Ester Abreu Vieira de Oliveira*
É um prazer e fonte de conhecimento ler ensaios de Gabriel Augusto de Mello Bittencour (Cachoeiro de Itapemirim, 21-12-1942 - 18 de dez 2024), formado em Historia - Ufes e professor na Ufes de 1978 a 1990, Mestre e Doutor em Direito, Diplomado na Sorbonne, e Mestre em História.
Gabriel teve uma carreira profícua: aposentou-se pela UFRJ, foi Prof do Curso de Direito da Gama Filho, responsável pela fundação do Curso de Direito na Estácio de Sá, Presidente de Honra do IHGES e da AEL, membro de Academias a de História Internacional em Portugal, a do Uruguai, da Bolívia, e da Espanha. Tem mais de 300 trabalhos publicados – livros, monografias, artigos, discursos, conferências, e ensaios, e recebeu muitas homenagens, e condecorações.
Suas obras são fonte de estudo, principalmente sobre o ES. Elas se tornaram clássicas e de obrigatória leitura para quem queira conhecer dados históricos de nosso Estado. Exemplos são: Imigração - A Moderna Ocupação e Povoamento do Brasil e do Espírito Santo – 2017 –Formar, e Indústria – A Modernização do E Santo – 2011 - PMV Sesc Cultura Coleção José Costa - AEL.
Ao ler qualquer uma delas o leitor acompanhará passo a passo, num ir e vir, as alterações que o Estado veio sofrendo no setor industrial acompanhando a política do Brasil Colônia, Império e República.
Em Imigração - A Moderna Ocupação e Povoamento do Brasil e do Espírito Santo, Gabriel desenvolve a história da imigração em terras capixabas em 12 capítulos. Aborda aspectos sociais e econômicos, e apresenta a posse da terra até o séc XIX. Menciona o advento do café, a extensão do tráfico e abolição dos escravos, as vias de comunicação, a imigração italiana e alemã e a expansão agrícola.
Em Indústria – A Modernização do E Santo, o autor faz um estudo da história da indústria do ES do período colonial (época da Capitania do ES) ao séc XX (década de 90). Assim apresenta a produção artesanal, a de açúcar e farinha de mandioca e algodão, até a modernização industrial na segunda metade do séc XX. Ele menciona os esforços do Presidente do ES Moniz Freire para a melhoria do transporte, como um auxiliar à exportação para o mercado internacional, durante o Império; os esforços do Governador Jerônimo Monteiro para criar uma indústria no ES, o empenho do período militar de 64 a 1984, e cita as diligências dos governadores Lindemberg, Jones Santos Neves, e Vitor Buaiz.
O escritor esclarece que até o séc XIX o açúcar proporcionou o aparecimento de vilas, marcou a identidade cultural assinalada pela massa indígena que foi a primeira aculturação dos portugueses e jesuítas, depois pelo negro africano. Mostra que, depois dos anos 1850 -1870, a ocupação da lavoura de café se intensificou com a presença de italianos. Ele enfatiza que no séc XVI a capitania do ES se destacava pelo gado, algodão, engenhos de açúcar, madeiras de cedros e de apus de bálsamo (para remédio de feridas e confecções de rosários). A Vila de Nossa Senhora da Vitória, nessa época, contava com mais de 150 “vizinhos”, em declaração de Fernão Cardin, e que Vitória era mais importante que o Rio de Janeiro (p. 21) e que o ES era a 3ª. Capitania maior produtora de açúcar, e que havia larga produção de farinha de mandioca, base alimentar da população. A decadência da capitania ocorreu após 1630 (séc XVII), após 1759, com a expulsão dos jesuítas, por ela ter perdido sua produção. Mas após 1770, a Capitania revigorou por ligação marítima, exportação de madeira, açúcar, e algodão, depois o linho e o cânhamo (p. 28). E no séc. XIX (p. 31) houve um esforço industrializante e desenvolvimento econômico com a produção rudimentar de couro (o mangue foi o auxiliador da limpeza), com a fabricação de cal (por ostras) e, em primeiro lugar, continuava a produção de açúcar (em Linhares e Vale de Itapemirim). Mas só no séc. XIX (1828) com a criação de Bancos e Caixa de Descontos e com as novas máquinas que a fabricação artesanal da indústria têxtil começou a diminuir.
Gabriel vai citar nesse caminhar histórico a contribuição de presidentes e governadores e destaca (p. 59) que, no início do século XX, houve desvalorização do café, e a construção de estrada de ferro no sul do Estado comprometendo a economia do Estado, diminuição do tesouro, ocorrendo fracassos nos primeiros esforços de industrialização (p. 53) e vai destacar o olhar de Jerônimo Monteiro para a diversidade agrícola, o movimento fabril e reformas no colégio Jesuíta (Palácio), entre outras modificações para modernização urbana e indústria elétrica. Declara o autor que (p. 135), no início do ciclo industrial, a partir de 1930, a economia do ES apontava para o café.
Continua o escritor mostrando o caminhar do ES para a modernização e seus percalços, citando alguns governos e épocas. Com Lindemberg, 1947, houve obras públicas, investimento em usinas hidrelétricas, como importante base para o desenvolvimento da indústria. E, em 1950, no governo de Jonas dos Santos Neves, com o Plano de Valorização Econômica do ES, houve a implantação do Porto de Vitoria, ampliação da energia elétrica abertura de rodovias, melhoras como o Moinho de Trigo Buaiz, Fábrica de Cimento, em Cachoeiro de Itapemirim, na Fazenda Monte Líbano, Jucutuquara Industrial, e fábrica de tecidos em Cachoeiro. Mas, nessa época, ficou desativada a Fábrica de linho em Carapina. As atividades industriais começaram com a Fábrica Itapuã de calçados em Cachoeiro de Itapemirim (1956); expansão da Cia Vale do Rio Doce e da Ferro e Aço de Vitória, 1976; e expansão de energia elétrica – Sistema da Escelsa. Com os projetos de impacto (p. 168), a segunda ponte, paralela à Florentino Ávidos de 1927, ampliou a ligação Vitória e o continente e foi prevista a terceira ponte que foi inaugurada em 1981. A Condusa urbanizou a Ilha do Príncipe. Criou-se Estação Rodoviária de Vitória. Concluiu-se o Porto de Copuaba - Corrredor de Exportação, e houve conclusão do Porto de Praia Mole (p. 169), destinado à exportação de produtos siderúrgicos; construção do Portocel – complexo Aracruz Celulose, em Barra do Riacho, e, no Porto de Ubu, fundou-se o complexo de pelotização da Samarco-Macona e alguns empreendimentos na Civit. Cita Gabriel que a industrialização dos anos de 1980 se inicia no governo de Eurico Rezende (1979) com o projeto do ES como polo alternativo de desenvolvimento da Região Sudeste. Para isso melhoram as rodovias (p. 170) e concluiu-se a CST no Planalto de Carapina. Assim teria o Porto do Tubarão, da Cia Vale do Rio Doce e o Complexo industrial de Ubu. Com a proposta de incentivos fiscais surge (p. 178) a Realcafé Solúvel do Brasil em Viana para beneficiar o café conilon (africano) e a criação da CODES- Cia de Desenvolvimento do ES para Estudos da Economia Regional, a criação o Programa Nacional do Álcool PROÁLCOOL- com a participação significativa do plantio da cana em Usinas de Paineira (Itapemirim), Presidente Kennnedy, Atilio Vivacqua e Mimoso do Sul, ocorreu no ES rápida implantação do Proálcool. Em 1990, com a transformação de recursos florestais pela Aracruz Celulose e o setor de Petróleo (p.189) houve fortes mudanças. E, na administração do governo Collor, o complexo portuário do ES tornou-se o maior do Brasil em volume e carga movimentada, tornando o maior complexo portuário da America Latina. E, se tudo começou durante a Capitania Heriditária com o açúcar (p 211) deu o café uma dinâmica portuária e o minério de ferro continua destacando na exportação do porto capixaba. Mas, em meados de 1990, a economia capixaba diminuiu. Houve privatização e mudanças social e política. Muitas empresas encerram suas atividade, como a Chocolate Garoto e Brás Pérola, e fracassou a Cia Ferro e Aço de Vitoria que era a única em toda América do Sul a produzir perfis de aço para construção de torre para transmissão de energia. Porém, segundo Gabriel, se a riqueza capixaba produtiva no campo do Petróleo está se firmando, deve-se criar lei de investimento empresarial incentivar novos setores além do produtivo campo da celulose, minério e petróleo, mas competem incentivos de política estaduais de incentivo ao desenvolvimento, e, no setor agro-industrial, falta estrutura logística portuária para exportação de álcool, já que a economia do ES divulgado pelo INGE alcançou em 2002 crescimento de 6%.
Procuramos apresentar algumas pérolas da evolução da modernização do ES apresentada por Gabriel Bittencour, encontrada numa obra rica de referências. Lê-la faz-se necessária.
* Profa. Emérita da Ufes, poeta, ensaísta, contista, tradutora, autora de livros didáticos e infantis, pertencente a entidades culturais.
Não há comentários postados até o momento. Seja o primeiro!