Anaximandro Amorim*
Responda rápido, querido leitor: você conhece algum babaca? Com certeza, respondeu que sim. Sempre tem um. Quando não é a gente! Mas, se você não é babaca, já deve ter sido, alguma vez. Senão, tome cuidado para não ser. Eu não sou, mas, certamente, já fui. E deve haver quem ache que eu seja. Porque babaca não ser estado de espírito. Babaca é coisa de momento.
A primeira vez que ouvi essa palavra, "babaca", foi na letra da música "O quê que ela tem que eu não tenho?", do grupo "Afrodite se Quiser". Corriam os (já não mais tão cândidos) anos 1980. Era o programa do Chacrinha e o Velho Guerreiro, ao ouvir a palavra, repetia, com sua voz alta e esganiçada "babaca", balançando a pança e apertando sua buzina. E eu, do outro lado da tela da tevê, "embasbacado": ba-ba-ca. Até sonora era a palavra. "Mãe? O quê que é babaca?"
Descobri que havia babaca em um monte de língua. É porque babaca tem em todo lugar. Em inglês é asshole. Se você sabe inglês e decompuser essa palavra, verá que ela é até mais forte (e mais suja) que em português. Mas é o francês, minha língua preferida, que bate de longe no quesito: babaca é con. Mas há as variantes connard (e o feminino connasse) e um sem número de expressões: joli con, vieux con, sale con, grand con... É muita babaquice pra uma língua só!
Falando em francês, foi em uma palestra a respeito de didática da língua que ouvi aquilo que eu falei, lá em cima: todo mundo é babaca. Foi de um professor de Brasília. Ele disse que, "sem querer", havia parado seu carro na vaga de idoso, em um Shopping da Capital Federal. Questionado por uma senhora se ele estava na terceira idade, ele respondeu: "Vai demorar um pouquinho até eu chegar lá!". E a mulher o olhando, com cara de babaca. E ele, sem perceber que era o babaca da vez.
Quando você diz "É pavê ou pra comer?", você é babaca; Quando você diz: "Sentou na cabeceira da mesa, vai pagar a conta!", você é babaca; Quando você bate no ombro esquerdo do seu amigo e olha para ele pelo lado direito, você é babaca; Mas, quando você fura a fila, você é babaca; Quando você faz piada racista, machista ou homofóbica, você é babaca; Quando você não recolhe o cocô do cachorro, você é babaca; Quando você corta pela direita ou não respeita a faixa ou pega o corredor, você é babaca. E como tem babaca!
Numa época em que bom senso parece artigo de luxo, babaquice é o que mais se vê por aí. Apesar de haver muita babaquice no politicamente correto, também. Aliás, tem gente que acha o politicamente correto uma grande babaquice. Como deve ter gente achando babaquice essa crônica. Babaquice não tem grau. Ou se é babaca, ou se não é. Concordo com meu colega brasiliense. Ser babaca só precisa de oportunidade. Todo cuidado é pouco.
* Advogado e Escritor.