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Infraestrutura e Logística

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12 MAI. 2024

Água, chuvas, enchentes: Lições aprendidas... e a aprender

Frederico Bussinger*


“Se tens que lidar com água, consulta primeiro a experiência, depois a razão”
[Leonardo Da Vinci]

“As coisas estão no mundo,
só que eu preciso aprender…”
[Paulinho da Viola]

"A lição sabemos de cor,
só nos resta aprender"
[Beto Guedes]




Herr Blumenau (na verdade, Hermann Bruno Otto Blumenau), alemão, implantou no vale do Rio Itajaí-Açu-SC uma colônia em meados do Século XIX. Esta veio a ser hoje a conhecida, próspera e hospitaleira cidade que leva seu nome.

Consta que, ao se preparar para a viagem de imigração, lembraram-lhe que os índios xoclengues, habitantes da região escolhida, “eram muito violentos”. Aliás, o que também ouvira em viagem precursora, quatro anos antes.

Desembarcou em Itajaí com 16 outros colonos compatriotas. Subiu o rio com todo o cuidado; tomado também ao chegar naquele 2/SET/1850 à foz do Ribeirão Garcia, seu afluente, hoje centro histórico da Cidade.

Afastado dos assentamentos indígenas o local lhe pareceu seguro. Dividiu a gleba entre eles. Edificaram. Plantaram. Colheram.

Passado um tempo, como os “indígenas violentos” não deram o ar da graça, tomaram a iniciativa e resolveram fazer uma aproximação. O cacique os recebeu, em princípio desconfiado, mas sem hostilidades.

Com muito jeito, Herr começou falando das vicissitudes na Europa naqueles tempos; das razões de migração para o Brasil; do “mal jeito” de terem se fixado “nas terras de vocês”.... e tal e coisa. Espantou-se quando o cacique o interrompeu: “mas aquelas terras não são nossas!”. Meio sem jeito, ele ousou perguntar: “então de quem são?”

- “Das águas”, respondeu o cacique!

A história, daí em diante, é conhecida... e justificada com impressionante regularidade: uma primeira enchente ocorreu logo dois anos depois (29/OUT/1852); algo que não deveria ter sido surpresa para Herr que, em carta à família, em 1848, já mencionara as cheias do Itajaí-Açu.

Desde então, já foram 101 enchentes nos registros desses 172 anos (alguns deles com mais de uma): a cota recorde em 1880; a mais longa em 1911; a de 1983, mais lembrada pela extensão dos sofrimentos e danos, numa Blumenau então já fortemente industrializada. O recorde do Século XXI em 2008, enchente que destruiu berços e forçou a paralização do Porto de Itajaí por longo período; e a de 2023, que provocou a suspensão da tradicional Oktoberfest pela primeira vez em seus 39 anos.

De igual modo, os registros de Porto Alegre dão conta de 12 principais cheias em 150 anos: 1873, 1914, 1928, 1936, 1967, 1984, 2002, 2015, 2016, 2023, 2024; além da histórica de 1941 (a maior anteriormente), esta vivida por Mario Quintana que a expressou nos versos de “Reminiscências”.

Dificilmente o cacique ouvira falar de Da Vinci. Mas é certo que testemunhara inúmeras enchentes na região. Seus antepassados outras centenas ou milhares. Curioso é que Herr, químico e farmacêutico com formação sofisticada, se ouvira falar de Da Vinci, não se convencera da importância de, quando se lida com águas, consultar-se primeiro a experiência.
Dito de forma mais direta: quem quer conviver com águas, tem que “negociar” com ela as condições!
Da Vinci; experiências não faltam!

Além dessa lição básica, só ao longo desses quase dois séculos de desastres registrados em várias regiões do Brasil, é possivel arrolar outras evidências, constatações e experiências que poderiam ser sistematizadas também como lições aprendidas; seguindo recomendação de Paulinho da Viola e Beto Guedes:

•    Planos, projetos, obras são importantes; mas manutenção também: aliás, ela é imprescindível! P.ex: ter um sistema de proteção com 68 km de diques, projetado para cheias de até 6 metros, como o de Porto Alegre, mas que, na hora-H se rompe (ainda abaixo dos 5 m); bombas que não funcionam, inexistência de fonte emergencial de energia, ou, pasmem, constatar-se que falta vedação em algumas das 14 comportas (com contato ferro-ferro há vazamento!), é inaceitável! Não?  OBS: no início desta década houve grande polêmica entre os que propunham e os contrários à derrubada de parte dessa estrutura, o “Muro da Mauá”.

•    De igual forma, planos de contingência: não há espaço para improvisações quando a catástrofe já é uma realidade, quando o caos já está instalado. Aí, é o que dá para ser feito!

•    Rios assoreados têm menor capacidade de vazão e transbordam de suas calhas com mais facilidade. Claro que devem ser desassoreados periodicamente. Mas, por que não agir, também, preventivamente? P.ex: manter matas ciliares; evitar ocupações de áreas lindeiras e encostas (esta, fonte maior do material que assoreia os rios); etc.

•    Águas densas, com detritos, fluem com mais dificuldade. Se com pneus, colchões, moveis, geladeiras, entulhos de construção, com mais dificuldade ainda.

Ah! Especificamente sobre a catástrofe gaúcha, em curso, já há uma primeira sistematização de dados/informações, elaborada e divulgada pela UFRGS. Visa dar “suporte à decisão”. E, claro, principalmente à ação!

Enfim; os registros e evidências de Blumenau e Porto Alegre (outros também) indicam que as chuvas têm se tornado mais concentradas, o que amplia os impactos. Mas também indicam que temporais, trombas d´água, chuvas prolongadas, inundações sempre existiram. E são até previsíveis. Ué! Não fosse assim, de onde teria vindo a “experiência” do cacique?

Desafios à frente

Não dá, pois, para, professoralmente, limitar-se a responsabilizar a “mãe-natureza” ou o “aquecimento global” (fenômeno tão amplo, complexo e impessoal); mormente se como álibi para inação pontual/local.

Tampouco apenas cobrar dos poderes públicos (prefeituras, governos estaduais e federal) que, claro, têm responsabilidades; seja pela leniência (deixando que façam o que não poderia ser feito), seja por omissão (do que eles deveriam fazer), seja pelo que e como eles decidem e fazem.

A população, a comunidade, a sociedade, que são as primeiras vítimas das catástrofes, também são parte do problema (no mínimo, no tocante às suas consequências). Mas podem, também, ser parte da solução.

Em síntese: antecipação (eventos), prevenção (impactos), minimização (danos), socorro (afetados), restabelecimento (sistêmico); é estratégia que requer planejamento e gestão, muito facilitada com a participação de todas as partes envolvidas: ou seja, nós!

Aliás, consciência e espírito de solidariedade não faltam à maioria do povo brasileiro, de todas as regiões, como o demonstra essa mobilização em apoio ao RS e sua população. Emocionante!

Vale lembrar que a Holanda, com mais de 1/4 do seu território abaixo do nível do mar, onde abriga mais de 60% de sua população, e metade em áreas a menos de 1m acima dele, acumulou experiências e agiu ao longo dos séculos; particularmente a partir da grande catástrofe de 1953,  para conviver com as ressacas do mar, as chuvas intensas e os degelos; por vezes simultaneamente. É inspirador saber que as mundialmente conhecidas flores holandesas, uma pujante indústria, e cerca de 70% do seu PIB são produzidos abaixo do nível do mar; não?

Mesmo as maiores e mais sofisticadas medidas preventivas, todavia, não impedem a ocorrência de catástrofes. E, também nesses casos, há exemplos inspiradores; p.ex: New Orleans (Furacão Katrina, 23/AGO/2005); Japão (Terremoto e Tsunami, 11/MAR/2011); e New York (Furacão Sandy, 22/OUT/2012), que se reergueram após tê-las vivido/experimentado há poucos anos atrás.

A par dos resgates e do socorro às vítimas (óbvio, a prioridade-zero), e das primeiras ações para restaurar a rotina das pessoas/famílias, e do funcionamento das cidades e da economia, a reconstrução do RS já está em pauta.

Verbas públicas, claro, são importantes; imprescindíveis. Iniciativas e empreendimentos privados, também. Mas seria frustrante, e um erro histórico, se tantas dezenas de bilhões de R$ vierem a ser usados para simplesmente se reconstruir, da mesma forma, o que havia antes dessa catástrofe gaúcha ... sob pena de, indesculpavelmente, negligenciarmos os ensinos do cacique, Paulinho da Viola e, principalmente, de Da Vinci. Várias cidades, p.ex, deverão ter que mudar de localização.

A catástrofe gaúcha, para além de sua dramaticidade, também nos oferece (mais) uma oportunidade (melhor, obrigação!) de transformar a ocupação dos espaços, as infraestruturas, nossas governanças ... e a nós mesmos, na esperança/perspectiva de que volte a raiar um “sol de primavera”.

*Engenheiro Eletricista e Economista, Pós-graduado em Engenharia, Administração de Empresas, Direito da Concorrência e Mediação e Arbitragem.


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COMENTÁRIOS

  • Postado por: Clara Claudete Moraes
    02 MAI. 2025 às 07:16

    Ótim texto. Faz-nos refletir e fazer a nossa parte. Cuidar do que temos, respeitar a natureza e agradecer por existirmos. E pensar seriamente no que disse o Cacique. Deus nos abençoe e proteja sempre

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