Fabrício Augusto de Oliveira*
No dia 19 de outubro, o Banco Central dos Estados Unidos, o FED, reduziu a taxa de juros básica da economia do intervalo de 4-4,25% para 3,75-4%, dando continuidade à política de seu corte iniciada em setembro deste ano. A justificativa para essa medida foi a de que os riscos negativos ao emprego aumentaram nos últimos meses, com a taxa de desemprego subindo, sendo de responsabilidade da autoridade monetária zelar para manter o equilíbrio entre a taxa de inflação e a atividade econômica.
Por lá, a inflação anualizada no mês de setembro atingiu 3,1%, indicando aceleração, acima da meta de 2%. Em termos do juro real, aplicando a fórmula para o seu cálculo, Juro Real = [(1 + juro nominal) / (1 + inflação)] – 1 x 100, tem-se que a mesma representa para o investidor/consumidor americano uma taxa de 0,87%.
No dia 30 de outubro, o Banco Central Europeu (BCE), manteve inalteradas as taxas de juros pela terceira reunião seguida em 2%, apesar de apontar as incertezas do cenário mundial, devido, principalmente, às disputas comerciais globais em curso e às tensões geopolíticas. Como a inflação na Zona do Euro anda em torno de 2% - a projeção do BCE é de que a mesma fique em 2,1% em 2025 -, em termos do juro real seu custo é zero para investidores e consumidores.
Na Inglaterra, com uma taxa de inflação de 3,8%, também acima da meta de 2%, o Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra, decidiu manter a taxa de juros em 4%, no dia 06 de novembro. Isso significa taxas de juros reais de 0,19%, uma condição também favorável para o consumo e o investimento.
Em todas essas situações, com taxas de juros reais baixa, zerada ou negativa, quem sai ganhando é o próprio governo, à medida que seus custos para a dívida pública são baixos ou mesmo nulos, além, obviamente, da economia.
No Brasil, com inflação em queda, que atingiu, em termos anualizado, 4,68% no mês de outubro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, pela terceira reunião seguida, manter, no dia 05 de novembro, a taxa nominal de juros (a Selic) em 15%. Sua justificativa é a de que o cenário externo se mantém incerto por causa da conjuntura e da política econômica dos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Por isso, a necessidade de cautela na condução da política monetária, destacando que os juros deverão permanecer ainda altos por um período prolongado.
Diferentemente dos Estados Unidos, da Zona do Euro e da Inglaterra, a taxa de juros real no Brasil é indecente e joga contra a atividade econômica, o emprego e os investimentos. Considerando que a inflação tem caminhado, em boa parte devido à desaceleração da economia, para situar-se dentro do intervalo da meta de 1,5%-4,5% ainda este ano, não há justificativa técnica para manter o juro real em 9,85%, um nível proibitivo tanto para o consumo para o investimento e um desastre para os níveis de endividamento do país, que tanto atemoriza o mercado financeiro.
Não estranha, assim, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que se preocupa mais com o crescimento do país, tenha entrado em modo desespero, criticando o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, por insistir em manter a taxa de juros nominal no nível atual, considerando-a uma decisão totalmente equivocada tecnicamente. Mesmo porque, nesse nível não existe a menor possibilidade de que a atividade econômica volte a florescer, além de impor um custo muito alto para a dívida pública, que representa um mínimo de 80% do déficit nominal das contas do governo federal.
Galípolo foi indicado por Haddad para a presidência do Banco Central e saudado por Lula como um economista que colocaria a trajetória dos juros em níveis condizentes com a realidade econômica do Brasil e que poria um fim à sangria desnecessária que os seus encargos representam para a dívida pública. Não fez nem uma nem outra coisa. Pelo contrário. Tido entre seus pares como um economista heterodoxo, do qual estes se recusam a formular quaisquer críticas, tem se revelado, na verdade, assim como os demais indicados por Lula para o Banco Central, como representante incansável do capital financeiro e verdadeiro inimigo da atividade econômica.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura da UFES, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “Karl Marx: a luta pela emancipação humana e a crítica da Economia Política”, publicado pela Editora Contracorrente, em 2025.
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