Três Pontos Determinam um Plano, mas sem admitir instabilidades. Produção, Distribuição e Exibição.

Por Tulio Bambini*
Encontrei com aquele meu amigo vendedor de perfumes no Bar do Luiz, ali na rua da Carioca, centro do Rio de Janeiro. Fundado em 1887, um pouco antes dos irmãos Lumiére mostrarem o primeiro filme da chegada do trem lá em Paris. Andando pelo cenário triste de lojas fechadas, cabe perguntar quantas idas e vindas econômicas foram discutidas nessas mesas do Bar do Luiz?
O Cinema nasceu em 1895 como curiosidade científica, o ápice de uma lógica positivista industrial. Em oposição a aristocrática ópera, andou se mostrando em feiras, cabarés e em outros lugares escuros, enquanto a Rússia usava o cinema como arma didática, Meliés mostrou o lado de sonho, com suas viagens a lua e pequenos demônios, desenvolveu um repertório e dali o cinema de ficção saiu em busca de mercado. Por volta de 1910 já existia uma infraestrutura de fazer, distribuir e exibir filmes. Corpo técnico-artístico para realizar, gente para distribuir e salas para exibir para um público ávido por consumir. Desde o início Gaumont sabia que deveria dominar esse tripé: possuir a câmera, o projetor e tudo mais q importasse a eles. Essa lógica continua firme e forte mesmo nos dias de pulverização digital de TV´s espertas e o NetFlix.
O nosso cinema brasileiro sempre deixou a desejar no balanço destas três pontas. Sejam nos ciclos primordiais de Minas e Pernambuco, no escracho das produções da Atlântida ou no rigor técnico dos filmes da Vera Cruz, quando se tinha duas pontas, falhava o terceiro e como bem sabemos, uma mesa com três pernas não balança, mas não admite grandes instabilidades senão ela não fica em pé. Filmes são feitos sem ter quem os distribua, quando tem quem distribua não tem quem exiba e assim seguimos nessa comédia de erros. Nos anos 50 o cinema mexicano chegou a ter salas mundo afora, aqui no Rio de Janeiro tinha o Azteca, no Catete que funcionou entre os anos 50 e os meados dos anos 70. O cinema pode estar esquecido, mas Cantinflas, Marga, Sarita e Yolanda entraram em nossas cabeças e o Chapolim não nos deixa esquecer.
Sabendo que no Brasil todo existem em torno de 3 mil salas e cada arrasa quarteirão americano quando chega aqui entra em 500 destas salas, a tal janela de qualidade está cada vez mais concorrida para sua exibição. Cabe então perguntar: Quem quer exibir filmes do Brasil no Brasil?
Tony me deixou com a conta e eu comprei o Kit de Vendas Júnior de Perfumes. Me cobrou no cartão em 6 vezes sem juros.
* É carioca, filho dos anos 60. Graduado em Física na Universidade Federal Fluminense e em Cinema pela Universidade Estácio de Sá. Lutou Judô e sabe tocar bateria.
tmbambino@hotmail.com