Fabrício Augusto de Oliveira*
Como já era esperado, o banco central norte-americano, o FED, cortou, na quarta-feira, dia 18 de setembro, a taxa básica de juros em 50 pontos-base, reduzindo-a para o patamar de 4,75% a 5%, depois de quatro anos mantendo seu nível máximo em 5,5%. A expectativa é a de que sejam realizados mais dois cortes de 25 pontos-base (0,25pp) até o final do ano, quando a mesma atingirá a faixa de 4,25% a 4,5%. Para 2025 estão previstos mais quatro cortes de 0,25pp, fazendo com que a taxa de juros caia para 3,5%, próxima da taxa atualmente considerada neutra pelo FED que, atualmente, é de 2,9%.
A justificativa para a redução dos juros é a de que, embora a inflação continue em queda, tendo atingido 2,5% em agosto e caminhando para a meta estabelecida de 2%, a atividade econômica começa a dar sinais evidentes de desaceleração, com o aumento da taxa de desemprego, que atingiu 4,2%, meio ponto percentual acima do nível quando, em março de 2022, o FED deu início à política de aumento da taxa de juros para debelar a inflação que havia chegado, à época, ao temerário nível de 8,5%, atingindo o pico de 9,1% em junho. Como cabe ao FED não somente o controle da inflação, mas também cuidar para que o crescimento econômico não esmoreça, as tendências do quadro macroeconômico na atualidade estariam exigindo a injeção de mais oxigênio para fortalecer a economia.
No mesmo dia, o banco central brasileiro elevou a taxa de juros Selic em 25 pontos-base, de 10,5% para 10,75%. Com essa elevação, o Brasil passou a ocupar o segundo lugar do mundo com taxa de juros, em termos reais, de 7,33%, apenas perdendo para a Rússia, onde, com uma taxa nominal de 19%, a real chega a 9,05%. Para os que têm aplicações no sistema financeiro, um verdadeiro prêmio que deve aumentar ainda mais, já que estão previstos, de acordo com o comunicado do banco central, novos aumentos dessa taxa até o final do ano.
A justificativa do Comitê de Política Monetária do Bacen, que decidiu pelo aumento da taxa, é a de que a economia tem mostrado sinais inequívocos de aquecimento, com a projeção de que deve crescer em torno de 3% ainda este ano, enquanto a taxa de desemprego atualmente em 6,8% vem gradualmente caindo. Em virtude das pressões de demanda decorrentes deste quadro, a inflação estaria recuperando fôlego e voltando a se acelerar, distanciando-se da meta de 3% estabelecida para este ano. Ou seja, ao contrário dos Estados Unidos estaria ocorrendo, no Brasil, uma aceleração do crescimento que tem pressionado o nível de preços.
Ainda que se possa concordar que de acordo com o receituário da teoria econômica dominante de que a medida mais indicada a ser adotada nessa situação seja o aumento da taxa de juros para esfriar a demanda e, com isso, frear o ímpeto inflacionário, pode-se perfeitamente discordar da magnitude atual da taxa de juros no Brasil, que se apresenta como uma das mais altas do mundo, e da oportunidade de seu aumento, que pode ser considerado desnecessário como alguns números podem comprovar.
Em termos do juro real, o nível de 7,33% é superior ao do país que se classifica em terceiro lugar, como a Turquia, com uma taxa de 5,47% e à do México, quarto lugar, com 5,45%, mas fantasticamente elevado quando se considera a média mundial de juros reais que estão estimados em 0,63%. Tamanha distância entre o Brasil e mundo significa que o país continua dando continuidade à transferência vergonhosa da riqueza produzida, bem mais que o resto do mundo, para os detentores da riqueza financeira, criando dificuldades adicionais para dar forças ao crescimento econômico, dado o nível exagerado da taxa de juros.
Depois de passar quase todo o seu terceiro mandato reclamando deste nível exagerado da taxa de juros e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela falta de empenho para reduzi-la, Lula não deve mais se manifestar sobre essa retomada do aumento da Selic. Isso por ter sido novamente unânime a decisão e ter contado também com o voto de Gabriel Galípolo, por ele indicado, para assumir proximamente o comando do Banco Central. Sua fala de 30 de agosto de que “se o Galípolo aumentar os juros, tudo bem” deixa isso bem claro. De repente, ficamos sabendo que a desavença de Lula com Campos Neto não era bem por ele supostamente estar atuando como parceiro do time de capitalistas da Faria Lima, mas por ter sido indicado por Bolsonaro. Com Galípolo, seu indicado, os juros podem aumentar à vontade, exigindo-se apenas que haja uma explicação para isso. Lamentável.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura da UFES, articulista do Debates em Rede e autor, entre outros, do livro “A economia política clássica: a construção da economia como ciência”, publicado pela Editora contracorrente em 2023.
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