Por Ricardo Coelho dos Santos
Existe, no Brasil, preconceito contra as produções cinematográficas nacionais. Muita gente faz expressão de desprezo quando se fala de filme brasileiro. Pode ser uma obra-prima, mas, sendo brasileiro, se fecha a cara. Se prefere ficar em casa assistindo uma novela brasileira do que a uma produção nacional no cinema.
Verdade que há o time dos ufanistas nacionais, aqueles que militam que, se o filme é brasileiro, todos nós temos a obrigação juramentada sob a bandeira de assistir e elogiar o filme. Chauvinismo tão tolo quanto afirmar que somente Hollywood sabe fazer cinema.
Não é bem assim. Como falei, temos obras-primas! Temos “Bye-bye Brasil”, “Central do Brasil”, “A Grande Arte” e, por que não dizer, “Tropa de Elite”.
Há uma razão bem precisa sobre o preconceito encima de filmes nacionais. Temos excelentes atores e diretores, que estão, inclusive, sendo contratados por produtoras de outros países, temos roteiristas fantásticos e câmeras maravilhosos. Temos músicos e técnica. O que está faltando?
Simples! Não temos bons produtores. Temos orçamentos apertados e produções com propagandas explícitas, seja na abertura, seja no desenrolar da trama, que revoltam quem assiste. Quem não achou estranho em um filme dos Trapalhões surgir o boneco símbolo de uma marca de gelatina interagindo entre os personagens principais, numa propaganda escandalosamente aberta? Horrível! Decepcionante!
Ainda hoje, nos filmes nacionais, vemos uma lista das entidades que apoiaram financeiramente a realização colocadas bem na abertura da obra, e não nos créditos finais, onde geralmente as produções estrangeiras colocam.
E, para piorar, como muitas produtoras pertencem a grandes grupos midiáticos atuantes no Brasil, os jornais desses grupos obrigam aos seus críticos elogiarem seus filmes, mesmo que sejam as maiores porcarias. Conversei com um colega crítico sobre um filme estrangeiro, mas com grande apoio de um grupo jornalístico na sua distribuição, estranhando sua atitude, e ele me resumiu a situação: era seu emprego.
Assim, pouquíssimos críticos de cinema conseguem me levar a um filme brasileiro. Para eu ter coragem de gastar meu tempo e meu dinheiro no cinema, preciso ser convencido pelos trailers do filme. Essa é uma propaganda honesta e que acredito. Poucas vezes, um trailer me enganou. E, mais uma vez, pelo que vi com antecipação, não me enganei, não me aborreci e, pelo contrário, saí de alma leve, certo que empreguei muito bem parte dos meus proventos num filme que realmente valeu a pena ter assistido.
Trata-se de “O Vendedor de Sonhos”.
O filme é baseado nos trabalhos do psiquiatra Dr. Augusto Cury, um pensador e escritor de sucesso inegável. Seus livros são vendidos como água e suas ideias simples, mas muito eficazes, são referências de intelectuais que costumam fazer até pose em citá-las, mas não em seguí-las — nada mais contrário que sua filosofia de qualidade de vida! A trama fala exatamente sobre isso e dá um tapa nas teorias gasosas sobre a nossa existência. Perfeito! O filme poderia ser classificado como de autoajuda, sem conotações negativas. Porém, é muito mais que isso. É uma história, são interpretações e uma direção segura, mas com uma produção, para variar, fraca. Isso não afetou, felizmente, a qualidade do filme, mas ficou a sensação que a coisa poderia ter melhorado um pouco.
O diretor do filme é paulista, filho de Maysa Matarazzo, carioca descendente do Barão de Monjardim, antigo presidente da Província do Espírito Santo. Ou seja, uma família com raízes capixabas. Na sua época, Maysa foi cantora de enorme sucesso, arrancando suspiros de fãs de todas as idades. Jayme Monjardim Matarazzo é também um artista bem-sucedido, mas no campo da direção de filmes para a televisão e mais recentemente, para o cinema. Foi membro da equipe do renomado diretor Michelangelo Antonioni para, no Brasil, dirigir novelas como “Terra Nostra” e “O Clone”. Filmou também a vida da sua mãe em 2009, com “Maysa – Quando Fala o Coração”. No cinema, dirigiu “Olga” e “O Tempo e o Vento”.
A interpretação do também paulista Dan Stulbach não trouxe muitas surpresas. Quem conhece seu trabalho, sabe que ele é um grande – não só literalmente – ator de televisão. Suas atuações elogiosas em novelas, na rádio ou no teatro são bem conhecidas. Como quase todos os bem-sucedidos atores brasileiros, suas aparições no cinema são mais raras. Quem o escuta nos programas de rádio de alcance nacional, jamais diria que ele seria capaz de desempenhar um papel tão sério.
E, finalmente, a cereja do bolo: César Troncoso. Esse originário de Montevidéu pode ser visto tanto na recente produção “Elis” como em “O Tempo e o Vento”, “Faroeste Caboclo” e na produção francesa, uruguaia e brasileira, “O Banheiro do Papa”, quatro vezes premiado no Festival de Gramado, inclusive com o Kikito de Ouro para ele, como melhor ator.
A obra tem belos cenários, cenas emocionantes, drama, tristeza, alguma parte cômica e duas passagens arrepiantes para quem tem medo de altura. Portanto, um filme que não deve nada para ser bom – e é bom! Nada de sensacional, mas é daqueles que valem a pena gastar em entradas. Uma bela história – quase um poema! Se quiser economizar, deixe a pipoca e o refrigerante de lado: estão mais caros que o ingresso!
Fonte: Wikipédia, Adoro Cinema
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