Por Adolfo Breder
O Rio de Janeiro sempre foi o cartão postal do Brasil. Colírio diário para nossos olhos e, para os visitantes, a lembrança da leveza nos contatos com o carioca - sempre aberto ao papo... Agora a coisa está feia. O Rio é a metáfora da desordem institucional, moral, política e administrativa do nosso país.
Acredite se quiser, a polícia está pedindo doação de gêneros variados para poder funcionar adequadamente (?). Papel higiênico não pode faltar! As UPPs, um projeto militar que queria parecer social, não mais impõem suas presenças. Todos os dias carros trafegam na contramão, nas vias expressas de todas as cores, para não caírem nas malhas dos arrastões...
A inflação oficial é de um dígito, mas o governadorzão, já em pé, quer reter trinta por cento dos salários dos desesperados servidores. Façam as contas e vão perceber que, de um salário baixo, pode representar a porta de entrada para a miséria!
O “futuro da nação” ainda está na escola. Meninos e meninas, que fizeram provas do ENEM neste fim de semana, estão inconformados com o que os espera. Ocupam os espaços destroçados em que a educação é tratada como instrução. Querem pensar, discutir, entender criticamente os caminhos que ainda vão percorrer. Querem autonomia. Incomodam quem só pensa nas questões domésticas e me lembram dos meus tempos de UFRJ. Chegávamos nas madrugadas na Ilha do Fundão, antes que os agentes da ditadura agissem, para colar os cartazes, ocupando espaços que nos levaram a reconquistar o DCE – Diretório Central dos Estudantes.
A olim-PIADA DE MAU GOSTO deve ter enchido os bolsos de muita gente por aí. Algumas obras de aparência duvidosa, um VLT que só anda vazio, parte do circo desmontado rapidamente depois do espetáculo final e as dívidas, ficaram para quem? Na avenida Brasil colocaram um enorme cartaz, avisando que a obra do BRT prosseguiria em setembro. Só esqueceram de dizer de que ano.
O Teleférico do Alemão parou PARA MANUTENÇÃO após os jogos. A nova concessionária acabou de devolver sua administração para o governo do estado. Seu funcionamento continua congelado, mas ostenta uma faixa nova de boas-vindas e uma de suas escadas rolantes constantemente em funcionamento, consumindo energia. Do outro lado, na siamesa estação de trem de Bonsucesso, a escada rolante está desativada há meses!.
Salários atrasados, área social espremida no orçamento de secretarias estranhas.
Chega. Já deu para entender, não é?
O que vemos são polititicos de polititicas com cheiro de pó de pirlipimpim. Precisávamos de consertar o que não estava funcionando adequadamente. Não de dar enormes passos atrás nas nossas conquistas sociais.
Em 2006, há dez anos, a febre do petróleo da Bacia de Campos estava em alta. Dei uma palestra com o título: “Macaé: tempo de evoluir”. Logo após fui entrevistado por pesquisadora da New Castle University (Inglaterra). Estavam realizando um estudo mundial a respeito do impacto da exploração das jazidas no desenvolvimento local. Registrei minha crítica a respeito de como os royalties estavam sendo gastos, sem preparar as cidades com infraestrutura e educação. Comparei o que poderia ser o futuro com uma segunda-feira, nos circuitos de Fórmula 1 e suas vizinhanças: UM VAZIO após muito glamour, ostentação, pessoas interessantes e interessadas circulando com taças de champanhe na mão. O circo passou. Deixou marcas no asfalto e foi-se! Assim estava escrito e escarrado na farra do ouro negro fluminense.
Chega de caô! Tem gente querendo reviver seus bons tempos, acreditando nas reviravoltas propostas por gente sem nenhuma credibilidade.
Estes perdoam os pecadilhos financeiros de corruptos aliados, que poderão fazer as pazes com o leão e usufruir do roubo sem traumas.
Querem dar a entender que precisamos urgentemente de seus heroicos dólares de volta - de onde nunca deveriam ter saído! A pesada conta vai ser rateada. E quem só comeu pão com mortadela vai colaborar com o rombo do caviar alheio.
Aqui no Rio de Janeiro a sensação é de caos.
A quem interessa a apatia gerada por quem se sente impotente?
E na sua cidade, tudo bem?
Foto: do autor: Minha mesa de trabalho há 9 anos - setembro/2006.