Não faz muito tempo, escrevi que há uma grande confusão entre Ficção Científica e Aventura Espacial. A série “Guerra nas Estrelas” é aventura espacial sem ser ficção científica. O belo “Fahrenheit 451” é ficção científica sem ser espacial. Finalmente, “2001 – Uma Odisseia no Espaço” é espacial e ficção científica.
Ficção Científica não é fácil de se fazer. O autor precisa de ter conhecimentos em Ciência e saber imaginar os impactos que ela gera. E ainda tem que contar uma história convincente.
Foi uma grata surpresa o filme “Passageiros”. Com as salas de cinema absurdamente cheias, uma delas, a que exibia o filme na forma dublada, sem mais vagas, o assisti nas vozes originais, que é, realmente, a preferência em quem ama o cinema como arte.
Bom, há alguns erros científicos fundamentais. Tentarei descrevê-los, tentando ao máximo não revelar a interessante trama do filme.
Primeiramente, há uma passagem em que eles tangenciam a estrela Arturo. Esse astro, da constelação do Boieiro, está há pouco mais de 36 anos-luz da Terra (ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano). O filme sugere que eles estavam a 19 anos-luz, o que, portanto, inviabilizaria a passagem por essa bela gigante vermelha (que, pela NASA, seria uma média alaranjada). Além do mais, passar tão próximo a uma estrela variável seria de uma enorme irresponsabilidade ante os passageiros.
Depois, quando eles falam que a viagem duraria 120 anos a bordo da nave viajando à metade da velocidade da luz, o tempo transcorrido de uma viagem de ida e volta, contando com o gasto em aceleração e outros detalhes, não durariam 250 anos como dito pela personagem, mas, minimamente, 277 anos. Está na Teoria da Relatividade.
E, terceiro, na velocidade em que viajavam, eles veriam as estrelas que se aproximam mais azuladas e as que afastam, avermelhadas, pelo que é chamado Efeito Doppler.
Porém, podemos nos ater ao cerne do filme, em si. Os erros mostrados não impactam, de qualquer maneira na narrativa, pois seu tema central continua sendo cientificamente válido. E o tema, interessante dizer, não é citado no filme, mas no trailer: Houve um propósito para que os personagens acordassem antes de chegarem ao destino. Sobre esse propósito, os cientistas estão cada vez mais convencidos de que ele existe para as coisas acontecerem, os segredos da natureza serem descobertos e as revelações surgirem. Nada é ao acaso.
O bom roteiro é de Jon Spaihts, que foi o produtor executivo da película. Ele participou no texto de algumas bobagens como “Van Helsing” e “Prometheus”, mas também escreveu algo interessante como “Dr. Estranho”. Também, está envolvido em “A Múmia”, ainda a ser lançado com boas expectativas. Em “Passageiros”, ele dá um equilíbrio perfeito entre a ficção científica e o romance. Poucos autores conseguiram tal proeza.
A direção ficou a cargo de Morten Tyldum. Esse cineasta norueguês deu um espetáculo de competência tanto visual como na condução do elenco. Ele se tornou nosso conhecido com o maravilhoso “O Jogo da Imitação”, com Benedict Cumberbatch e Keira Knightley.
E o elenco… perfeito! Não posso citar tudo para não acusar as agradáveis surpresas que surgem – e já estou dizendo muito. Mas fixemo-nos no trio principal.
Comecemos com a sempre convincente Jennifer Lawrence, protagonista de vários sucessos como o “Inverno da Alma”, indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2011, as séries “X-Men”, no papel de Mística, e “Jogos Vorazes”, no papel principal. Fez ainda “O Lado Bom da Vida”, em que ganhou o Oscar de Melhor Atriz, “Trapaça”, indicada para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, e “Joy”, que deu a ela a indicação de mais um Oscar de Melhor Atriz. Uma curiosidade: ela faz o papel de Aurora, inspirado em “A Bela Adormecida”, da Disney.
Chris Pratt faz outro personagem central. Esse ator, com muito futuro pela frente, uma vez que se cogita dar a ele o papel de Indiana Jones, foi uma feliz descoberta da atriz Rae Dawn Chong. Perfeito para filmes de ação, pela sua vida de desportista, e para a comédia, pelo seu bom humor pessoal, podemos vê-lo em “Guardiões da Galáxia”, “Jurassic World” e na nova edição de “Sete Homens e um Destino”, além de ter dado a voz ao personagem Emmet, na surpreendente boa animação “Lego Movie”. Ainda vamos vê-lo nas próximas continuações de “Guardiões da Galáxia”, “Jurassic World” e “Os Vingadores”. Com Jenniffer Lawrence, nesse filme, tiveram uma química tão boa que acabaram virando amigos na vida real.
O inglês Michael Sheen faz o papel de um simpático, educadíssimo e perfeito robô. Podemos contemplar seu talento no shakespeariano “Otelo”, na boba série de grande sucesso “Anjos da Noite”, em “A Rainha”, em que faz papel de Tony Blair, “Cruzada”, num papel pequeno, “Diamante de Sangue”, no aclamado “Frost/Nixon”, dividindo os papéis principais com Frank Langella, em “Alice no País das Maravilhas”, o filme de Tim Burton, na voz do Coelho Branco, “Tron: O Legado”, no maravilhoso “Meia Noite em Paris”, de Woody Allen, e no intrigante “A Origem da Vida”.
Vale a pena, portanto, assistir “Passageiros”. Os temas científicos estão apropriados — e não é só aquele acima descrito — e, apesar dos deslizes, a narrativa continua válida!
Fonte: Wikipédia, Adoro Cinema