Parte 1: Azul é a cor mais quente!

Por Túlio Bambino*
LALALAND – Um pouco de música, cinema e devaneio em dias de muito calor.
O calor ensurdecedor do Rio de Janeiro entre dezembro e março contribuem em muito para você ir à praia ou a algum shopping para se refrescar, matando tempo em um Starbucks ou melhor ainda em uma boa sala de cinema.
Neste fim de semana fui assistir o pule de 10 para o Oscar de melhor filme e outros muitos carecas de ouro em tecnicalidades e dramaturgia de som e imagem. Merecidamente. O filme é uma grande homenagem em metalinguagem ao cinema e a boa música americana de improvisação e genialidade: o jazz.
Sim é uma história de amor, da garota que serve café e deseja ser atriz e de um cara um absolutamente fanático por Jazz. Sim, o filme é um musical, aquele gênero que nos remete ao pior do Elvis Presley e do pobre Havaí ou a antiguidades tipo Gene Kelly e Fred Astaire. Não eu não queria assistir, mas o bom filme de baterista (Whiplash) e o suspense (Rua Cloverfiled 10), dão muito crédito ao jovem diretor Damien Chazelle. E o garoto é um craque.
O filme é sobre filme, tem textura de filme em tempos digitais e usa artifícios de luz para contar história na tela. Várias citações explícitas e em contrabando sagaz de filmes, atores, atrizes e boa música. Ele liga e desliga a câmera muito pouco, faz isso para contar história. A cena de abertura do engarrafamento te coloca em cima do cavalo dançante e te permite um batuque ou outro, mas a tela te fagocita.
A História trata daquilo que foi e daquilo que poderia ter sido. Isso é mostrado de maneira elegante e sincera, você torce pelo casal sem tomar grandes partidos, por um ou por outro e isso é uma marca da nossa contemporaneidade, todo mundo querendo ser bonito e de bem com a vida, mesmo que ela não te retorne tão bem assim.
Esse dia no Shopping foi o dia da pílula azul. Lembra de Matrix? Morfeus (Laurence Fishburne) oferece para Neo(Keanu Reeves) a chance de escolher entre tomar uma pílula azul ou uma vermelha. Tomando a azul, Neo voltará à sua ilusória e superficial vida; se optar pela pílula vermelha, conhecerá a verdade que está por detrás do mundo que julga ser real.
A pílula Vermelha do momento é o novo filme de Ken Loach. Eu, Daniel Blake. Também assisti nesse fim de semana. E ele corta toda a vontade de dançar que La la land te induz.
Na sequência.
*É carioca, filho dos anos 60. Graduado em Física na Universidade Federal Fluminense e em Cinema pela Universidade Estácio de Sá. Lutou Judô e sabe tocar bateria.
tmbambino@hotmail.com