nota dissonante, foi a formação bruta de capital fixo (FBKF), que registrou queda de 3%, destacando-se a verificada no setor de máquinas e equipamentos com um recuo de expressivos 9,4%.
Confirmado o bom resultado do ano, as preocupações se voltam, agora, para 2024 e as primeiras previsões não são lá, por enquanto, animadoras, com as projeções médias de crescimento da economia não indo além de 1,5%. Explica-se a razão.
Em primeiro lugar, é importante considerar o fato de que a economia brasileira ingressou num processo de desaceleração/estagnação desde o terceiro trimestre de 2023. A revisão feita pelo IBGE dos dados trimestrais sobre o desempenho da economia no ano passado substituiu o dado antes informado de expansão de 0,1% do terceiro trimestre ante o trimestre anterior para zero (0%). Como o quarto trimestre comparado ao terceiro trimestre registrou também estabilidade, ou seja, expansão nula (0%), a conclusão que se chega é a de que o crescimento foi interrompido em todo o segundo semestre de 2023, apesar dos esforços do governo para estimulá-lo. Tendência que não se mostra nada favorável para a economia em 2024.
Em segundo lugar, a qualidade do crescimento não foi das melhores. Puxado em boa parte pelo consumo das famílias e do governo, não se pode contar muito com a sua contribuição elevada em 2024. O consumo das famílias porque não serão gerados ganhos adicionais com as transferências diretas de renda feitas pelo governo, especialmente com o aumento do valor do Bolsa Família, da redução do desemprego e em menor escala, do salário mínimo real, o que já se refletiu no seu crescimento no quarto trimestre frente ao terceiro quando conheceu um recuo de 0,2%; o consumo do governo por estar limitado pelo compromisso assumido com o novo marco fiscal de atingir uma meta fiscal estabelecida de 0% de déficit primário.
Por outro lado, a formação bruta de capital fixo, que poderia garantir um crescimento mais sustentável para a economia desabou 3%, levando a taxa de investimentos a recuar para 16,5%, que, em 2022, fora de 17,8%. Já a indústria, apesar de ter crescido 1,6%, deve esse resultado à indústria extrativa, que cresceu 8,7% devido à alta na extração de petróleo, do gás natural e do minério de ferro, que explicam o avanço das exportações, enquanto a indústria de transformação, que melhor reflete a força do mercado interno, apresentou um resultado negativo de 1,3%.
Externamente, apesar de terem melhorado os ventos que sopram na economia internacional, não há grandes sinais de melhora no curto prazo. Para o Banco Mundial, depois de crescer 2,6% em 2023, o mundo deve ter a sua performance em meia década desde 1990, com uma sua expansão recuando para 2,4% no ano, projeção praticamente igual à da ONU e um pouco mais pessimista que a da OCDE que está em 2,7%. Já o FMI, de acordo com suas estimativas divulgadas em fevereiro de 2024, o crescimento global deve ficar em 3,1% em 2024, uma expectativa melhor do que a feita em outubro, mas, ainda assim, bem abaixo da média de 3,8% registrada entre 2010 e 2019.
O que pode ajudar a injetar alguma força ao crescimento em 2024 é a continuidade da política de redução da taxa Selic como esperado pelo mercado. Se isso de fato acontecer, pois dependerá do comportamento da inflação, algum estímulo será, de fato, transmitido para a demanda. Mas, neste cenário, será como uma andorinha fazendo verão, provando que o crescimento depende bem mais do que apenas uma baixa taxa de juros.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Conjuntura do departamento de Economia da UFES, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “A economia política clássica: a construção da economia como ciência”, publicado pela Editora Contracorrente, em 2023.
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