Por Erlon José Paschoal*
Muitas vezes ouvimos que “a direita sabe usar muito bem as redes sociais”, e podemos nos perguntar o que isso significa exatamente. Seria porque esses extremistas cometem todos os tipos de crimes virtuais e ficam impunes? Por espalharem mentiras, calúnias, difamações, falsidades diversas e ficarem impunes? Nesse caso seria preciso então analisar por que eles cometem todas essas atrocidades nas redes e continuam impunes. Quem os protege, afinal? Seria talvez uma parte do Judiciário comprometida com a extrema-direita que finge não ver esses descalabros, e por isso não faz qualquer menção de punir tais extremistas? Nem mesmo os falsificadores de laudos e os que atribuem falsos crimes aos adversários de maneira acintosa no dia da eleição?
O campo progressista é instigado a todo momento a fazer autocrítica e a reconhecer impositivamente que não consegue mais mobilizar o cidadão comum, sobretudo, os jovens das periferias e do campo, para defender e lutar por mudanças estruturais na sociedade. Isso, em si, é algo relevante e merece ser levado em consideração, mas isso poderia significar, porventura, que esse mesmo campo teria de divulgar nas redes as mesmas aberrações ou outras similares às da extrema-direita e de seus cúmplices endinheirados que investem pesado nessas mídias? De maneira alguma!
Seria preciso antes entender como a extrema-direita consegue articular nas redes sociais multidões de seguidores e de lacradores, através da exacerbação do ódio e do fanatismo, misturado com comportamentos pseudo-religiosos neopentecostais e com ideias neoliberais sedutoras de liberdade empreendedora e de enriquecimento rápido. E como em um passe de mágica midiática, todos passaram a aceitar o Mal como algo normal, palatável, moralizante e inovador, por incrível que pareça. Vimos também como a mídia hegemônica golpista, sórdida e mau-caráter e as milícias digitais bozonazis se exercitaram no jogo sujo de difamar, açoitar e linchar publicamente líderes da oposição, sobretudo Lula, o seu símbolo maior, até que sua prisão fosse decretada pelos impostores da Farsa a Jato, mesmo sem crimes e sem provas, com STF, com tudo. Sem esquecer também a famosa fakada de fora do juiz parceiro, uma farsa mal feita e escandalosa, cujos autores desfilam até hoje impunemente exibindo a sua arrogância e desfaçatez. Naturalizou-se, por fim, a chamada disputa de narrativas, o fervor religioso despótico e a criação de realidades paralelas, com o objetivo de manipular corações e mentes.
Sabemos, por sua vez, que há pelo menos duas décadas organizações e entidades diversas da direita neoliberal aplica muito capital em mídias online diversas para a propagação em massa de suas ideias e objetivando também de angariar novos membros. Articulado a tudo isso, a frente neoliberal criou uma rede de movimentos políticos, organizações culturais, instituições educacionais e ONGs, entre eles, o Instituto Milenium, o Instituto Liberal, o Instituto von Mises Brasil, o Movimento Brasil Competitivo, o Grupo Lide, a Frente Parlamentar Agropecuária e seus subgrupos MBL, Renova Br e o Brasil Paralelo, todos financiados por grandes empresários brasileiros e norte-americanos, além dos inúmeros influencers fraudulentos. Mas o que fazer nesse contexto?
Seria necessário, então, ao que tudo indica, trilhar um caminho semelhante, mas com objetivos diversos, e investir através de instituições públicas do governo federal em parceria com governos locais também progressistas, na formação sociopolítica dos jovens e, ao mesmo tempo, estabelecer formas de regulação e de punição imediata de crimes cibernéticos. Algo nada fácil, mas totalmente viável, e que deveria começar imediatamente, antes que seja tarde. Por exemplo, os Ministérios da Cultura, do Meio Ambiente, da Educação, dos Direitos Humanos e do Trabalho poderiam implementar firmemente nesse sentido, programas e ações sociais abrangentes, formando mobilizadores e agentes para atuarem em todo país, como linha de frente desses possíveis programas.
É uma questão urgente e necessária para estimular em grande parte da população a criação de novas utopias visando à construção coletiva de um país mais justo e solidário. Não se trata apenas de ganhar eleições, mas de incentivar o senso crítico e uma compreensão mais completa, para além dos índices econômicos positivos, da realidade na qual estamos inseridos nesse início do século XXI, com a extrema-direita cada vez mais forte no mundo e com genocídios impunes mostrados ao vivo nas redes sociais. Não vai ser fácil, mas lutar é preciso!
*Gestor Cultural, Diretor de Teatro, Dramaturgo, Professor e Tradutor de Alemão.