Fabrício Augusto de Oliveira*
Não restam dúvidas de que a economia brasileira ingressou num processo de desaceleração. De acordo com o IBGE, depois de crescer 1,4% no primeiro trimestre de 2025, no segundo essa expansão caiu para apenas 0,4% em relação ao trimestre anterior. Dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), conhecido como prévia do PIB, divulgados pelo Banco Central, mostram uma queda de 0,1% no mês de junho e de 0,5% em julho, indicando que o crescimento este ano dificilmente reeditará o desempenho de 2024, quando este conheceu um avanço de 3,4%. Atualmente, as expectativas do mercado divulgadas no Boletim Focus, de 15 de setembro, são de um aumento do PIB de 2,16%, enquanto para outras instituições, como o FMI e o Banco Mundial, com projeções mais desatualizadas, já apostavam em crescimento de 2,3% e 2,4%, respectivamente. Dadas as condições atuais da economia brasileira e mundial, não deixam de ser um resultado que, se atingido, pode ser comemorado.
Não são poucos os fatores que têm obstado o crescimento no país. Em primeiro lugar, a alta taxa de juros, a Selic, que o Banco Central decidiu, na última reunião, manter no patamar nominal de 15%, que corresponde a uma taxa, em termos reais, de 10%, limitadora do investimento e do consumo, apesar do recuo da inflação, tendo-se contado, inclusive, com uma deflação de 0,11% no mês de agosto. Em segundo, o tarifaço do governo Trump dos Estados Unidos, estabelecido com objetivos meramente políticos para salvar o neandertal Jair Messias Bolsonaro da condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que tem afetado o nível de exportações brasileiras para os Estados Unidos. Em terceiro, as limitações crescentes dos gastos governamentais para impulsionar a atividade econômica, dadas as metas estabelecidas no arcabouço fiscal, que, se descumpridas, são capazes de assombrar os investidores com o avanço mais rápido do endividamento do Estado.
Este desempenho do PIB no Brasil tem sido garantido principalmente pelo consumo das famílias. Com um mercado de trabalho aquecido e a taxa de desemprego reduzida para 5,6% da força de trabalho, um recorde desde 2012, quando teve início a série histórica deste indicador, e com o rendimento do trabalhador se elevando, somados aos benefícios dos programas sociais destinados à população mais carente, o consumo das famílias cresceu 4,8% em 2024, mas tem perdido força em 2025, com expansão de 2,6% no primeiro trimestre de e apenas 0,4% no segundo. Em contrapartida, a formação bruta de capital fixo (FBKF), tem oscilado entre períodos de expansão e de contração, mas sem se distanciar de uma taxa de investimento de apenas 17% do PIB, indicando não ser sustentável o crescimento no longo prazo baseado no consumo das famílias. Já o consumo do governo, após ter contribuído para a expansão do PIB em 2024, com um crescimento de 1,9%, em 2025 emplacou dois trimestres consecutivos de queda, com retração de 0,6% em cada um deles.
Nos Estados Unidos, aos sinais de desaceleração da atividade econômica emitidos por alguns indicadores econômicos e o temor de estar se caminhando para uma recessão, o Banco Central (o FED) respondeu com um primeiro movimento de redução das taxas de juros, no dia 17 de setembro, do intervalo de 4,25%-4,5% para 4,00%-4,25%. Isso, apesar da inflação acumulada em 12 meses de 2,9% até agosto se encontrar acima da meta de 2%. Já a atividade econômica do país depois de se contrair 0,5% no primeiro trimestre, conheceu uma expansão de 3,3% no segundo, explicado pela redução das importações devido ao tarifaço de Trump. Mas o mercado de trabalho registrou a criação de apenas 22 mil empregos em agosto contra 79 mil em julho, elevando a taxa de desemprego para 4,3% ante 4,2% em julho. Seriam estes os principais indicadores que o FED considerou para dar início à redução dos juros, visando azeitar a economia e protegê-la de uma possível recessão, não se podendo descartar que também as pressões do governo Trump para sua redução pode também ter influenciado essa queda.
Já no Brasil, onde a política monetária é mais rigorosa e mais afinada com as expectativas do mercado, o Banco Central não ousou dar início à redução dos juros, mantendo-a em 15%, em termos nominais, mesmo com os seguidos recuos da taxa de inflação e com os sinais claros de desaceleração da economia, justificando a decisão como meio para refrear as compras de um mercado de trabalho superaquecido com o objetivo de trazer a inflação para dentro da meta. Isso sem as vozes dissonantes dos antigos críticos dessa política, incluindo a do presidente Lula.
*Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Conjuntura do departamento de Economia da UFES, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “Karl Marx: a luta pela emancipação humana e a crítica da economia política (1818-1883), publicado pela Editora Contracorrente, em 2025.
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