Por Erlon José Paschoal
Grupos de pessoas vestidas com a camisa verde-amarela da CBF gritando ensandecidas palavras contra a liberdade de expressão e de gêneros, como zumbis correndo em direção a um precipício; espancamentos diversos cometidos por fascistoides gritando o nome de seu candidato, que só fala em armas, em assassinatos e apoia explicitamente o racismo, a ditadura militar, a tortura, além de menosprezar às claras as mulheres e os homossexuais, o que nos faz lembrar da obra “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago; um desejo imoderado de sangue, de violência, de carnificina, manifestado aos altos brados; as classes abastadas achando “chic” ser de direita, ter nojo de pobres e de negros, pregar o assassinato dos párias, indesejáveis e desajustados, e enaltecer o uso de armas....como chegamos a este cenário tétrico e horripilante? Qual o fio da meada de nossa História que tornou possível tamanha excrescência? Como e por que pessoas aparentemente honestas e pacíficas se transformaram em seres vis, sanguinários, canalhas e vingativos?
Em outras palavras, o que houve com o Brasil? Vejo diariamente um monte de Pilatos lavando as mãos e fechando os olhos para o arbítrio e para a barbárie, aceitando um ser eticamente execrável, que louva a ditadura e tem como ídolo um dos maiores torturadores e assassinos da História brasileira, como o próximo presidente de um país que há pouco era a 6ª economia do planeta e havia atingido a sua soberania frente às grandes potências! O que houve?
O crime organizado está dando, sem dúvida, passos importantes para se consolidar dentro da estrutura de poder de um país governado por bandidos golpistas e seus comparsas fundamentalistas, que ocupam templos suntuosos recheados de dinheiro, em conluio com os grandes agro-latifundiários e seus comparsas da mídia sórdida e mau-caráter. Um exemplo digno de espanto é que o advogado careca do PCC, um suposto agente duplo, multiplicador de dinheiro e plagiário, assumiu um cargo importante na justiça para defender quadrilhas parceiras e cúmplices, sob o silêncio conivente de todos. Trata-se de uma derrota ainda inimaginável para os valores democráticos, os direitos sociais, a cidadania e a ética no Brasil.
O que muitos se perguntam é: haveria algum meio de reverter este quadro aterrador que ameaça colocar o país em uma encruzilhada ditatorial e arbitrária por décadas, ampliando a miséria e a desigualdade social, intensificando conflitos, deteriorando as instituições e provocando o caos generalizado? Os interesses norte-americanos neste cenário de uma realidade esfacelada são evidentes, seja pela sua atuação na operação farsa a jato, a fim de desestabilizar setores estratégicos da economia brasileira, seja por sua participação ativa na eleição do candidato militar. A sede de domínio do petróleo pelos yankees – afinal a Venezuela tem uma das maiores jazidas do mundo e o pré-sal brasileiro com sua gigantesca acumulação de óleo leve de excelente qualidade tem um alto valor comercial – é uma explicação plausível, mas deixa dúvidas quanto a imensa facilidade com que esta dominação foi executada. Será que temos por aqui realmente uma elite canalha que despreza o próprio país e o seu povo, e o entrega assim de bandeja aos interesses estrangeiros sem quaisquer escrúpulos, como em uma republiqueta das bananas da pior espécie?
É de fato estarrecedor constatar que muitas pessoas, que lutaram bravamente contra a ditadura militar e pela restauração da democracia, aceitem hoje passivamente a possível tomada de poder por seres que desprezam a democracia e a justiça social, que pouco se importam com os destinos do país e com a vida de sua população! Observar como a mídia hegemônica assiste a tudo como se fosse imparcial, embora tenha contribuído de maneira decisiva para esta derrocada dos valores democráticos e do convívio social mais equilibrado, é algo revoltante. Tornou-se enfim uma fábrica de fakenews visando à destruição da oposição no país – como se isso fosse possível – e perdeu-se nesta rede de ódios, intrigas, inverdades, pós-verdades e mentiras.
De qualquer modo é preciso lutar, lutar sempre, pois a conquista da democracia, da justiça e da dignidade humana sempre foi uma luta sem fim. Se vier o apocalipse jurídico-midiático-militar, que nos preparemos para combate-lo com astúcia, inteligência e determinação.
* Gestor cultural, diretor de teatro, escritor e tradutor de alemão.