Por Guilherme Henrique Pereira
Mesmo muito distante do conhecimento da ciência política, ouso em propor que esqueçamos essa mania brasileira contemporânea de classificar os partidos e pessoas como de esquerda e de direita. Acho que na nossa realidade contemporânea isso é uma tremenda besteira. Proponho uma classificação assim, pegando, em parte pelo lado das bandeiras defendidas:
1) Discurso moderado – os que fazem a defesa da bandeira em evidência dentro do campo liberal. Isto é, atuam na defesa dos interesses do segmento empresarial, principalmente do sistema financeiro, mas, selecionam as propostas que consideram mais aceitáveis pelos eleitores que quer conquistr;
2) Discurso radical - Defesa das propostas mais extremas do campo liberal de forma autoritária, podendo admitir até o uso das armas. Nesta campanha de 2018, estão dizendo que a prioridade é o combate a corrupção. Porém, todos que se derem ao trabalho de relembrar nossa história se defrontarão com o fato inarredável de que todas as vezes que o brasileiro caiu nessa conversa a população sofreu muito porque o país entrou em graves crises. Vale lembrar os mais recentes: Michel Temer, Collor de Mello e Jânio Quadros.
3) Discurso da igualdade - Bandeira de mudanças importantes na distribuição da renda, na oferta de serviços públicos de qualidade e novo perfil do gasto público, mais recursos para pobres e menos para os banqueiros.
Uma classificação desprovida de método científico, mas penso que ela é útil para deixar de lado as expressões que não significam mais nada por aqui e nesse momento. Ao mesmo tempo, entender melhor a profusão de ruídos que o debate político atual causa em nossos ouvidos.
Olhando para a lista de candidatos como poderíamos enquadrar os nossos 19 candidatos?
Apesar de tantos candidatos, não teremos grandes surpresas. Na ala Moderado deve se destacar o Alkmin, com possibilidade forte de ir ao segundo turno, se seus problemas com a justiça não o impedir.
Na ala Radical, hoje, destaca-se o Bolsonaro, mas, isso não deve prevalecer dado o seu grande despreparo para o debate. Muito provavelmente o Joaquim Barbosa seja o mais votado nesse grupo, embora não trazendo a cor da violência estampada no rosto, isso porque será o destinatário de todos os votos meio perdidos, isto é de pessoas que, infelizmente, ainda detêm pouco informação sobre economia e sociedade brasileiras, logo, ainda professam baixa convicção do que querem para o Brasil ou, ainda, aquelas que apelaram para a perigosa ideia cirúrgica. “Tem que ser na porrada....." Improvável que essa ala tenha representante no segundo turno, o que será muito bom para o país, nesse cenário de que ficaremos com o menos pior. Também é possível JB atropelar Bolsonaro, assumir ares moderados e ir para o segundo turno se o picolé de xuxu derreter.
Na ala da Igualdade temos como grande esperança e seguramente um promissora liderança o Guilherme Boulos, já que o Lula não deixou herdeiro viável eleitoralmente nesse momento. Manuela D'Ávila indo pelo mesmo caminho. Seguramente não é o mais adequado colocar nessa ala, Cyro Gomes e Alvaro Dias. Mas, para as eleições de 2018, dado a narrativa que fazem em seus palanques, penso que eles capturarão os votos dos eleitores que não gostam dos candidatos destaques das outras alas ou pensam que Boulos e Manuela não têm chance de segundo turno. Assim, para não perder o voto....quem sabe ..... e diz assim: esse parece que fala algo próximo com o que penso. Essa ala pode ter um dos dois no segundo turno, até porque atrairão também o voto do PTista resistente, mesmo não sendo eles legítimos representantes.
Para concluir esse exercício do livre pensar, cabe registrar a observação de que a eleição do Presidente é muito pouco na verdade. No nosso sistema é o parlamento, aliás, em praticamente todas as democracias que sustentam o capitalismo mundial, quem faz as Leis, aprovam as políticas e podem até construir narrativas fakes para destituir o presidente, já que o impeachment é um julgamento político. Portanto, não devemos ser enganados pela esperança ingênua de que elegendo o Presidente considerado, na visão de cada um o ideal, estaremos com todos os nossos problemas resolvidos. Na verdade, temos que priorizar o debate e refletir muito sobre o nosso voto para o legislativo. O atual Congresso talvez seja o pior de nossa história, tanto é que sustenta um presidente envolvido em muitas denúncias de crimes, ainda não julgados só porque esses deputados o acobertaram. Se desejamos que o Brasil comece a sair da crise atual, o primeiro passo é renovar intensamente a composição do Congresso.