Por Anaximandro Amorim*
25 de julho é o “Dia Nacional do Escritor”. A data foi fixada depois do sucesso do "I Festival do Escritor Brasileiro", ocorrido a 25/07/1960 pela UBE (União Brasileira dos Escritores), cujo presidente, na época, era Jorge Pererino Júnior e o vice, Jorge Amado. O apoio do Poder Público foi primordial para o sucesso do evento. Assim, o Ministro da Educação da época, Pedro Paulo Penido, oficializou a data por meio de portaria. A despeito de tudo, décadas depois, os escritores nacionais (sobretudo os do Espírito Santo) não têm muito o que comemorar.
Ser escritor em um país de semianalfabetos sempre foi uma tarefa hercúlea. Principalmente quando pouco há (ou quando mesmo não há) qualquer incentivo à leitura. Segundo dados do Ibope de 2016, a média do brasileiro é de cinco livros por ano (em países da Europa, essa média chega ao dobro ou ao triplo). Desses, praticamente metade dessas leituras não foi concluída. 30% das pessoas ditas alfabetizadas (ou seja, que leem e entendem o que leem) jamais comprou livro algum na vida. Falta de incentivo e preço do produto são considerados os maiores motivos para o quadro.
Se a falta de leitores é um obstáculo para o escritor, a dificuldade de se chegar até eles também é outra. Não obstante as razões acima, para se conseguir uma grande editora (com um bom esquema de divulgação e distribuição), o autor nacional já começa a perder para o estrangeiro, cujos títulos dominam as livrarias. Dependendo do gênero, pior ainda (pois, geralmente, há pouco interesse em ficção e textos curso, como conto, crônica e poesia). A coisa piora mais se você for “local” (lê-se: fora do eixo Rio/SP). É o caso dos “autores capixabas”, por exemplo, que nem espaço têm nas livrarias e, quando têm, é no fundo delas.
O livro é, antes de mais nada, uma indústria, que gera emprego e renda, contando, entre o escritor e o leitor, com uma cadeia de vários profissionais (editor, diagramador, corretor, gráfico, distribuidor, livreiro). No Brasil, ela fatura, em média, R$ 5 bilhões/ano (segundo o Snel – Sindicato Nacional de Editores de Livros). No ES, de acordo com estudo da Findes de 2015, ela emprega 1,6 mil profissionais, envolve mais de 200 empresas e movimenta mais de R$ 5 milhões. Apesar dos números, o caso do Espírito Santo conta com um problema interno: a própria legislação. O regulamento do ICMS, nos seus artigos 539 e 544 criam um verdadeiro obstáculo na venda dos livros do autor da terra, culminando por apenar o livreiro.
Ler é um exercício e, como tal, é necessária a prática para se manter em forma. Toda ajuda é fundamental. Primeiro, com o imprescindível incentivo dos Poderes Públicos. Vejo a proliferação de editais como algo positivo, ainda que longe do ideal. Da mesma forma, as leis de incentivo à publicação que, certamente, precisam, agora, contar com divulgação. Segundo, o incentivo dos pais e professores. Crianças aprendem por exemplos. Pais que leem geram filhos leitores e, na falta deles, o papel do educador é fundamental. A melhor forma de se homenagear um escritor é ler seus livros. Independente do dia.
*Advogado e Escritor; publicado também em www.anaximandroamorim.com.br