Por Marcia Machado*
Este 08 de março de 2025 vem atravessado pela vitória pública, em dimensões planetárias, da luta de uma mulher: Eunice Paiva!
Eunice Paiva foi uma das mais importantes ativista política e defensora dos direitos humanos no Brasil, especialmente conhecida por sua luta durante o período da ditadura militar (1964-1985). Era casada com Rubens Paiva, um deputado federal cassado pelo regime militar e que foi preso, torturado e desaparecido em 1971. Após o desaparecimento de seu marido, dedicou sua vida a buscar justiça e a denunciar as violações de direitos humanos cometidas pelo regime.
Tornou-se um símbolo da resistência contra a ditadura, lutando incansavelmente para descobrir o paradeiro de Rubens Paiva e para responsabilizar os agentes do Estado envolvidos em crimes contra a humanidade. Sua coragem e persistência a transformaram em uma voz importante para outras famílias de desaparecidos políticos, ajudando a manter viva a memória das vítimas da repressão.
Além de sua luta pessoal, participou de diversos movimentos e organizações de direitos humanos, em especial na luta dos povos originários, contribuindo para a redemocratização do Brasil e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Sua trajetória é um exemplo de resistência e dedicação à causa dos direitos humanos e da justiça. Faleceu em 2016, mas seu legado continua inspirando novas gerações na luta pela memória, verdade e justiça.
O filme de Walter Salles com a brilhante atuação de Fernanda Torres, que deu vida a esse personagem, com beleza, sensibilidade e sinceridade, fez com que “Ainda estou aqui”, além de ser uma grande obra de arte do cinema brasileiro, assume papel basilar na atual conjuntura política brasileira, porque além de trazer a narrativa da luta de uma mulher, que percebeu como poucos, que as lutas precisam ir além do indivíduo, para se transformarem num objeto querido e amado pela maioria de um povo, fez com que todos nós, que de um modo ou de outro, que vivenciaram a ditadura militar, algumas ainda vivas para nos contar, outras como eu, que participaram da luta da redemocratização do país (através, inclusive de nossas entidades sindicais, sendo o SINPRO-ES - entidade da base de nossa CTB-ES, um dos bastiões de resistência à ditadura no ES), e que por longos 21 anos, nos sentimos ameaçados pela Lei de Segurança Nacional e pelos porões da ditatura, que aqui no nosso Estado, sediou alguns deles, que cometeram todas as atrocidades de um estado que se coloca além da lei e da legalidade.
A memória dessa história precisa ser resgatada e contada aos capixabas para que se pense muito antes de aderir a projetos golpistas e antidemocráticos com vimos acontecer em passado muito recente, para ser mais exata, no período que vai de 2016 a 2022. Por isso festejamos este filme, como merecia ser festejado pela conquista do maior prêmio do cinema no mundo – o Oscar, mas, não como uma copa do mundo, como a imprensa corporativa tentou disseminar, mas como uma unidade, há muito tempo não vista e nem sentida neste Brasil, na defesa da democracia e do respeito aos direitos humanos, pois, em alguns ajudará avivar a memória de algo que não deve ser esquecido, para outros, em especial, para as novas gerações, que só conhecem palidamente essa história, saibam que já vivemos e sofremos tempos sombrios neste país. Como dizem as Mães da Praça de Maio, na Argentina: Ni olvido ni perdón!
Por tudo isso: Eunice Paiva, você nos representa! Sua luta não foi em vão! Ditadura militar, nunca mais
*Doutoranda em História (UFES) e Secretária Geral da CTB-ES
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