Fabrício Augusto de Oliveira*
O ministro das Finanças de Israel, Belazel Smotrich, praticamente desmentiu o primeiro-ministro, Netanyahu, de que o objetivo da guerra de seu país contra os palestinos da Faixa de Gaza é o de destruir o Hamas, grupo terrorista tido como inimigo dos judeus. Em declarações feitas durante uma conferência em Tel Aviv, Belazel revela a verdadeira motivação na destruição desse território que é, para ele, “uma mina potencial de ouro imobiliária”, cujos ganhos com a conquista serão divididos com o governo dos Estados Unidos. Para isso, afirma já ter iniciado as negociações com o governo de Donald Trump sobre como dividir o enclave após a guerra.
Não poderia ser mais claro a respeito da destruição da Faixa de Gaza ser motivada principalmente por negócios: “pagamos um preço muito alto por essa guerra. [Agora] precisamos dividir a [região] em porcentagens [para Israel e os Estados Unidos]. A demolição, a primeira etapa da renovação da cidade já está feita. Agora, precisamos construir”. E, sem temor de ser sincero: “existe um plano de negócios elaborado pelas pessoas mais qualificadas daqui que está na mesa do presidente Trump”, acrescentando que “já iniciou as negociações com os americanos.
Isso explica porque Netanyahu, apesar das fortes críticas e oposição que vem enfrentando do resto do mundo ao genocídio que o seu país tem realizado na Faixa de Gaza, tem insistido em sua continuidade, justificando-a como necessária para liquidar, de vez, o Hamas, quando, na verdade, seu interesse é o de se apropriar dessa região, expulsando os palestinos ali residentes, para explorá-la com negócios imobiliários. E também porque Trump, que apoia incondicionalmente Israel nessa jornada genocida, defende essa ação e se recusa, apesar dos apelos internacionais, a mover um dedo para pôr um fim à limpeza étnica que sendo feita com o povo palestino em Gaza.
Trump está de olho nos negócios potenciais que oferece a Faixa de Gaza há muito tempo. Em fevereiro deste ano publicou um vídeo da Inteligência Artificial (IA) que mostra a região transformada em resorts de luxo. Nas imagens, vê-se piscinas, iates, restaurantes e prédios de luxo, substituindo o cenário de destruição completa e dos escombros que dela sobrou na atualidade, transformando-a em um éden na terra. O plano, segundo ele, contempla expulsar os palestinos do enclave e construir um complexo de resorts. Seria o que ele chama de Riviera do Oriente Médio. Nas imagens, ele ainda aparece na forma de uma estátua dourada como o poderoso senhor de Gaza, com uma inscrição mais ao fundo com a frase: “Trump Gaza”. Netanyahu, ao seu lado, é retratado também na forma de uma estátua, desfrutando as delícias de um luxuoso hotel, enquanto Elon Musk, então seu inseparável companheiro na tosquia da humanidade, joga dinheiro para o alto na areia da praia, recebendo aplausos dos turistas. Uma ignomínia.
Embora o vídeo tenha conhecido um repúdio geral do mundo civilizado, Trump não parece ter desistido da ideia, pela fala de Belazel. O mais certo é quem tenha sido firmado um acordo com Netanyahu para não interromper a guerra, enquanto os palestinos não forem expulsos da região e essa ficar livre para implementar seu plano de negócios. Só isso pode explicar o apoio total e incondicional que continua sendo dado por ele a Netanyahu, um pária internacional, que continua firme em seu propósito de “limpar” de vez a Faixa de Gaza dos palestinos, expulsando-os para outras regiões. Nada mais vergonhoso para um presidente dos Estados Unidos do que se aliar a um inescrupuloso e sanguinário criminoso como o primeiro-ministro de Israel, com ordem de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional, para sujar as mãos em troca de um dinheiro aparentemente fácil, mas que, poderá ser obtido às custas da vida de dezenas de milhares dos palestinos, manchando a humanidade.
Trump, assim como Netanyahu, não tem a menor empatia pela vida humana, podendo-se classificá-los no grupo dos sociopatas ou, numa classificação mais rigorosa, dos psicopatas. Para o primeiro, vale tudo para atingir seus objetivos egoístas e financeiros, incluindo a destruição das bases da democracia americana e a perseguição incansável de seus críticos, respaldado pela pior Corte Suprema americana que o país já teve em sua história. Para o segundo, da mesma índole, que balança no poder há tempos em Israel, por seu autoritarismo, também vale tudo para nele se manter e garantir as benesses que o mesmo propicia, incluindo a “missão” de promover a limpeza étnica dos palestinos. O que a história não perdoará.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura da UFES, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “Karl Marx: a luta pela emancipação humana e a crítica da Economia Política”, publicado pela Editora Contracorrente, em 2025.
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